Revista Lavoura Arrozeira - edição 463

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Volume 62 | Nº 463 • Outubro/novembro/dezembro 2014

Capacitação

Pesquisa e extensão

Relações internacionais

Novos funcionários recebem qualificação

Com investimento, setores crescem na autarquia

Porto Alegre sedia conferência para América Latina e Caribe

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NOVAS CULTIVARES IRGA. VOCÊ COLHE MAIS QUANDO PLANTA INOVAÇÃO. O IRGA desenvolveu três novas cultivares de arroz: IRGA 424 RI, IRGA 429 e IRGA 430. Produzidas através do programa de melhoramento genético do Instituto, as sementes foram especialmente projetadas para o solo gaúcho e apresentam alta produtividade, qualidade industrial e resistência a estresses bióticos e abióticos. Com a nossa tecnologia, sua colheita rende muito mais.

IRGA 424 RI Desenvolvida para ser utilizada no controle de arroz vermelho e com alto potencial de produtividade.

IRGA 429 Adaptada ao cultivo de arroz pré-germinado, apresenta resistência ao acamamento de plantas e tolerância à toxidez por excesso de ferro.

IRGA 430 Com ampla adaptação às diferentes regiões do Estado, apresenta ciclo precoce e excelente padrão de qualidade dos grãos.


A revista Lavoura Arrozeira é uma publicação do Instituto Rio Grandense do Arroz Av. Missões, 342 - Porto Alegre (RS) – Brasil CEP 90230-100 / Fone (51) 3288.0400 www.irga.rs.gov.br www.facebook.com/IrgaRS - @IrgaRS ISSN: 0023-9143

Governador do Estado: Tarso Genro Vice-governador: Beto Grill Secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio: Claudio Fioreze Presidente do Irga: Claudio Fernando Brayer Pereira Diretor Comercial: Elói José Thomas Diretor Técnico: Rui Ragagnin Diretor Administrativo: Paulo Renato Sampaio Chefe de Gabinete: César Marques Assessoria de Comunicação: Caroline Freitas, Marlise Mattos, Luciara Schneid, Telmo Motta, Rossana Vecchio e Sérgio Pereira

Atendimento ao Leitor: revista@irga.rs.gov.br (51) 3288.0455

Para assinar gratuitamente a revista Lavoura Arrozeira acesse: www.irga.rs.gov. br/assine . É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do veículo.

os últimos quatro anos, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) teve uma carga intensa de trabalho e obteve vitórias importantes. Na nossa matéria de capa, o leitor conhecerá a trajetória que levou ao cenário que temos hoje, com preços estáveis, alinhamento entre os elos da cadeia produtiva e espaço para dialogar com entidades governamentais. Ao mesmo tempo em que mantivemos os pés fincados na terra e buscamos abastecer e ampliar o mercado interno, nossos olhos estiveram sempre fixos no horizonte, mirando as exportações, objetivo que se concretizou a partir de 2012 com o Brazilian Rice. Também para garantir a renda do produtor, o Irga tratou a rotação de culturas como uma bandeira. Nesta edição, é possível observar a evolução desse projeto. O Irga encerra 2014 com o pacote fechado para difundir a rotação e a integração lavoura-pecuária, desde uma variedade de soja adaptada ao sistema, até tecnologias de drenagem, irrigação e semeadura. Essas novidades são levadas aos produtores pela Extensão Rural, cujas conquistas também estão registradas aqui.

E é por isso que o instituto investe fortemente em seus profissionais, especialmente na capacitação dos novos concursados. Nosso objetivo sempre foi que os treinamentos contemplassem todas as etapas do processo produtivo. O Irga também buscou olhar para o consumidor final do produto, por meio do Programa de Incentivo ao Consumo, que nos últimos quatro anos levou toneladas de arroz a diversos municípios gaúchos. As conquistas não ficam apenas no passado. O Irga termina o ano já com dois grandes eventos programados para iniciar 2015: em fevereiro, acontece a 12ª Conferência Internacional de Arroz para a América Latina e Caribe e o 1º Dia de Campo Internacional da autarquia. Chamamos, então, produtores, técnicos, pesquisadores e demais interessados a participar e fazer parte da nossa história também no ano que se segue. Aproveitamos para desejar boas festas, um excelente final de ano e um ótimo 2015. Boa leitura!

Foto: Eduardo Rocha

Coordenação editorial: Luciara Schneid – Mtb 7.540 Produção e execução: Cartola – Agência de Contéudo Edição: Márcia Schuler – Mtb 16.266 Reportagem: Cintia Fragoso Ramos, Emilene Lopes, Iarema Soares, Juliana Matte Winge, Márcia Schuler e Samuel Lima Colaboração: Alessandro Queiroz, Antonio Siebeneichler, César Marques, Cleusa Amaral, Glauco Freitas, Sérgio Lopes, Pablo Badinelli e Rodrigo Schoenfeld Projeto gráfico: Ulisses Romano (Visual Agência – Comunicação e Design) Diagramação: Ulisses Romano (Visual Agência – Comunicação e Design) Capa: Arte sobre foto - Shutterstock Impressão: Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag) Tiragem: 12 mil

Lutas e conquistas N

Claudio Pereira Presidente do Irga

Índice Foto do leitor......................................... 4 Convênio..................................................5 Curtas.........................................................6 Produção..................................................8 Capacitação.........................................11 Pesquisa e extensão........................14 Relações internacionais ...............18 Clima........................................................22 Palavra do produtor.........................24

Capa.........................................................28 Consumo...............................................34 Receita....................................................40 Artigo técnico.....................................41 Tecnologia............................................44 Expointer...............................................50 Pelos Nates...........................................52 Almanaque...........................................54

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Foto do leitor

Imagens da região Central do Estado são as

favoritas do público

A

paisagem colorida da lavoura de arroz clicada por Leila Bartz, de Dona Francisca, na região Central do Estado, é a vencedora desta edição do Concurso Cultural Sua Foto na Revista Lavoura Arrozeira. Na sequência, as plantas capturadas de perto por Juliana

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Lorensi em três imagens de Santa Maria, na mesma região, conquistaram o público. Nesta seção, são publicadas as quatro imagens mais curtidas na página do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) no Facebook (Irga RS). Para participar do concurso,

envie suas fotos para revista@irga. rs.gov.br. Os leitores podem enviar até cinco fotos que retratem o dia a dia, a paisagem e as peculiaridades da lavoura arrozeira. O regulamento completo pode ser consultado no site www.irga. rs.gov.br.

1º lugar: foto de Leila Bartz, de Dona Francisca (RS)

2º lugar: foto de Juliana Lorensi, de Santa Maria (RS)

3º lugar: foto de Juliana Lorensi, de Santa Maria (RS)

4º lugar: foto de Juliana Lorensi, de Santa Maria (RS)

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Convênio

Irga e Basf fazem parceria para

inovação técnico-científica Acordo de cooperação prevê pesquisa, difusão e transferência de tecnologias relacionadas ao sistema Clearfield®

Foto: Luciara Schneid

O

Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) deu mais um passo em direção à inovação científica e tecnológica. Em setembro deste ano, a autarquia assinou um convênio de cooperação técnico-científica com a multinacional alemã Basf, que produz desde químicos até produtos de performance e para proteção de cultivos. A parceria prevê pesquisa, desenvolvimento, difusão e transferência de tecnologias, incluindo projetos relacionados à tecnologia Clearfield®, que combina o uso de variedades com resistência aos herbicidas Only e Kifix, fabricados pela empresa. O documento foi assinado pelo presidente do instituto, Claudio Pereira, e pelo diretor de vendas sul da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Clairton Silva. Para Pereira, a cooperação demonstra a preocupação do Irga no desenvolvimento de tecnologias - a autarquia busca sempre o que há de mais avançado no setor e, por isso, procurou se aliar à Basf, referência em soluções para a agricultura mundial. “Essa parceria amplia nossas possibilidades tecnológicas na área do arroz, pois se trata de uma grande empresa com acesso à biotecnologia. Este ano, com o uso da tecnologia Clearfield®, tivemos um aumento significativo da nossa produtividade”, aponta o presidente.

O acordo foi assinado por Clairton Silva (E), da Basf, e pelo presidente do Irga, Claudio Pereira Não é, contudo, a primeira vez que o instituto e a multinacional se unem em prol da inovação. Uma parceria anterior entre Basf e Irga resultou no desenvolvimento do Sistema de Produção Clearfield®, em uma pesquisa iniciada em 1996. A variedade foi lançada em 2003 para combater o arroz vermelho, invasora que atinge aproximadamente 70% da área de arroz no Estado. “É importante destacar que a Basf e o Irga estão trabalhando em conjunto para desenvolver novas tecnologias, novos produtos e novas variedades que garantirão aos agricultores a sustentabilidade da orizicultura a médio e longo prazo”, destaca o diretor da Basf. Ele ressalta a importância do uso de sementes certificadas e produtos recomendados e registrados para a cultura do arroz, como forma de assegurar a origem e a qualidade do produto final que chega à mesa do consumidor.

O secretário de Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Claudio Fioreze, também esteve presente na solenidade, aproveitando para destacar o trabalho realizado e os avanços obtidos pelo Irga nos últimos quatro anos para o desenvolvimento da cadeia produtiva de arroz. Fioreze considera que a autarquia trata suas relações de parceria de forma democrática, contemplando de produtores de arroz agroecológico a grandes indústrias e empresas, como a multinacional alemã. Para o secretário, a retomada da cooperação entre o instituto e a Basf traz segurança jurídica para ambas as instituições e beneficia os produtores de sementes e de arroz. “Destaco a capacidade do instituto de dialogar e do respeito com todos, o que se constituiu na sua marca nestes últimos quatro anos e possibilitou a implementação de ações através de políticas públicas”, diz.

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Curtas

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) recebeu novos concursados no segundo semestre deste ano. Em agosto, 13 funcionários tomaram posse: sete engenheiros agrônomos, três alocados na Estação Experimental do Arroz, em Cachoeirinha, e os demais para os Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nates) de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São Borja e Restinga Seca. Assumiram ainda duas administradoras e quatro assistentes administrativos, que fazem parte da sede do Irga, em Porto Alegre. Em setembro, cinco novos funcionários ingressaram, sendo três técnicos superiores administrativos, um técnico superior

Foto: Luciara Schneid

Novos concursados do Irga tomam posse

orizícola e um assistente administrativo. Em outubro, outros cinco (foto) começaram a atuar na autarquia, sendo três assistentes administrativos, um técnico superior orizícola e um técnico superior administrativo. Outros cinco assumiriam em novembro, somando 113 aprovados no concurso realizado em agosto de 2013 que já estão atuando no Irga.

O presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Claudio Pereira, falou a produtores e técnicos durante o seminário Rotação de Culturas e Perspectivas para a Lavoura Arrozeira, promovido pela autarquia em conjunto com Aeapel e Embrapa durante a 88ª Expofeira de Pelotas, realizada em outubro. O secretário estadual da Agricultura, Claudio Fioreze, participou da abertura. Pereira falou sobre a sustentabilidade da lavoura de arroz e os benefícios técnicos, agronômicos e econômicos que a rotação com a cultura da soja trouxe ao produtor. Além desse, o Irga promoveu outros debates, como o painel Integração Lavoura-Pecuária em terras baixas. O responsável pela Re-

Foto: Luciara Schneid

Orizicultores debatem soluções para cadeia produtiva

gional Zona Sul, André Oliveira, conta que todos os eventos tiveram a participação de 60 a 70 pessoas, entre produtores, técnicos e pesquisadores.

Festival incentiva integração entre Brasil e Uruguai Exposição e degustação de vinhos, feira de agricultura familiar, comida de rua, artesanato local, visitas a vinícolas e debates foram algumas das atrações do Festival Binacional de Enogastronomia e Produtos do Pampa, realizado paralelamente de 30 julho a 9 de agosto em Santana do Livramento, no Brasil, e em Rivera, no Uruguai. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) participou do evento, e o presidente da autarquia, Claudio Pereira, e o coordenador da Câmara Setorial do Arroz do RS, César Marques participaram do debate Sustentabilidade da Integração Arroz-Pecuária no Cone Sul. Cléo Amaral, nutricionista do 6

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Irga, ministrou a aula-show Arroz de leite: sua história e muitas versões. No espaço Comida de Rua, foi possível provar o arroz de leite preparado por Cléo no trailer do instituto. A equipe de gastronomia ainda serviu degustações de risoto para mais de 300 pessoas, como parte do Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz. O festival foi promovido pelo Governo do Estado, Irga, Vinhos do Brasil e Instituto Brasileiro de Vinhos, com apoio do Comitê Binacional de Intendentes, Prefeitos e Alcaldes da Fronteira Brasil-Uruguai, universidades, entre outras entidades.


Curtas

Foto: Divulgação /IRGA

Santa Maria recebe curso de rotação de culturas

A região de Santa Maria recebeu o Curso de Rotação de Culturas em Solos Arrozeiros, uma realização do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da CCGL Tecnologia. O evento aconteceu nos dias 26 e 27 de agosto, e cerca de 100 pessoas estiveram presentes, entre a equipe técnica da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) da autarquia e produtores de sementes licenciados da CCGL. O primeiro dia abordou temas como contextualização da rotação de culturas em solos de várzea no Rio Grande do Sul, escalas de crescimento e fenologia da cultura da soja, manejo de plantas daninhas da cultura de soja, fertilidade do solo e adubação da cultura da soja, diagnose e manejo de doenças da cultura da soja e diagnose e

manejo de insetos das culturas de soja. Para encerrar, o primeiro dia contou com uma atividade extra, a palestra GD Arroz: programa baseado em graus-dia para estimar a data de diferenciação da panícula (DP) visando à adubação nitrogenada em cobertura, com Silvio Steinmetz, da Embrapa Clima Temperado. Já no segundo dia de capacitação, os especialistas falaram sobre ecofisiologia e manejo de cultivares de soja recomendadas para as terras baixas do Rio Grande do Sul, produção e distribuição de sementes de soja no escopo do convênio IRGA/CCGL TEC, manejo da cultura da soja em várzea, fenologia e exigências climáticas da cultura do milho e manejo da cultura do milho em solos arrozeiros.

Foto: Divulgação /IRGA

Encontro reúne produtores de sementes

De 11 a 13 de agosto, aconteceu em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Estado, a terceira edição do Encontro de Produtores de Sementes e Treinamento

de Responsáveis Técnicos. O evento tratou de temas como legislação, tratamento industrial, manejo e novas tecnologias. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) integrou a palestra A produção de soja na metade sul - através do convênio IRGA CCGL Tec, e o engenheiro agrônomo Athos Gadea moderou o painel SIGEF e Programa Mapas de produção/MAPA. Os profissionais da autarquia são os responsáveis técnicos pela produção, análises em laboratórios e certificação de sementes de arroz das seis regiões orizícolas do Estado, por isso assistiram a painéis, palestras e debates que tinham como objetivo a melhoria do setor, assim como maior rendimento e produtividade.

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Foto: Robespierre Giuliani

Produção

Safra 2014/15 deve ter 1,115 mi de hectares cultivados A estabilidade dos preços e os mananciais cheios devem consolidar o cenário positivo para o orizicultor e garantir uma boa produção

C

om o mercado estabilizado, o produtor de arroz deve ter um ano de consolidação do cenário positivo. O plantio, que teve início em setembro, avança mais lentamente do que nos últimos anos devido ao excesso de chuvas. A previsão de El Niño, com precipitações e temperaturas acima da média durante a primavera, porém, não deve intimidar o orizicultor que conseguiu realizar o preparo antecipado, graças a uma boa janela climática 8

antes do período de semeadura. A previsão é de que na época da floração - entre o final de dezembro e o início de janeiro - o clima seja favorável para a cultura, com bastante sol e calor (veja a previsão completa na página 22). Assim, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) estima a área para a safra 2014/15 em 1,115.958 milhão de hectares, contra 1,120 milhão de hectares em 2013/14, o que representa uma elevação de 0,11%. “Esta-

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mos registrando uma estabilidade na intenção de plantio, o que reflete uma maturidade maior do produtor, que já pensa na sua renda no futuro, regulando a oferta. Outra questão é que estamos próximos a uma área limite no que se refere à disponibilidade hídrica no Estado”, explica o presidente do Irga, Claudio Pereira. Se por um lado o excesso de chuvas aumenta a disponibilidade hídrica, fundamental para a cultura, por outro, deixa o orizicultor apreensivo


Produção

com o estabelecimento da lavoura. O produtor, segundo Pereira, está preocupado em realizar o plantio dentro da janela indicada. Outra questão que inquietou os orizicultores até outubro foram as especulações em função das eleições governamentais e presidenciais. “O debate político-eleitoral não traz nenhuma certeza ao produtor, o que gera insegurança”, destaca o presidente. Contudo, uma vez que os governantes já foram escolhidos, é possível ter uma ideia da linha das ações governamentais e as posturas frente ao setor. Para o diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin, são dois os principais pontos que indicam um ano favorável para o cultivo do cereal: a estabilidade dos preços e os mananciais cheios. “Podemos afirmar sem dúvida que este será um ano de consolidação da lavoura orizícola no Estado. Com preços remunerativos e boa disponibilidade hídrica justamente na época mais crítica de desenvolvimento das plantas, tudo indica um ano positivo ao agricultor”, destaca Ragagnin. Se tudo correr dentro do esperado, a expectativa de safra é de 8.200 milhões de toneladas no Estado. Este montante fica acima dos 8.116 milhões de toneladas colhidos na temporada anterior, mas em linha com as duas últimas safras.

Aumenta rotação com a soja Um dos pontos de destaque neste ano é a estimativa de aumento de 5,8% na área em rotação de culturas, especialmente com a soja. “Acreditamos que estamos chegando perto de um ponto de estabilidade em relação a essa área, mas ainda há espaço para crescimento”, pondera Ragagnin.

Já Pereira acredita que, em breve, o aumento na produção da oleaginosa se dará, principalmente, pela difusão da tecnologia para a cultura, o que deve ter impacto significativo nos rendimentos. “O uso de soja é muito importante para dar mais estabilidade aos preços, mas também para ajudar a combater pragas como o arroz vermelho, o que reduz o gasto com venenos”, explica o presidente do Irga. A expectativa para este ano é que haja 320 mil hectares da oleaginosa cultivados em terras orizícolas - ela vem ganhando espaço também na metade sul do Estado. No último ano, foram 287 mil hectares culti-

O custo da lavoura orizícola aumentou, mas segue dentro da normalidade

vados com a soja. Com a oleaginosa também disponível, o produtor pode escolher o melhor momento para vender seu arroz, pois não fica descapitalizado. Esse quadro permite que ele se planeje antecipadamente, adquira seus insumos com um preço melhor e possa barganhar mais. Assim, é possível diluir o custo de produção e garantir uma lucratividade melhor. Além disso, há cerca de 200 mil hectares de resteva de soja que devem ser cultivados com arroz, o que é considerado preparo antecipado de solo. Assim como nos outros anos, o custo de produção da lavoura orizícola apresentou elevação, mas Pereira considera que o aumento foi dentro da normalidade, e

Ragagnin acredita que a elevação está dentro do processo inflacionário natural. Todos os anos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) debate a questão com a entidade, visita regiões produtoras e conhece a realidade do campo para analisar se o preço mínimo condiz com o custo de produção, com o objetivo de garantir uma margem mínima de lucro ao produtor. Pereira projeta que os custos dos insumos devem retrair nos próximos meses, especialmente devido aos preços da soja. Se a safra confirmar as expectativas, o Irga projeta as exportações entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de toneladas para 2014/15. Pereira afirma que, se o dólar subir mais, o produtor pode exportar mais, mas a prioridade é o abastecimento interno. O consumo nacional tem orbitado em torno de 12 milhões de toneladas nas últimas temporadas e deve seguir nesse patamar. Após atender à demanda interna, o restante da safra deve ficar disponível para exportação. O presidente do Irga ressalta que o mercado vem exigindo cada vez mais produtos de qualidade e sendo mais seletivo com suas escolhas. A venda para outros países também tem sido um ponto-chave para a estabilidade do mercado. Por outro lado, o desestímulo à importação - através de vantagens fiscais a empresas que beneficiam o produto nacional - vem funcionando e refletindo no fluxo de entrada do grão no país. Enquanto em agosto de 2013 foram importadas 70,9 mil toneladas, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no mesmo mês de 2014 esse montante foi de 59,05 mil toneladas.

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Produção

Preço mínimo revisado

Há um ano, a saca estava cotada a R$ 33,71 e há um mês a R$ 36,16. “Se o mercado está aceitando este preço hoje, é porque ele tem condições de pagar. A partir do momento que este preço impacta na inflação, o governo tem mecanismos para intervir”, explica o presidente. Ele destaca que, mesmo que o governo não tenha muito do grão em estoque, ele deve intervir no mercado caso haja uma elevação acentuada dos preços, como forma de conter a inflação. Exemplo disso são os leilões de venda dos estoques públicos

Após cinco anos sem reajuste, o preço mínimo foi revisado já para esta safra. No caso do arroz longo fino em casca, tipo 1-58/10, o preço mínimo da saca de 50 kg aumentou de R$ 25,80 para R$ 27,25, reajuste de 5,62% para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porém, o mercado vem praticando um preço médio de R$ 36,17 a saca de 50 kg (valor referente à metade do mês de outubro).

durante o mês de outubro, ocorridos em consenso com os elos da cadeia. “As decisões de estoques, valores, período, volumes, tudo tem sido trabalhado entre todos os setores. Isso é muito interessante, porque atende às demandas do produtor, da indústria e do consumidor”, aponta Pereira. O mercado de arroz é de forte intervenção governamental, tanto quando cai e se compra, tanto quando sobe e se vende. Para Pereira, a administração dos estoques do governo tem sido feita de maneira mais transparente nos últimos anos.

Evolução da semeadura no RS (% da área projetada) 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0

Produtividade média obtida

40,0 30,0

2010/11 (7.660kg/ha)

20,0

2011/12 (7.440 kg/ha)

10,0

2012/13 (7.427 kg/ha)

2010/11 (7.660 kg/ ha)

2011/12 (7.440 kg/ ha)

2012/13 (7.427 kg/ ha)

30/out

28/out

26/out

24/out

22/out

20/out

18/out

16/out

14/out

12/out

10/out

08/out

06/out

04/out

02/out

30/set

28/set

26/set

24/set

22/set

20/set

0

2013/14 (7.289 kg/ ha)

2013/14 (7.289 kg/ha) 2014/15

2014/15

20/set

0,0

1,6

2,36

2,7

0,23

27/set

5,5

7,5

5,08

5,5

2,23

04/out

18,9

12,7

12,54

14,6

5,6

11/out

33,4

15,7

18,5

32,6

10,7

18/out

53,0

26,0

25,2

43,8

15,81

24/out

73,4

40,8

38,3

56,0

21,54

30/out

85,3

55,7

52,1

60,3

51,08

Fonte: DATER / NATEs. / Elaboração: Seção Política Setorial

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Capacitação

Qualificação Foto: Pablo Badinelli

leva resultados dos laboratórios ao campo Investir no aperfeiçoamento de técnicos e produtores é uma das prioridades do Irga

Q

Técnicos viram aplicações da técnica de irrigação no campo

ualificar técnicos e agricultores está no topo da lista de prioridades do Instituto Riograndense do Arroz (Irga). Por meio de diversos cursos e parcerias, a entidade busca manter o setor produtivo sempre atualizado a respeito das tecnologias e resultados das pesquisas em andamento, e os técnicos preparados para transmitir esse conhecimento para a ponta da cadeia. “Através desse processo fica mais fácil dialogar com o agricultor e realizar um trabalho bem dirigido para a sua realidade, buscando solucionar questões latentes no momento”, explica o diretor técnico da autarquia, Rui Ragagnin. Para se manter sempre a par das novidades, nos últimos quatro anos o Irga firmou uma série de parcerias com empresas públicas e privadas. “Isso otimiza o tempo, não precisamos investir em determinadas pesquisas porque algum outro instituto ou empresa já as vem realizando. Assim, enviamos nossos técnicos para passar por uma qualificação e conhecer o trabalho desenvolvido lá. Se vemos que é viável e se aplica à nossa realidade, investimos nisso”, destaca Ragagnin.

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Foto: Pablo Badinelli

Capacitação

Pesquisadores concursados Marcolin e Badinelli participaram de qualificação nos EUA

Entre as diversas atividades ao longo do ano, o diretor técnico do Irga ressalta a importância dos seminários realizados após o término da colheita. Segundo ele, são eventos muito importantes, pois servem para fazer um balanço da safra, avaliação dos desafios e medidas tomadas, além de projetar o próximo ano para que o produtor possa se preparar antecipadamente. Antecipar-se, aliás, é um dos objetivos das qualificações desenvolvidas pelo Irga. “Assim, os técnicos já sabem o que esperar quando vão atender às propriedades e podem realizar um trabalho bem direcionado, dentro das necessidades de cada produtor no momento”, explica Ragagnin. O coordenador regional da Planície Costeira Externa do Irga, Eraldo Jobim, destaca ainda que é justamente no período de entressafra que essa preparação é mais intensa, já pensando no trabalho do próximo ano. “O crescimento de um ano para o outro é muito relevante. Nos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nates) conseguimos transferir para o pessoal o que foi aprendido durante 12

estes cursos”, afirma Jobim. Muitos dos cursos são oferecidos em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) por meio da identificação de carências feita pelo próprio Irga, que se encarrega de formar as turmas e fazer as solicitações. “Nos últimos anos houve uma evolução tecnológica muito grande, o que acabou abrindo uma enorme lacuna entre o conhecimento técnico e a realidade do campo. Então temos tido muitas qualificações justamente nesta área”, explica o coordenador. Outra questão bastante latente diz respeito à secagem e à armazenagem nas propriedades. Um curso realizado em julho de 2014 abordou o tema. “Realizamos um trabalho de alta qualidade na capacitação de técnicos e produtores, com reconhecimento inclusive de outras instituições”, destaca Jobim. Para ele, o excesso de informações acaba atrapalhando o produtor, que não sabe qual linha seguir e acaba ficando perdido entre tantas novidades que aparecem no mercado. O trabalho de qualificação ajuda a desmitificar

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um pouco essas informações, pois mostra resultados efetivos de estudos e ajuda a descartar o que não possui comprovação científica. Outra pauta necessária que todo ano ganha destaque entre os cursos da entidade diz respeito ao manejo integrado do arroz e à rotação de culturas. A rotação com a soja vem ganhando espaço no Estado nos últimos anos, e a importância de orientar o produtor a viabilizar o sistema se torna muito grande. “Realizando um manejo adequado, temos um sistema que se complementa como um todo. Além disso, utilizando a irrigação é possível fazer a manutenção do potencial produtivo e reduzir custos”, explica o engenheiro agrônomo da seção de fitotecnia do Irga Pablo Badinelli. Com 10 anos de pesquisas e de trabalhos desenvolvidos com a soja, os cursos de qualificação se mostram ainda mais importantes para levar rapidamente a informação até o produtor. “Temos muitas sugestões de manejo, uma variedade lançada, uma máquina vendida comercialmente que faz o microcamalhão e planta, além de manutenção das pesquisas de identificação de materiais promissores”, destaca Badinelli. Em 2014 também ocorreu o primeiro curso da Escola de Irrigação, com foco na irrigação por sulcos. A turma foi composta por 25 técnicos da Extensão Rural do Irga, da Emater e da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (saiba mais na página 44). “Essa troca de ideias com pessoas de outras entidades também ajuda a enriquecer muito o trabalho desenvolvido, pois temos a visão de pessoas de fora, que não estão envolvidas diretamente com nosso trabalho”, aponta Badinelli. Já há cursos programados para o ano que vem.


Foto: Pablo Badinelli

Capacitação

Participantes de capacitação experimentam na prática o uso dos politubos

Funcionários participam de curso nos EUA Entre 10 e 17 de maio de 2014, o Irga participou do curso de mangueiras realizado pela empresa Delta Plastics, nos Estados Unidos. Badinelli participou da qualificação juntamente com o engenheiro agrônomo da seção de solos e água da entidade Élio Marcolin. Badinelli aponta que essas experiências ajudam a tirar os técnicos da zona de conforto, instigando-os a buscar atualização. “Isso é fundamental, pois mantém o quadro de funcionários qualificado e capacitado, ao mesmo tempo que motiva, pois dá a oportunidade de gerar conhecimento”, afirma. O Irga, através do convênio de cooperação técnica com a empresa

americana Delta Plastics, no estado de Arkansas (EUA), oportunizou uma viagem que, além de capacitar tecnicamente, também aproxima a entidade de empresas e instituições relacionadas ao manejo de irrigação por sulcos com politubo em áreas de produção arroz irrigado em rotação de culturas de sequeiro. O treinamento foi oferecido pela companhia americana para 29 colaboradores, pesquisadores, assistentes e representes técnicos da América do Sul. Durante o curso, os participantes puderam visitar as instalações da Delta Plastics, e foi feita demonstração do sistema de produção, coleta e reciclagem dos politubos, treinamento do manuseio, instalação e manejo dos politubos durante a irrigação e apresentação do software Pipe Planner, que serve para estabelecer o posicionamento do sistema de irrigação e determi-

nar o volume de água. Por fim, os visitantes conheceram duas propriedades onde se utiliza o sistema de irrigação por politubos. Marcolin afirma que se surpreendeu ao ver que o país está muito aquém do desejado, tanto em questões ambientais, quanto no uso da água. “No que diz respeito à irrigação, não devemos nada aos americanos em termos de tecnologia, muito pelo contrário. Podemos afirmar sem medo que estamos na frente deles em diversos aspectos”, destaca o técnico. Durante o treinamento, foi montado um circuito de simulação com as situações mais comuns no campo, Já o encerramento, no dia 17, contou com uma palestra do professor e pesquisador Joe Massey, da Mississippi State University, que abordou os benefícios de usar os politubos, bem como suas limitações.

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Pesquisa e extensão

Concurso público qualifica Pesquisa e Extensão Rural Desde 2011, os setores do Irga acumulam conquistas, como capacitação de novos técnicos e melhorias na infraestrutura

N

2011, começou-se a trabalhar no plano de cargos e salários. A lei foi aprovada no final de 2011 e promulgada pelo governador do Estado, Tarso Genro, em 2012. O concurso saiu no ano seguinte, e em janeiro de 2014 os primeiros concursados ingressavam no instituto. Para o gerente da Estação Experimental do Arroz (EEA) do Irga, Sérgio

Lopes, a consolidação do quadro de funcionários foi uma das principais conquistas da autarquia. Com o processo, a expectativa é garantir a permanência desses concursados, o que, para a pesquisa, é essencial. “É difícil trabalhar se não há estabilidade e continuidade, porque a maioria dos projetos só traz retorno em médio e longo prazo. A rotatividade e Foto: Divulgação/Irga

os últimos anos, as divisões de Pesquisa e de Extensão Rural vêm acumulando conquistas no Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Nessa trajetória, houve um marco determinante: a realização do concurso público da autarquia, em agosto de 2013 - o único e último concurso havia sido realizado na década de 1970. Já em

Os Dias de Campo são promovidos em parceria pelas divisões de Pesquisa e de Extensão Rural 14

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Foto: Divulgação/Irga

Pesquisa e extensão

Em 2011, foram a IRGA 426, IRGA 427 e IRGA 428. No ano seguinte, houve o lançamento de duas cultivares de arroz híbrido, a QM1010 CL e a Prime CL. Na virada de 2013/2014 foram lançadas outras três: IRGA 424 RI, IRGA 429 e IRGA 430. Além das cultivares de arroz, o instituto desenvolveu, ainda, uma cultivar de soja para cultivo em áreas de várzea, em parceria com a CCGL Tecnologia, a TEC IRGA 6070 RR (saiba mais sobre as cultivares do Irga na página 46).

Os extensionistas levam as novidades da lavoura orizícola aos produtores

a instabilidade são muito prejudiciais à geração de ciência e tecnologia”, explica o engenheiro agrônomo. O desenvolvimento de uma cultivar de arroz irrigado, por exemplo, pode levar de 10 a 12 anos desde o cruzamento até o registro e a inserção no mercado. Mesmo para uma pesquisa menos complexa são necessários ao menos três anos para a consolidação dos resultados. Por isso, Lopes considera essenciais as ações de capacitação que estão sendo realizadas para qualificar os novos funcionários, em cursos que abordaram toda a cadeia produtiva (saiba mais na página 11). “Isso trará retorno para o Irga e, consequentemente, para os produtores gaúchos”. Assim como na pesquisa, o concurso foi essencial para as atividades de extensão, garantindo a continuidade de ações para o interior do Estado. “Estamos em andamento para que todo o quadro técnico do Irga seja de concursados. Todo o processo de qualificação dos técnicos vai ficar na história da instituição, e teremos funcionários mais preparados para

prestar serviços cada vez melhores para os agricultores, o que é nosso maior desejo”, afirma o diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin. “A existência do plano de carreira também é uma ferramenta para estimular a capacitação”, reforça o gerente da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) da autarquia, Alessandro Queiroz.

Oito cultivares em quatro anos O Irga realiza mais de 100 ações de pesquisa por ano. Na safra 2013/14 foram 130, e este ano o número deve ficar próximo a isso. Entre elas, desenvolver cultivares de arroz que aumentem a produtividade da lavoura sempre foi fundamental. Nos últimos 30 anos, a média histórica de lançamentos de cultivares foi de uma a cada dois anos. Desde 2011, contudo, a autarquia quadruplicou esse número: foram oito cultivares em quatro anos, com média de duas cultivares por ano.

Pacote fechado no projeto de rotação de culturas e ILP Difundir a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária (ILP) entre os produtores é um projeto fortemente defendido pelo Irga desde 2011. A primeira ação desenvolvida para cumprir esse objetivo se deu ainda naquele ano, com a efetivação da parceria com a Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas KF para fabricar uma semeadora camalhoneira para o plantio de soja e milho em áreas de várzea. Com o equipamento, ocorre a formação de sulcos na mesma operação de semeadura e de adubação. Isso facilita a drenagem das áreas mais baixas, suscetíveis à saturação por água nos períodos chuvosos, ao mesmo tempo em que os canais realizados para a formação do camalhão também podem ser usados para a irrigação por sulcos, uma alternativa para evitar prejuízos nas culturas de sequeiro como soja, milho e sorgo, que sofrem com a falta de água em períodos de seca. A tecnologia, portanto, permite conviver com esses dois contextos da várzea, a seca e o excesso de água, aprovei-

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Fotos: Camila Raposo

Pesquisa e extensão

Nos últimos quatro anos, a infraestrutura da pesquisa foi renovada: foram 285 produtos adquiridos, entre máquinas, equipamentos e veículos tando a infraestrutura de captação de água já existente para o cultivo do arroz, como rios ou barragens. Em 2012, o equipamento já estava disponível para os produtores. No ano seguinte, foi lançada a cultivar de soja TEC IRGA 6070 RR, adaptada a esse sistema. Ao mesmo tempo, foram feitas ainda pesquisas sobre o manejo em diferentes âmbitos, como adubação e irrigação. “Construindo esse projeto desde 2011, chegamos hoje com a variedade, com a tecnologia de semeadura, com sistema de drenagem, com a irrigação, e ainda estamos completando mais duas ações dentro desse objetivo”, afirma o gerente da EEA. A primeira das duas ações às quais o engenheiro agrônomo se refere é a adoção de um sistema de nivelamento da superfície do solo com um plano inclinado, o que 16

permitirá o plantio de soja e milho com a camalhoneira, além do cultivo de arroz, ao se utilizar uma taipa transversal. Há ainda o projeto de irrigação por sulcos, em parceria com a Delta Plastics, empresa do Arkansas (EUA) que produz no Brasil junto à Granja Bretanhas, em Jaguarão. As mangueiras possuem comportas que permitem regular a quantidade e a vazão de água nos sulcos. “Com isso, estamos praticamente fechando o pacote para a produção de soja e milho nas áreas de várzea”, resume Lopes. Para o engenheiro agrônomo, o crescimento das áreas comerciais plantadas com soja no Estado é resultado desse trabalho - na safra 2013/14, por exemplo, foram 300 mil hectares, um aumento de 9% comparado aos 272 mil hectares no período anterior. Desde a safra 2012/13, o Irga re-

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aliza, ainda, estudos para implantar também o milho na área de várzea, usando um pacote de manejo semelhante ao da soja, com a semeadura com a microcamalhoneira por sulcos, com drenagem e irrigação. Os resultados são animadores: nas pesquisas, de duas toneladas por hectare sem irrigação, chegou-se de 10 a 12 toneladas com irrigação. “Nosso objetivo é chegar a uma área semelhante à que se tem hoje no Arkansas, com um terço de arroz, um terço de soja e um terço de milho nas culturas de verão”, afirma Lopes. Ele aponta que essas culturas já são suficientes para a adoção do sistema de produção ILP e que já há um modelo implantado na Granja Corticeiras, no município de Cristal, região Centro-Sul do Estado. “Estamos falando de um sistema que propicia um ganho maior de produção de grãos e de carne por unidade de área explorada”, destaca.

Investimento na estrutura física A pesquisa também ganhou em infraestrutura. Ainda em 2015, deve começar a funcionar o Centro de Excelência em Difusão de Tecnologias Orizícolas, cujo início da construção está previsto para o final deste ano. No local, serão realizadas ações de treinamento para o público interno e externo, contabilizando três mil profissionais capacitados por ano, uma vez que o centro funcionará ininterruptamente. Ainda para dar suporte à pesquisa, houve a renovação da frota de veículos, com a aquisição de cinco caminhonetes utilitárias para a EEA e um veículo para cada estação de pesquisa regional, além dos que já existiam. Também foram comprados


Pesquisa e extensão

sete caminhões - antes, na estação de Cachoeirinha, havia apenas um caminhão com 40 anos de uso. No total, foram 285 produtos adquiridos para todo o Estado, entre máquinas, equipamentos e veículos, com investimento total de R$ 14,5 milhões. A implantação da estação regional na Planície Costeira Externa, em Palmares do Sul, também é um marco, pois, agora, o Irga está presente em todas as regiões orizícolas do Estado. O processo de modernização da estrutura do Irga foi financiado pelo Governo do Estado através do BNDES e inclui ainda outras obras na EEA, como o calçamento de ruas, construção de um estacionamento para 100 veículos e de calçadas e passarelas para fazer ligação entre os prédios.

Mais de 10 mil atendimentos A Extensão Rural do Irga é onde os produtores do Estado se enxergam. A decisão sobre as pesquisas que serão realizadas a cada safra parte de um diagnóstico do qual participam extensionistas, agricultores e pesquisadores, para que atendam à real demanda dos orizicultores. “É uma situação particular, pois se reúne, dentro de uma mesma instituição, pesquisa e extensão, e isso reflete tanto na lavoura como nas atividades dos segmentos”, afirma Queiroz. Por isso, uma das principais atribuições da Extensão é atender e orientar os orizicultores, por meio de vistorias a campo e atendimento no escritório. Desde 2011, foram mais de 10 mil: 4,2 mil no escritório e 5.850 no campo. Além dos atendimentos, o Irga também leva informação aos produtores por meio dos roteiros técnicos, atividades que têm como objetivo

apresentar novas tecnologias e dados que possam ser úteis aos agricultores, referentes à cultura do arroz ou a cultivos alternativos. Nos últimos quatro anos, foram 480 roteiros em diferentes cidades do Estado. No mesmo guarda-chuva de atividades, são realizados também seminários, organizados e coordenados pela Dater, que também apresentam os resultados do trabalho da Extensão - desde 2011, foram 160 eventos desse tipo. As 260 capacitações anuais realizadas para técnicos e agrônomos também buscam tornar cada vez melhores as informações que chegam ao produtor. “Com o envolvimento no processo de capacitação e a comprovação dos resultados, os técnicos se sentem mais seguros para a recomendação de novas tecnologias, pois são observados os acertos e os erros”, diz o gerente da Dater.

Integração nos dias de campo Os dias de campo são promovidos pelas divisões de Pesquisa e de Extensão Rural do Irga, com apoio da Fundação Irga. Eles são realizados em três formatos. Um deles é o Dia de Campo Estadual, um dos principais encontros entre a autarquia e os produtores. O evento reúne, em geral, um público de cerca de mil pessoas, e é realizado anualmente na Estação Experimental do Arroz do Irga, em Cachoeirinha. Lá, são apresentadas também unidades demonstrativas de outros cultivos, como forma de estimular a rotação de culturas - este ano, o tema do evento foi Diversificação e Rentabilidade. No dia 26 de fevereiro de 2015, a versão estadual dará lugar à primeira edição internacional do encontro, que encerrará a 12ª Confe-

rência Internacional de Arroz para a América Latina e Caribe (saiba mais na página 18). Além desta, há ainda edições municipais e regionais, em cada uma das seis regiões orizícolas do Estado. Os dias de campo reúnem produtores, técnicos, pesquisadores, extensionistas e muitos outros profissionais da área orizícola, além de estudantes. A proposta é trocar experiências, orientar quanto a novas tecnologias - como cultivares e equipamentos, por exemplo - e procedimentos no campo e apresentar as novidades no setor. Desde 2011, foram quatro dias de campo estaduais na EEA, 85 edições regionais e 580 municipais. “A realização de grande número de dias de campo e roteiros técnicos em áreas demonstrativas, conduzidas em lavouras dos próprios produtores, foi a principal estratégia utilizada para compartilhar conhecimento em todas as regiões arrozeiras do Estado. A adoção de uma nova tecnologia é mais fácil quando produtores e técnicos podem observá-la no campo”, avalia Queiroz. Além dessas, a Dater realiza ainda atividades voltadas para a racionalização do uso da terra e da água, aproveitamento de recursos naturais e conscientização ambiental. A divisão também é responsável por coletar, organizar e difundir informações e dados sobre a cadeia do arroz, pelos laboratórios relacionados com sua área de atuação, emitindo laudos, boletins, relatórios e pareceres técnicos e controlando a qualidade dos serviços realizados; redigir e divulgar relatórios, notas e artigos técnicos; vistoriar tecnicamente lavouras comerciais e campos de produção de sementes de arroz irrigado, fiscalizando a venda de sementes.

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Relações internacionais

Conferência internacional deve receber mais de 500 participantes Com organização local do Irga, a 12a Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e Caribe acontece de 23 a 26 de fevereiro de 2015 em Porto Alegre

D

e 23 a 26 de fevereiro de 2015, pesquisadores, estudantes, técnicos e produtores se reúnem em Porto Alegre para participar da 12ª Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e Caribe. O evento, que nesta edição discutirá Horizontes para a competitividade, é organizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em parceria com Fundo Latino-Americano de Arroz Irrigado (Flar), Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e Aliança Global para a Pesquisa do Arroz (Grisp). São esperados aproximadamente 300 visitantes internacionais e 200 brasileiros. Realizada desde 1976, a conferência é uma oportunidade para 18

compartilhar conhecimentos e experiências sobre a cultura do arroz. A última edição foi realizada em 2010 em Cáli, na Colômbia. O evento tem caráter científico e busca resgatar o conhecimento gerado em relação à cultura do arroz no mundo. “A contribuição principal é proporcionar a integração para que haja atualização sobre o que está acontecendo em nível mundial na tecnologia e na ciência, além de mostrar para o produtor quais técnicas ele pode utilizar imediatamente e o que terá à disposição em curto e médio prazo”, explica o gerente da Estação Experimental do Arroz do Irga e presidente do Comitê Local de Organização da conferência, Sérgio Lopes. Para isso, foram organizados painéis que vão tratar de diferentes temas durante os três dias de evento. O primeiro deles, Visão de futuro na genética e melhoramento de arroz para maior competitividade, aborda produtividade, qualidade, resistência a pragas, adaptação a diversos ambientes, tolerância a estresses abióticos e como o melhoramento contribui para essas questões. No segundo dia do evento, os participantes assistem ao painel Manejo da cultura e desenvolvimento tecnológico para a competitividade, sobre plantio,

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adubação, irrigação, manejo de pragas e produção de sementes. Ainda no dia 24, acontece o painel Desafios da mudança climática para a competitividade do setor arrozeiro. Lopes explica que há duas grandes linhas de pesquisa na área: uma estuda a redução de emissões de gases do efeito estufa na cultura do arroz, e a outra como adaptar a lavoura a essas mudanças. O quarto painel, no dia 25, traz o tema Valor agregado e novas oportunidades de mercado. Nele, especialistas discutem alternativas para o uso do arroz, inclusive como uma opção mais saudável e rica em fibras na alimentação humana, sendo um aliado contra a obesidade. Além disso, produtos diferenciados têm mais valor agregado e podem ser uma alternativa para aumentar a renda dos produtores. No mesmo dia, o último painel aborda Parcerias para melhorar o impacto e a competitividade do setor do arroz, sobre processos de produção, geração e difusão de tecnologia no continente americano. Fechando a programação, no dia 26 acontece o primeiro Dia de Campo Internacional do Irga, uma versão do evento estadual realizado anualmente pela autarquia (leia mais na página 20).


Relações internacionais

Confira a programação da Conferência 23/02/2015 Sessão Oficial de Abertura • Solenidade de abertura • Conferência Visão Global para pesquisa de arroz em 2035 – Dr. Robert Zeigler, Diretor Geral do IRRI - Filipinas • Conferência 2: Tecnologias do futuro para uma agricultura mais competitiva Visão de futuro na genética e melhoramento de arroz para maior competitividade

Moderador: Joseph Tohme, CIAT Colômbia Abertura: Contribuições do melhoramento de plantas para competitividade na agricultura – Edgar Torres, CIAT – Colômbia • Uso da diversidade genética em arroz para acelerar os ganhos genéticos - Susan McCouch, Universidade de Cornell - EUA

• Características-chave para aumentar a competitividade no arroz - Sergio I. Gindri Lopes, Irga - Brasil • O futuro do setor público no melhoramento de arroz – Eero Nissila, IRRI - Filipinas • O futuro do setor privado no melhoramento de arroz - Federico Cuevas – República Dominicana

• Como acelerar os ganhos genéticos em arroz - Flavio Breseghello, Embrapa - Brasil

24/02/2015 Manejo da cultura e desenvolvimento tecnológico para a competitividade Moderador: Noel Magor, IRRI - Filipinas Abertura: Manejo agronômico para o futuro da produção de arroz – Achim Dobermann, Estação Experimental de Rothamsted – Inglaterra • Redução das lacunas de produtividade de arroz na América Latina e Caribe - Luciano Carmona, FLAR – Brasil • Inovações tecnológicas na produção de sementes de arroz – Felipe Gutheil Ferreira, IRGA - Brasil

• Desafios para o manejo de doenças em arroz - Fernando Correa, Rice Tec. – EUA • Manejo de pragas em arroz no cenário de mudanças climáticas - Mo Way, Texas A&M – EUA Desafios das mudanças climáticas para a competitividade do setor arrozeiro Moderador: Silvio Steinmetz, Embrapa - Brasil

• O papel do sensoriamento remoto e modelagem da cultura para aumentar a produtividade do arroz – Andy Nelson, IRRI - Filipinas • Análises de grande série de dados e a agricultura climaticamente inteligente - Daniel Jimenez, CIAT – Colômbia • O tipo ideal de planta de arroz no contexto das mudanças climáticas - Camila Rebolledo, CIAT - Colômbia

Abertura: Monitoramento do clima para a melhoria da competitividade da agricultura

• Impacto das mudanças climáticas sobre o arroz irrigado: estratégias de adaptação Santiago Cuadra, Embrapa - Brasil

• O futuro do mercado global de arroz e as oportunidades para a América Latina e Caribe - Álvaro Durant, PROARROZ Argentina

• AfricaRice: O impacto da pesquisa de arroz na África – Marco Wopereis, Centro Africano de Arroz - Benin

25/02/2015

Valor agregado e novas oportunidades de mercado Moderador: Raúl Uraga, Saman - Uruguai Abertura: Novas oportunidades de mercado para o arroz - Ming-Hsien Cheng, Departamento de Agricultura (USDA) – EUA • As oportunidades de mercado para o arroz mais saudável – Nesse Sreenivasulu, IRRI - Filipinas • Valor agregado e oportunidades de mercado para o arroz na América Latina Edna Amante, UFSC – Brasil • Avanços tecnológicos em pós-colheita e processamento de arroz – Gonzalo Rovira, COOPAR – Uruguai

Parcerias para melhorar o impacto e a competitividade do setor do arroz Moderador: Gonzalo Zorrilla, INIA Uruguai Abertura: Contribuição do setor agrícola no desenvolvimento da América Latina - Juan Camilo Restrepo, Ex-Ministro da Agricultura - Colômbia • Aliança Global para Ciência do Arroz (GRiSP): Um modelo de parceria para a pesquisa em arroz - Bas Bouman, IRRI – Filipinas

• FLAR: Vinte anos de pesquisa e desenvolvimento na América Latina e Caribe - Eduardo Graterol, FLAR – Colômbia • O papel das instituições públicas no desenvolvimento de tecnologia para a competitividade - Juan Manuel Dominguez, INIAP - Equador • O papel da organização de agricultores no aumento da competitividade do setor do arroz - Henrique Dornelles, FEDERARROZ - Brasil

26/02/2015 Dia de Campo Irga/Ciat/Flar • Visita a experimentos e parcelas demonstrativas de arroz, soja e milho na Estação Experimental do Arroz do Irga (Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494, Cachoeirinha, RS, Brasil).

A programação completa e as inscrições estão disponíveis no site www. conferenciaarroz2015.com.br. Trabalhos de pesquisa podem ser submetidos até o dia 30 de novembro. O evento acontece no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), na avenida Ipiranga 6681, Prédio 40.

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Relações internacionais

Irga realiza 1o Dia de Campo

Internacional

Atividade encerra a 12a Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e Caribe e deve receber um público de mais de 1,5 mil pessoas

T

odos os anos o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) reúne milhares de pessoas na Estação Experimental do Arroz (EEA), em Cachoeirinha, para seu Dia de Campo Estadual. Em 2015, o evento ganha ainda mais visibilidade e se transforma no 1º Dia de Campo Internacional, encerrando, no dia 26 de fevereiro, a 12ª Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e Caribe (leia mais na página 18). Nesta edição, são esperadas aproximadamente 1,5 mil pessoas, sendo que 300 visitantes devem vir de fora do Brasil. Além da autarquia, participam da organização do evento o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e o Fundo Latino-Americano de Arroz Irrigado (Flar). “A Conferência culmina no Dia de Campo, e nós poderemos mostrar para o mundo o que o Irga vem fazendo, quais suas proposições de pesquisa e extensão. O diálogo com cientistas em nível mundial é muito importante, e essa troca de informações vai enriquecer a nossa orientação. Vamos ver o que encaminhar para os próximos Dias de Campo, saber em que estágio estamos e qual direção tomar”, avalia 20

Rui Ragagnin, diretor técnico do Irga. Nesta edição, o Dia de Campo busca incorporar novidades à sua programação para contemplar o público internacional. Um exemplo é a vitrine de cultivares do Irga. Como acontece todos os anos, serão demonstradas as novas variedades da autarquia, mas dessa vez haverá outras atrações na estação. Uma delas apresentará

Uma das atrações será uma estação com o histórico das cultivares usadas no RS

o histórico das cultivares utilizadas no Rio Grande do Sul desde a década de 50, começando pela introdução da cultivar americana Bluebelle e passando pela BR IRGA 409, lançada em 1979 - e ainda hoje no mercado. O resgate histórico apresentará variedades lançadas pelo Irga, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Epagri, até chegar ao presente. As

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novas cultivares de arroz irrigado do Irga a serem apresentadas são a IRGA 429, IRGA 430 e IRGA 424 RI, mostrando suas principais características agronômicas e fenotípicas e as contribuições que podem trazer para a lavoura orizícola do Rio Grande do Sul (leia mais sobre as cultivares do Irga na página 46). O Dia de Campo também olhará para o futuro, apresentando linhagens promissoras do Flar, novas variedades da Embrapa, da Epagri e do Instituto Nacional de Investigação Agropecuária (Inia) do Uruguai, Argentina e Colômbia, incluindo híbridos. As atividades vão contar com técnicos do Flar e do Ciat. A estação dedicada às cultivares e linhagens do Flar demonstrará o trabalho do fundo em projetos específicos para o desenvolvimento de cultivares adaptadas e também com a introdução de germoplasma (unidades conservadoras de material genético de uso imediato ou com potencial de uso futuro) em diferentes programas de melhoramento genético. Outra novidade no Dia de Campo é a estação de demonstração das tecnologias de produção do arroz do Irga, que mostrará o papel da Extensão Rural da autarquia na


Fotos: Divulgação/Irga

Relações internacionais

No evento de 2014 mais de mil pessoas comparaceram à Estação Experimental do Arroz

orizicultura do Estado. “Exporemos a estrutura e a metodologia utilizadas para a difusão de tecnologia do Irga. Por isso, haverá uma estação específica da Extensão Rural em que trabalharemos com o manejo integrado”, conta Alessandro Queiroz, gerente da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater) da autarquia. A área será semeada com a nova cultivar IRGA 424 RI e receberá a aplicação de todas as práticas de manejo recomendadas pelo instituto. O público também poderá verificar como aconteceu, ao longo dos anos, a integração entre pesquisa, extensão e produtor, e o impacto disso na lavoura gaúcha.

Mais semelhante à programação dos anos anteriores, o evento contará com uma estação sobre produção e uso de sementes certificadas para a competitividade orizícola. Sementes certificadas são produtos rastreados, por isso é possível ter conhecimento de todas as etapas do processo produtivo, desde a produção de sementes no campo até o uso na lavoura comercial. Além disso, para ser certificado, o produto deve ter atributos mínimos de qualidade, o que garante ao orizicultor estar comprando boas sementes. É importante lembrar que o Rio Grande do Sul possui vantagens competitivas para produzir semen-

tes de alta qualidade física, genética e fisiológica. “É um tema de extrema relevância, e todos os países do Mercosul têm interesse”, afirma o gerente da EEA, Sérgio Lopes. Outra estação mostrará o pacote tecnológico desenvolvido pelo Irga para o cultivo de soja em áreas de arroz, apresentando o sistema de microcamalhões e a irrigação por tubos janelados, além da nova cultivar de soja do Irga e da CCGL para terras baixas, a TEC IRGA 6070 RR. Ainda no tema rotação de culturas, um espaço apresentará o manejo para milho cultivado em áreas de arroz irrigado, pesquisa desenvolvida pelo Irga nos últimos três anos.

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Clima

Clima deve favorecer safra de arroz nos próximos meses Sequência de dias secos em novembro deve facilitar a finalização do preparo do solo e do plantio

Glauco Freitas Meteorologista Fepagro/Irga

cultura do arroz pode estar entre as mais beneficiadas pelas condições climáticas no final da primavera e no decorrer do verão 2014/2015. Isso porque os últimos estudos indicam uma tendência de diminuição nos volumes médios de precipitação no Rio Grande do Sul no período do verão, com 401 mm em épocas de El Niño Modoki, média climática com 404 mm, e 467 mm

U

m alento aos produtores: provavelmente, o pior já passou. O título de momento mais crítico para a safra de arroz deste ano devido a condições climáticas deve ficar com os meses de junho a outubro. Passado esse período, a

com El Niño (Figura 1). Janeiro deve registrar o menor volume de precipitação, precisamente quando grande parte das lavouras de arroz precisa de tempo seco e com maior incidência de radiação de onda curta. É sempre importante atentar para a temperatura do Oceano Atlântico junto à costa gaúcha, uruguaia e catarinense. O oceano mais aquecido indica menor

Precipitação média em eventos El Niño, Modoki e a Média Climática para o período 1961-2013 para o Estado do Rio Grande do Sul 200,0

El Niño

180,0

Precipitação média em eventos de El Niño.

160,0 140,0 120,0 100,0

Modoki

80,0

Precipitação média em eventos de El Niño Modoki.

60,0 40,0

Média climática

20,0 0

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Figura 1 22

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Set

Out

Nov

Dez

Precipitação média climática.


Clima

probabilidade de grandes estiagens no Rio Grande do Sul no verão. A provável ocorrência do El Niño Oscilação Sul (Enos) preocupa o orizicultor, pois o fenômeno, na maioria das vezes, é pouco favorável à lavoura. O Enos se configura quando ocorre aquecimento anormal do Oceano Pacífico - chamado de El Niño – associado com variações no campo de pressão ao nível médio do mar entre as estações de Darwin (12.4S-130.90E), no norte da Austrália, e Tahiti (17.5 S-149.6W), no Oceano Pacífico Sul, sendo então definido como Oscilação Sul. O que se observa agora é a formação de um El Nino não canônico descoberto em 2007, chamado de Modoki, que para os japoneses significa “semelhante, mas diferente”. Nesse momento, independentemente do tipo, existe 60% de probabilidade de ocorrer El Niño, mas essa probabilidade diminui a cada rodada de modelos climáticos.

Novembro deve ter sequência de dias secos Para novembro, a previsão é de haver janelas com boa sequências de dias secos e quentes em grande parte das regiões, especialmente na Planície Costeira Interna e Planície Costeira Externa e em parte da Campanha e da Depressão Central, o que deve ajudar a finalizar o preparo do solo e do plantio. Isso não significa que não haja episódios de chuva intensa localizada e temporais. O mapa (Figura 2) mostra a previsão do volume de chuva acumulado para o mês. É importante salientar que apenas um grau

Previsão do volume de chuva acumulado para novembro

Figura 2

de erro na latitude representa 110 km, ou seja, a área de pouca chuva pode avançar mais para o interior do Estado. As áreas de mais umidade que estão no norte da Argentina também podem se deslocar em direção ao Rio Grande do Sul. Em dezembro, há previsão de volumes de chuva que fiquem dentro ou acima da média, principalmente na Fronteira Oeste, Campanha e Zona Sul. As chuvas serão mal distribuídas ao longo do mês, ou seja, volumes intensos concentrados em curto período de tempo. Nas demais regiões, deve ficar dentro ou abaixo da média. Para janeiro, caso se confirme a

condição de um El Niño Modoki, o levantamento dos dados históricos e de alguns modelos indicam uma condição de pouca chuva, com boa incidência de radiação de onda curta. Essas condições favorecem o bom desenvolvimento das cultivares de arroz. Quanto às temperaturas, em novembro é esperado que sejam mais altas que a normal climatológica na maioria das regiões do Estado, entre 1°C e 1,5°C. Em dezembro e janeiro, há grande possibilidade de haver ondas de calor intensas, deixando as temperaturas de 1,5°C a 2,5°C acima da média.

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Produtor investe em

tecnologia e qualificação Rafael Bavaresco da Silva pratica a rotação de arroz com soja na propriedade e conta com silos de armazenagem

C

almo e introvertido, Rafael Bavaresco da Silva, 31 anos, é um dos tantos jovens que representam uma nova geração no meio rural. Com a adoção de tecnologias modernas, a vida no campo ficou mais atraente, principalmente pela qualidade de vida e pela consciência de preservação do meio ambiente. O filho mais novo de José Carlos Rodrigues da Silva e de Sônia Bavaresco da Silva, antecedido pelas irmãs Carem e Catiusca, vislumbra um futuro com qualidade de vida para os seus descendentes – ainda não tem filhos, mas eles estão nos planos. Ama a vida do campo por vocação e lembra a infância, quando passeava com os pais na colônia e visitava os familiares descendentes de italianos “Acompanhava a rotina dos meus avós, que até hoje plantam e são pequenos agricultores”, conta. É com esse pensamento que o jovem empreendedor quer escrever sua história, levando em consideração as benesses que o agronegócio pode proporcionar para a sua família e, principalmente, para a 24

sociedade. Rafael mora em Alegrete, na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Deixou a cidade apenas para buscar formação técnica. Formou-se engenheiro agrônomo, com especialização em plantas forrageiras. Logo após o término dos estudos, seguiu para a lida diária nas propriedades da família. Foi incentivado pelos pais, que há cerca de 40 anos migraram da região norte do Estado para Alegrete, onde em sociedade com terceiros, e mais tarde com os irmãos, o pai iniciou no ramo de combustíveis. Com o passar do tempo, vislumbrou a possibilidade de adquirir propriedades rurais para a criação de gado. Como a pastagem é necessária no ramo, logo viu a necessidade de diversificar os negócios. Foi quando investiu em equipamentos e iniciou na orizicultura. Os negócios rurais e a família cresceram, e as tarefas e obrigações foram divididas. A Rafael coube administrar as lavouras de arroz e as de soja, leguminosa incorporada há 17 anos nas terras, com o auxílio administrativo de sua irmã Carem

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Foto: Flavio Burin

Palavra do produtor


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Além de investir na própria qualificação, Rafael Bavaresco faz questão de que todos os funcionários se mantenham atualizados

classe tipo 1, um dos melhores do Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Há seis anos, a propriedade possui armazenagem própria, onde a produção fica dividida nos três silos de secagem e armazenagem. A meta é de ampliação. “A soja vem ganhando espaço no empreendimento. Para 2015, planejamos investir em mais uma unidade de armazenamento”, declara Rafael.

Foto: Flavio Burin

e, agora, com o reforço na parte operacional do marido dela, Gilberto Copetti Jr. O pai administra a criação de gado de corte, e a mãe, como diz Rafael, “é o nosso esteio”, cuida da família. A irmã mais velha, Catiusca, trilhou caminho em outra profissão e mora com a família na região de onde vieram os pais, Passo Fundo. Com planejamento e trabalho, a família possui duas propriedades rurais no distrito alegretense do Rincão de São Miguel. Em uma área de 3.674 hectares, a distribuição para o cultivo do arroz irrigado é de 410 hectares. Para a soja, são destinados 250 hectares, enquanto 1,5 mil hectares são de pastagens cultivadas, e o restante é de campo nativo. Há dois anos as lavouras da oleaginosa contam com pivô e carretel de irrigação. Os empreendimentos ficam em dois locais distintos. O primeiro é na Agropecuária Limeira, distante 25 km de Alegrete, onde a irrigação arrozeira é por barragem. A segunda propriedade, um pouco mais longe da sede, a 45 km, a Agropecuária São Francisco do Ibicuí é privilegiada por estar às margens do Rio Ibicuí, considerado um rio de águas de

Foto: Flavio Burin

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A família Bavaresco Silva possui duas propriedades no Rincão de São Miguel 26

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Para a produção de arroz, principal ativo das propriedades, as lavouras recebem três cortes que são rotacionados com soja e pastagem. Na entressafra do arroz cultiva-se aveia, azevém, milheto, sorgo e capim-sudão, trevo, cornichão e braquiária. O preparo antecipado do solo e o plantio na época recomendada são premissas básicas - sempre que o tempo permite, pondera Rafael. As variedades de arroz cultivadas são BR IRGA 409, IRGA 424 e GURI INTA CL. A distribuição das variedades nas lavouras é feita em três partes iguais, para melhor serem acondicionadas nos três silos. Como agrônomo, Rafael segue as recomendações do Projeto 10 do Irga, iniciativa que prevê mais produtividade, rentabilidade e sustentabilidade, com o objetivo de obter uma lavoura que produza 10 mil quilos de arroz por hectare. “Tento seguir a parte técnica do projeto, e o investimento maior é na variedade 424, pelo seu alto potencial produtivo”, conta o agrônomo, que contabilizou de 9 mil a 9,5 mil kg/ha nas duas últimas safras.


Palavra do produtor

A diversificação com a soja também é um ponto importante para a manutenção dos negócios, principalmente com a variação dos preços do arroz. Diante desse desafio, a oleaginosa, além de ter alta rentabilidade, proporciona melhoria no solo, como a fixação do nitrogênio, aumentando a fertilidade da área. Além disso, auxilia no controle de plantas invasoras. “Com os dados obtidos, tenho a ideia de deixar dois anos a soja e depois plantar arroz. Tenho um aumento de 15 a 20 sacos por hectare, além de diminuir o custo do preparo do solo”, salienta Rafael. As propriedades contam com 14 funcionários para cuidar das lavouras de arroz e soja e oito para os tratos com a pecuária. O funcionário mais velho, Fabrício Cunha, hoje com 47 anos, há 15 trabalha com a família Bavaresco da Silva. Constituiu a própria família, sempre morando na área rural, e os filhos também pretendem seguir a vocação do trabalho no campo. As informações técnicas e qualificadas também fazem parte do dia a dia dos funcionários. Para a valorização dos recursos humanos, Rafael conta com o apoio das palestras dos técnicos do Irga, do Senar-RS e da Associação dos Arrozeiros de Alegrete quando realiza os Encontros Técnicos e a Semana Arrozeira. “Estou sempre em busca de qualificação para mim e meus colaboradores. Eles também precisam estar treinados e voltados para a tecnologia, pois os investimentos são altos e todos devem estar cientes de suas responsabilidades”, avalia.

Foto: Flavio Burin

Rotação com soja traz segurança para o produtor

Escoamento e energia ainda são dificuldades Como os investimentos correm uma diversidade de riscos, pois estão a céu aberto, também há dificuldades, especialmente quando se fala em escoamento da produção e energia elétrica. As estradas vicinais são de difícil acesso, o que eleva o custo do produto com o tempo gasto e os reparos. “Neste ano, passamos 20 dias sem energia. Com isso, tivemos quebra no rendimento, porque não conseguíamos puxar água”, ressalta Rafael. Quando se fala em produção de alimentos e na qualidade nata do gaúcho, que é o de produzir arroz, Rafael destaca o grande compromisso que é fornecer alimentos e afirma que são necessárias ainda mais políticas públicas para o setor produtivo. “Temos uma grande responsabilidade, principalmente em aumentar a produção na mesma área, com qualidade e com o uso racional dos recursos naturais”, afirma.

Propriedade alia produção e conservação ambiental Na pecuária, a criação de Brangus recebe forte investimento, fazendo o ciclo completo (cria, recria e engorda). Cerca de 95% das terras são próprias, e o restante é arrendado. A responsabilidade na conservação ambiental também ganha seu espaço. O melhoramento do campo nativo é feito com roçadas, diferimento e implantação de espécies

forrageiras. “Aqui, não fizemos queimadas, e todos os resíduos produzidos são levados para a cidade”, ressalta Rafael, que segue os preceitos da tríplice lavagem dos agroquímicos, caixas de separação, pista de lavagem, etc. Aliado a tudo isso, há sete anos os investimentos também são realizados em longo prazo. A propriedade tem uma área destinada para o plantio de Pinus e eucalipto. “É investimento para o futuro. Pretendemos tirar desta produção lenha para os secadores, produção de madeiras para uso na propriedade e para a construção civil”, relata.

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Arroz gaúcho

ganha o mundo e se fortalece no Estado Políticas públicas e apoio à consolidação das exportações foram essenciais para a obtenção de bons preços e a garantia de renda ao produtor

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produtiva que deveríamos cumprir e passamos a trabalhar pontos-chave como mercado, infraestrutura, logística e fortalecimento da indústria para chegarmos onde queríamos, e hoje os resultados estão aí”, afirma Pereira. Os resultados são preços estáveis e remunerativos ao longo de todo o ano, revisão do preço mínimo e espaço para dialogar com entidades governamentais - os Foto: Divulgação/Tecon Rio Grande

forte trabalho realizado pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga) nos últimos quatro anos foram fundamentais para a consolidação do mercado e do setor produtivo. Para o presidente da entidade, Claudio Pereira, o atual cenário é fruto de planejamento e envolvimento do governo do Estado no setor orizícola. “Organizamos uma agenda com a cadeia

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leilões de outubro, por exemplo, foram realizados em comum acordo entre todos os elos da cadeia. “Eu diria que um grande avanço foi o entendimento da cadeia produtiva, que acabou tendo um discurso mais afinado com os órgãos de governo, estando quase sempre alinhados nas decisões importantes ao setor orizícola”, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap), Marco Aurélio Amaral. Para o chefe de gabinete do Irga e coordenador da Câmara Setorial do Arroz do RS, César Marques, o Rio Grande do Sul alcançou a estabilidade dos preços nos últimos três anos devido ao aumento das exportações de arroz, do cultivo da soja nas áreas planas e da política tributária estabelecida pelo governo, que prioriza a industrialização do produto gaúcho. A estiagem que castigou as lavouras de arroz e reduziu a produção do Rio Grande do Sul entre 2011 e 2012 - a maior seca dos últimos 60 anos - foi um alerta para o setor


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Balança comercial do arroz das, ajudariam a reduzir custos e a encurtar distâncias. Para favorecer as empresas gaúchas que beneficiam a produção local foi constituído com o setor a aplicação de um benefício tributário. Como a tributação para que o cereal deixe o Rio Grande do Sul é de 12%, as indústrias que usam a produção local têm abatimento dessa cobrança . Quando as empresas beneficiam menos de 10% de produto importado, a tributação cai para 7% ou 4%, dependendo do estado de destino.

2.000.000

1.500.000

1.000.000

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0

-500.000

-1.000.000

-1.500.000

2004

Exportações (t)

2005

2006

2007

2008

Importações (t)

produtivo. De lá para cá, buscam-se opções que deem mais garantias ao produtor e que possam ajudar a diluir o crescente custo de produção. A soja começou a ganhar espaço na rotação de culturas, o produto gaúcho passou a figurar mais frequentemente no mercado internacional, foram realizadas capacitações e qualificações da mão de obra e o setor de pesquisas passou a receber fortes investimentos. Atualmente, o Irga é um dos cinco maiores pesquisadores de arroz do mundo. “Nesses quatro anos, o orizicultor passou a se ver muito mais como produtor rural e percebeu que suas possibilidades não se limitam apenas ao arroz”, afirma Pereira. O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, acredita que o amadurecimento da cadeia está contribuindo substancialmente com a estabilidade dos preços.

2009

Saldo (t)

2010

2011

2012

2013

2014*

* até setembro Fonte: MDIC. / Elaboração: Política Setorial - Irga

Pereira destaca que foram feitos dois movimentos: dentro e fora do Irga. Entre os movimentos internos, o presidente aponta a conquista do primeiro plano de cargos e salários da história da entidade e a realização do concurso público - o primeiro em 40 anos -, com a nomeação de profissionais de carreira, em vez de terceirizados. “Trabalhamos de forma transparente, reconhecendo o Conselho Deliberativo como parte representativa da cadeia orizícola. Também reforçamos nosso posicionamento como interlocutor entre as partes, sendo o cimento entre elas”, diz. Os movimentos para fora do Irga envolveram questões de mercado e logística, mas também tributárias e técnicas. A logística ainda é um grande entrave para o setor arrozeiro, já que até pouco tempo atrás não existia a cultura da exportação. A cabotagem melhorou a distribuição da safra, mas Pereira acredita que as hidrovias, ainda pouco explora-

Portos e cabotagem: projetos saem do papel Com a maior frequência nos embarques de arroz, algumas medidas em relação à estrutura portuária precisaram ser tomadas. Como as vendas externas antes eram muito pontuais, não havia um terminal específico para esse fim. De acordo com o superintendente interino do Porto do Rio Grande, Leonardo Maurano, era consenso que o cereal precisava de mais espaço no porto, além do turno disponibilizado para realizar os embarques. “Entre cabotagem e exportação, tivemos um crescimento de 55,42% nos últimos seis anos. Vendo essa necessidade, foi formado um grupo de trabalho composto por diversas entidades do setor para elaborar um relatório para um complexo exportador de arroz”, explica. Esse é o projeto que está saindo do papel em Rio Grande e deve elevar ainda mais o volume do cereal vendido a outros países e diminuir o custo da operação. Além de reformas na estrutura e na disponibilização de armazéns

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Foto: Divulgação/Tecon Rio Grande

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Cabotagem aumentou e vem se consolidando no abastecimento do país

Foto: Divulgação/Tecon Rio Grande

para o produto, está se desenvolvendo um projeto que conta com a instalação de um ship loader, que deve acelerar e ampliar a capacidade do porto. A nova tecnologia poderá embarcar 3 mil toneladas por dia de arroz ensacado e mil toneladas por hora a granel. Também foram firmadas parcerias com empresas privadas para atender às demandas. “A tendência, com os novos investimentos, é de que o arroz ganhe agilidade. Além disso, com a possibilidade de venda do ensacado abrem-se novos mercados, como o Oriente Médio”, destaca o superintendente. Para ele, a conquista de novos mercados e a fidelização de clientes são pontos visíveis no mercado de arroz nos últimos anos. Para o presidente da Abiap, a cabotagem veio para ajudar o Estado a atender a longas distâncias, especialmente no nordeste, onde Paulo Bertinetti, o consumo diretor-presidente do do cereal é Tecon Rio Grande 30

expressivo, com mais competitividade. “Além disso, a cabotagem dá estabilidade de entrega logística, sendo que temos dois navios semanais saindo de Rio Grande para esses destinos”, destaca Amaral. Porém, ele afirma que o setor ainda sofre com os custos do Porto do Rio Grande, se comparado aos portos de Santa Catarina. Maurano destaca que, nos últimos três anos, o crescimento da cabotagem foi significativo, especialmente na realizada por contêineres. “Do movimento do porto, podemos ver uma equivalência em torno de 60% na relação da cabotagem com as exportações. Em números consolidados de janeiro a maio, em 2014 temos cerca de 250 mil toneladas que foram encaminhadas para outros estados brasileiros e cerca de 390 mil toneladas que tiveram como destino outros países”, aponta o superintendente. De acordo com o Tecon Rio Grande, o setor arrozeiro continua sendo a principal carga transportada (70-75% do volume). Na exportação, o segmento está entre as cinco principais cargas movimentadas pelo Terminal. “Um dos motivos para o cresci-

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mento em 2014 foram as aberturas de novas rotas a partir do Tecon Rio Grande (São Luis-MA e Belém-PA), a retomada dos embarques diretos a Manaus sem transbordo e a abertura das escalas SouthBound em Rio Grande, que ofereceram maiores possibilidades para os clientes do Terminal”, explica o diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti. O Terminal vem, ao longo dos anos, buscando alternativas e diferenciais para viabilizar as operações de cabotagem para as indústrias que ainda não utilizam a operação.

Brazilian Rice consolida exportações Nos últimos quatro anos, o mercado internacional se tornou uma opção viável para os produtores que, antes, dependiam do governo quando a demanda interna não era atendida. O Brasil passou de exportador eventual para frequente, e parte dessa mudança de comportamento se deve ao programa Brazilian Rice. “Buscamos consolidar as exportações para mercados que já compram arroz brasileiro e aumentar o número de destinos das nossas exportações, criando novos mercados”, explica o gerente do projeto, André Anele. O Brazilian Rice foi uma parceria firmada durante a Feira Nacional do Arroz (Fenarroz), em maio de 2012, pela Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz), Agência Brasileira de Promoção da Exportação de Alimentos (Apex-Brasil) e Irga. O objetivo do programa é fortalecer o Brasil como produtor, beneficiador e exporta-


Foto: Luciara Schneid

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dor de arroz. O sucesso foi tão grande que já são 28 empresas envolvidas neste processo. Além César Marques, codo trabalho ordenador da Câmara externo, com Setorial do Arroz do RS participação em feiras e rodadas de negócios, o Brazilian Rice realiza rodadas de capacitação para que as empresas conheçam os padrões internacionais e possam se adaptar a eles. “O parque industrial trabalha com alta tecnologia e com certa facilidade poderá atender às especificações dos países que remuneram melhor”, afirma César Marques. Presidente Abiap, Marco Aurélio Amaral destaca que as exportações cada vez maiores de produtos de valor agregado (parboilizado T1 e branco T1 ) ajudaram a retirar os excedentes do mercado, que há anos atrapalhavam a comercialização,

mudando a matriz de exportação que estava sempre baseada em Quebrados de Arroz para Arroz Tipo 1. Ele aponta, ainda, a conquista de importantes destinos para o produto nacional. “Com a ajuda da Apex, temos conseguido mostrar nosso produto pelo mundo afora e começamos a ter uma imagem de fornecedores de produtos de qualidade e cumpridores de prazos”, afirma. Para 2015 já está sendo preparado um novo cronograma de capacitações e palestras. No ano comercial de 2011, o volume de grão exportado chegou a quase dois milhões de toneladas, batendo todos os recordes de exportação do cereal (o saldo da balança comercial foi de 1,057 milhões de toneladas). Em 2012, as exportações superaram 1.600.000 toneladas com saldo positivo de 619.037 toneladas. O ano de 2013 não foi diferente: foram exportadas mais de 1.200.000 toneladas do cereal gerando um saldo positivo de mais de 182.000 toneladas. O resultado parcial de 2014, até setembro, se aproxima de

Exportações brasileiras (base casca) jan/2013 até dez/2013 Países

Exportações

CUBA

158.042

VENEZUELA

148.070

SENEGAL

139.969

SERRA LEOA

110.065

BENIN

108.792

NICARÁGUA

105.429

GÂMBIA

103.355

PAÍSES BAIXOS (HOLANDA)

75.804

PANAMÁ

40.969

BOLÍVIA

37.929

SUÍÇA

29.852

ANGOLA

24.891

PERU

21.779

COSTA RICA

20.000

TRINIDAD E TOBAGO

13.861

ESTADOS UNIDOS

12.342

ÁFRICA DO SUL

7.896

GUATEMALA

7.200

ARÁBIA SAUDITA

5.744

CABO VERDE

4.778

SÃO VICENTE E GRANADINAS

4.294

Outros

28.486

Total

1.209.546

um milhão de toneladas exportadas, com a tendência de encerrar o ano com mais um saldo positivo na balança comercial.

As ações do projeto 2013 12 capacitações das indústrias; entrega dos estudos dos mercados-alvo; lançamento de catálogo e encarte do projeto; projeto Comprador ExpoArroz (Pelotas, RS); criação da marca Brazilian Rice; cadastro das indústrias fornecedoras da ONU; Feira Anuga (Alemanha); prospecção de mercado África (Angola e África do Sul). 2014 Lançamento do site e do Facebook Brazilian Rice; 2ª etapa de capacitação das indústrias (5 treinamentos); Feira de Alimentos - Gulfood (Dubai); projeto Carnaval ApexBrasil; projeto Comprador APAS (São Paulo); Rice Market & Technology Convention (Costa Rica); Expoalimentaria (Peru); Rodada de Negócios Alimentos (Cuba); Missão prospectiva SIAL Paris e Espanha; 18th Americas Food & Beverage (Miami – EUA).

2015 Projeto Comprador - Expoarroz 2015 – Pelotas – RS; Rice Convention – Cancún, México – junho de 2015. Principais ações do Irga Presença na Rice Convention em Miami (2012); Missão Empresarial do RS à Nigéria (junho de 2013); Missão do governo brasileiro à Nigéria (outubro de 2013); rodadas de negócios e presença marcante nas três últimas edições da Expodireto Cotrijal, além de acompanhar o Brazilian Rice nas principais feiras e rodadas de negócios; aplicação dos recursos do Irga nos 17 cursos de capacitação das indústrias para a internacionalização, nos estudos dos oito países escolhidos como mercados-alvo, na impressão dos catálogos e encartes do projeto e cedência de sala para o uso da administração do Projeto Brazilian Rice.

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Para os próximos anos, Pereira aposta em preços firmes e mais espaço para a soja, além da consolidação do Brasil no exterior. Outro passo que o presidente do Irga aponta como certo para o setor orizícola é a rastreabilidade, que classifica como pauta recente, mas urgente. “A melhora na renda das pessoas aumenta a exigência em relação aos alimentos consumidos, então o mercado vai sempre exigir mais do setor produtivo”, diz. A demanda é do mercado internacional, especialmente de países da União Europeia. “Esse é o desafio que se apresenta, e o Irga, assim como está preparando a indústria para a internacionalização, vai preparar o produtor para o atendimento desse novo momento da orizicultura gaúcha”, ressalta o chefe de gabinete do Irga. A rastreabilidade eleva o custo para o produtor e para o consumidor,

mas isso não deve ser um problema ao setor produtivo, acredita Pereira. “A pessoa que exige qualidade paga por isso”, diz. Amaral acredita que é preciso manter a sinergia boa que está na cadeia produtiva, “unindo forças para fortalecermos os elos da cadeia, buscando alternativas no exterior e trabalhando na manutenção e incremento do arroz no mercado interno e na diversificação de produtos”. Para o presidente da Federarroz, mesmo com o mercado enxuto e a alta liquidez, após dois anos de relativa folga, o próximo ano inspira cuidados. “Precisamos nos reorganizar e pautar os novos desafios para produtores e indústrias. A união deve crescer, com a participação de organizações como o Presidente da Irga”, aponta Federarroz, Henrique Dornelles. Dornelles

Foto: Robispierre Giuliane

Rastreabilidade é o futuro

Cresce área de rotação de culturas Usar um produto agrícola que reponha nutrientes no solo, ajude a combater plantas daninhas e ainda gere renda ao produtor parecia um sonho distante há quatro anos. A área dedicada à rotação de culturas nas regiões produtoras de arroz era de apenas 60 mil hectares em terras planas. Neste ano, a área deve ficar novamente acima dos 300 mil hectares. Por meio de pesquisas e divulgação de resultados, o Irga vem estimulando o produtor a realizar a rotação com a soja também por uma questão logística. “A oleaginosa permitiu que o produtor diluísse a oferta de arroz ao longo do ano, saindo daquela sazonalidade de superoferta e preços achatados no primeiro semestre, por ocasião da colheita, e de falta de oferta e preços elevados no fim do ano por falta de produto”, explica Pereira.

Produto agroecológico ganha espaço O mercado de arroz orgânico também vem crescendo nos últimos anos. De acordo com o sócio-proprietário da Volkmann Alimentos, João Batista Volkmann, isso se deve a uma maior preocupação dos consumidores com o produto que colocam na mesa. “Vemos muitas pessoas com mais consciência em relação à alimentação, que buscam sempre conhecer a origem da sua comida”, avalia. Isso se reflete também na crescente demanda por arroz integral, mais nutritivo do que as versões beneficiadas. Para o presidente da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs) e da Cooperativa dos Produtores Assentados na Região de Porto Alegre (Cootap), Emerson Giacomelli, o crescimento na demanda nos últimos 12 anos foi de mais de 20%. “Tivemos a abertura de novos mercados como, por exemplo, a demanda para merenda escolar e o incentivo que a

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Conab dá para esta modalidade de compra”, aponta. O empresário destaca que a tendência de crescimento dos últimos anos é constante e saudável. “O que acontece é que a demanda externa é muito grande e não conseguimos atender completamente. É preciso que empresas grandes e sérias se disponham a investir nesse nicho por três a quatro anos para que possamos acompanhar esse crescimento”, afirma Volkmann. A criação de uma linha de crédito específica para a produção orgânica, treinamento de técnicos e melhora na infraestrutura das propriedades são opções apontadas por Giacomelli para alavancar a produção das variedades agroecológicas. “Nos últimos anos, houve uma melhora significativa, mas ainda há muito o que caminhar. O que temos são políticas de governo, e não de Estado, e isso acaba gerando insegurança ao produtor”, avalia o presidente da Cootap.


Capa

O

Rio Grande do Sul é responsável por 60% do arroz produzido no Brasil. Se fosse um país, seria o segundo maior produtor fora da Ásia. No Estado, existem 266 indústrias beneficiadoras, distribuídas em 133 municípios, e a cadeia produtiva do cereal proporciona 232 mil empregos diretos e indiretos com uma arrecadação de ICMS na ordem de R$ 400 milhões. No que diz respeito ao PIB estadual, o grão fica apenas atrás da soja. Secretário de Agricultura do Estado, Claudio Fioreze destaca que, para dar à produção orizícola a atenção proporcional à sua importância, o caminho foi longo. Em 2011, ainda havia uma dificuldade de articulação com o Governo Federal, adiando ações e soluções para o desenvolvimento sustentável não só do arroz, como de todas as cadeias produtivas do Rio Grande do Sul. “Havia cinco anos que a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz do RS não era convocada. Essa atitude acabava por beneficiar sempre os elos mais fortes da cadeia produtiva, aumentando a desigualdade e prejudicando os setores menos estruturados econo-

micamente”, aponta o secretário. Juntamente com esse quadro, o descaso com o Irga comprometia o planejamento estratégico sério de médio e longo prazo. Para reverter este cenário, foram tomadas medidas na esfera estadual. Fioreze destaca que o governo retomou o seu papel indutor e conferiu ao Irga o protagonismo de principal articulador e executor das políticas de desenvolvimento do setor arrozeiro, com investimentos nas áreas de pesquisa, extensão, inovação e promoção comercial, sempre articulado com o Governo Federal e a cadeia como um todo. Houve a repactuação das dívidas históricas dos orizicultores com valores disponibilizados na ordem de R$ 1,5 bilhão, que organizou e reintegrou os produtores ao crédito agrícola oficial e apoiou o Projeto Brazilian Rice, com participação nas principais feiras de alimentos do mundo. Com essas e outras ações, foi possível chegar a um quadro histórico que o secretário resume como “estabilização dos preços do arroz”. “Passar três anos com preços remuneradores, com diversificação na renda, é funda-

Foto: Fernando Dias/Seapa

Fioreze: Irga voltou a ser protagonista no setor arrozeiro mental para a confiança dos produtores”, afirma. Para o futuro, o secretário acredita ser essencial Claudio Fioreze, secreestimular a tário da Agricultura secagem e armazenagem da produção na propriedade rural, através do Programa RS Mais Grãos, aprofundar ainda mais a difusão do desenvolvimento de sistemas integrados de produção nas terras baixas, ampliando a produtividade e o uso de novas culturas para rotação, sempre melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo, estimular a pesquisa e manter a luta pela redução da carga tributária. “É fundamental não nos isolarmos, continuando a realizar intercâmbios, missões diplomáticas, convênios com as diversas entidades de pesquisa, governos e órgãos do país e do exterior, para aprimorar tecnologias e possíveis parcerias para transferência e trocas de conhecimento, bem como oportunidades de mercado”, destaca.

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Consumo

Arroz na estrada: Irga leva mais de 10 toneladas do cereal ao público Desde 2011, o Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz promove oficinas, palestras e degustações para difundir o cereal no Rio Grande do Sul

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basta produzir na lavoura e deixar estocado nos silos. É preciso haver consumidores conscientes, que vão buscar qualidade de vida por meio da alimentação”, diz Cléo. A formatação dos eventos foi feita aos poucos, com a experiência adquirida, e o escopo de atuação do programa segue crescendo. Além das palestras, oficinas e degustações, a nutricionista participa também de gravações de programas televisivos, por exemplo. A cada início de estação, ela coloca o arroz na mesa no quadro de receitas do programa Rio Grande Rural, parceria com a Emater-Ascar. O programa é veiculado no Estado pela TVE, mas chega a

outras regiões do Brasil por meio de convênios e pela internet, tendo um alcance que, muitas vezes, surpreende a própria nutricionista, que já recebeu mensagens do Acre. Na hora de desenvolver as receitas para os diferentes eventos, a criatividade fica por conta da equipe de gastronomia. “Temos que fazer um trabalho gastronômico com aceitação e entendimento do público, para que eles despertem para a possibilidade de formas de preparo diferentes. Como não sou chef, não tenho compromisso com a alta gastronomia. Meu objetivo não é esse, mas sim que cada vez mais pessoas consumam o arroz”, afirma Cléo. Foto: Diogo Brondani

F

oram mais de 10 toneladas de arroz e milhares de quilômetros percorridos para chegar a aproximadamente 100 municípios da metade sul do Estado. O objetivo: incentivar o consumo do cereal no Rio Grande do Sul. Desde 2011, o Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz realiza oficinas de capacitação, palestras e degustações e leva o arroz gaúcho a diversas feiras agropecuárias. Contando com dois trailers-cozinha, um motorhome, um caminhão-baú e um carro de apoio, o coordenador de eventos do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Alfredo Botana, a nutricionista da autarquia, Cléo Amaral, e uma equipe de seis pessoas são responsáveis pela difusão do arroz gaúcho. A cada ano, aumenta o número de eventos dos quais o instituto participa, e Botana acredita que isso se deva à visibilidade conquistada ao longo do projeto. “Tudo o que fazemos é para o público, para todos”, enfatiza. Em 2011, foram 38 eventos, passando para 74 no ano seguinte e para 92 em 2013, e o fechamento em 2014 deve ser ainda maior - já em setembro eram 60 eventos, antes mesmo do período de maior realização das expofeiras, que se concentram no final do ano. “Sempre brinco com os amigos agrônomos que não

A equipe de gastronomia do Irga foi homenageada em julho no Mosaico do Agronegócio

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As capacitações podem acontecer de diferentes formas no âmbito do programa. As oficinas abordam vários temas, conforme o público e a necessidade da região. Se a capacitação for para merendeiras, por exemplo, fala-se em boas práticas, controle de higiene e manipulação de alimentos, benefícios nutricionais, além de sugestões para o lanche dos alunos. “Buscamos trabalhar também a autoestima das merendeiras, que são educadoras da alimentação. Elas têm uma grande importância na formação dos hábitos alimentares das crianças”, explica Cléo. As capacitações também se aproximam da agricultura familiar, levando em consideração a jornada árdua de trabalho dos produtores. Nas oficinas, os participantes trocam receitas e dicas, além de fazerem preparações. Essa troca também inspira a nutricionista: o arroz de leite com casca de lima ralada, uma das receitas inovadoras à base do cereal, foi dica da avó de uma produtora. Outra receita de arroz de leite, feita com o grão integral, foi apresentada em São Gabriel. Em Santa Cruz do Sul, uma das participantes

da oficina a reconheceu e lembrou da sobremesa. “Aquilo marcou ela, que incorporou a receita e passou a fazê-la em casa”, conta Cléo. Algo semelhante aconteceu com Érica Teixeira, 31 anos. A agricultora e monitora do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Tavares, participou de uma oficina no próprio centro em abril deste ano, voltada ao público do Bolsa Família e agricultores da região. Na capacitação, falaram sobre o valor nutricional do arroz, a importância do consumo e como aproveitar alimentos. “Fizemos risoto, arroz de leite e usamos a farinha de arroz em bolos e tortas. Muitos levaram adiante (o uso da farinha), pois acharam mais rentável. Aqui no Cras usamos bastante na merenda das crianças”, conta. A própria agricultora incorporou a farinha no dia a dia - segundo ela, o pão-de-ló fica mais macio e mais aerado do que com outras farinhas. Ela destaca que muitos produtores conheciam só o arroz branco e deixavam de comer o integral por não saber como prepará-lo, mas mudaram esse hábito após a oficina.

Degustações conquistam o público Os mais de 2 mil quilômetros percorridos até Brasília levaram a equipe ao ponto mais longínquo em que o Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz já chegou. Por duas vezes, o Irga participou da Expotchê, preparando uma paella campeira - o grande sucesso das degustações - para mais de 300 pessoas em cada edição. Como sobremesa, foi servido o arroz doce. Botana destaca que, dos muitos eventos de que a autarquia participa, alguns merecem destaque, como Expointer - que este ano recebeu mais de 500 mil pessoas -, Fenarroz, Expoarroz e Expoagro Afubra. A maior em número de degustações, porém, são as Aberturas da Colheita do Arroz. Nos últimos três anos, foram feitas degustações para quatro mil pessoas a cada edição. O coordenador destaca que o crescimento do Irga também pode ser visto em metros: no último ano, a autarquia ocupou o maior estande da Fenarroz, com 400m².

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Consumo

Muito além do polido branco, conheça

tipos diferenciados de arroz Apesar de o polido branco ainda ser o preferido dos brasileiros, tipos diferenciados do cereal podem ter alto valor nutricional e são ideais para pratos elaborados

T

radicionalmente, o brasileiro tende a voltar seus olhos para o arroz polido branco na hora de fazer as compras do mês. Ainda que o parboilizado e o integral estejam ganhando espaço na mesa, outras variedades do grão de grande valor nutricional e sabor característico ainda são deixadas de lado, mas têm muito espaço para expandir. Segundo o gerente de marketing da Camil Alimentos, Alexandre Du Rocher, o arroz branco e o parboilizado representam mais de 80% do volume de vendas da marca, mas é perceptível um crescimento significativo na comercialização dos demais tipos do grão. “Nos últimos anos o brasileiro vem buscando experimentar novas variedades, que 36

foram estimuladas, em parte, pelo interesse do consumidor em conhecer novos pratos”, conta Du Rocher. Diretor da Blue Ville, Maurivan Dalben também acredita que há um interesse crescente por diferentes tipos de arroz. “Em sua maioria são chefes de cozinha, mas hoje está se notando a tendência em fazer pratos especiais em casa”, afirma. Segundo Dalben, vale a pena investir em uma variedade maior de grãos para dar amplitude para a marca e oferecer mais opções ao cliente. Uma delas é o arroz japonês, utilizado no preparo da comida japonesa, como o sushi, o takikomi-goham (arroz com frango e legumes) e aomame-gohan (arroz com ervilhas). Seus grãos curtos

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e arredondados formam uma liga cremosa devido ao amido diferenciado. O arroz japonês geralmente é cozido sem gordura, utilizando apenas água e pouco sal. Muitas vezes, o arroz japonês é utilizado também no preparo de risotos, pois, por ter alto teor de amido, adquire uma textura semelhante à do arroz arbóreo, com o qual o prato é tradicionalmente preparado. No Japão, o tipo mais comum de arroz japonês é o Koshihikari. Já no Brasil, o tipo cultivado é o Formosa. Há 20 anos, Luiz Maurício Vieira e Claudiomar de Almeida cultivam arroz japonês em Turuçu, na região Sul do Estado. Segundo Vieira, a dupla utiliza no arroz japonês o mesmo adubo que no arroz polido branco.


Consumo

“O desafio é acertar na quantidade de nitrogênio. Tem gente que faz a opção de colocar o mínimo de nitrogênio, produz um pouco menos, mas a colheita se torna mais fácil ”, conta Vieira. O nitrogênio é uma importante parte do processo de adubagem, pois ele é responsável pelo aumento da eficiência de absorção da radiação solar e da taxa fotossintética, assim como da produtividade de grãos. Vindo da Itália, o arroz arbóreo conquista cada vez mais adeptos no Brasil. Seu grão mais arredondado e longo forma uma liga cremosa depois de cozido, ideal para o preparo de risotos, saladas, canjas e sopas. Assim como o arbóreo, o arroz cateto fica macio quando cozido e adquire essa consistência cremosa. Com o grão curto e arredondado, o cereal é muito consumido na forma integral e é rico em carboidratos complexos, cálcio, sódio, vitaminas

do complexo B, proteínas e fibras alimentares. Emerson Giacomelli, coordenador da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre, produz arroz cateto há sete anos em Nova Santa

Há um mercado crescente para o consumo de grãos especiais

Rita. Segundo ele, que também produz o arroz polido branco, deve-se ter atenção em fazer a colheita do cateto no tempo exato, pois o grão tende a cair mais fácil, principalmente se o solo for muito fértil. Ele afirma que incentiva outras famí-

lias a produzirem os tipos especiais de arroz pois, na sua avaliação, existe um mercado crescente na procura de grãos diferentes. Outra variedade, o arroz selvagem é a semente de uma gramínea aquática, típica dos Estados Unidos e Canadá. O grão escuro e comprido é pobre em gorduras e rico em proteínas e fibras. Segundo a nutricionista do Irga, Cléo Amaral, o alto teor de fibras colabora para o funcionamento do intestino e reduz o colesterol. É também uma boa fonte de vitaminas do complexo B, fósforo e potássio. Com um sabor que lembra nozes e textura macia, é muito utilizado em pratos sofisticados com carnes defumadas, peixes, faisão ou mesmo em saladas especiais. “As pessoas têm resistência, às vezes, por ele ser um pouco mais caro do que o branco. Por isso, uma dica é misturá-lo com outros tipos de arroz”, afirma Cléo.

Arroz vermelho tem alto teor de ferro e zinco Uma variedade que ainda é pouco consumida no sul do Brasil é o arroz vermelho. Utilizado na China como medicamento natural, ele foi trazido ao Brasil pelos portugueses e se tornou o primeiro arroz a ser cultivado no país. Na maior parte do Brasil, o grão em estado selvagem é considerado uma praga nas lavouras. No entanto, no nordeste brasileiro o arroz vermelho é cultivado e consumido em larga escala. Por ser parcialmente polido, ele retém maior número de nutrientes, e a sua composição se destaca pelo alto teor de ferro e zinco. Além de ser um aliado contra a anemia, ele ajuda na circulação sanguínea e diminui os níveis de colesterol. Outra variedade, de grão escuro, curto e arredondado, o arroz preto apresenta textura firme, sabor exótico e aroma diferenciado. Cultivado há mais de 4 mil anos na China, o alimento era considerado até mesmo afrodisíaco. No Brasil, ele está presente em receitas elaboradas, como risotos, peixes de sabor acentuado, frutos do mar e carnes de caça. Segundo Cléo

Amaral, nutricionista do Irga, esse é o tipo especial de arroz com maior valor nutricional. Isso porque, além de possuir proteínas e fibras, é rico em compostos antioxidantes, vitaminas E e vitaminas do complexo B. Isso contribui para a prevenção de doenças cardíacas, melhora a memória e regulariza as taxas de açúcar no sangue. Assim como o selvagem, o arroz preto tem um custo maior, então pode ser aplicada a mesma dica: misturá-lo com outro arroz mais comum. O arroz aromático mais conhecido é o Jasmim, ideal para a culinária tailandesa e sobremesas feitas com arroz. Ele é conhecido como um dos arrozes mais agradáveis do mundo. Com textura macia e úmida, ele está em segundo lugar na classificação do arroz em relação ao conteúdo de proteína. Já o Basmati é um arroz aromático de grão longo, geralmente usado em pratos indianos. Considerado leve, acompanha pratos que levam condimentos como curry, sendo muito utilizado para fazer o pilaf, arroz preparado com especiarias, mais popular no Oriente Médio.

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Consumo

Farinha de Arroz é opção

nutritiva para celíacos Sem glúten, os subprodutos do arroz surgem como alternativa saudável no preparo de receitas e ganham espaço no mercado

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Consumo

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uem vê o arroz no prato, já branco - o favorito dos brasileiros -, polido e cozido não imagina os processos pelos quais o cereal passou para ficar dessa forma. Antes de chegar à mesa, o grão passa por processos como o beneficiamento, que envolve limpeza, descascamento, brunição (separação do arroz integral em branco e farelo), homogeneização, classificação, embalagem e expedição. Essas etapas geram resíduos que por muito tempo foram ignorados pela indústria, mas passam a ganhar a atenção de consumidores e empresários. A casca do arroz, por exemplo, serve como combustível para caldeiras e fornos, e o farelo pode ser usado no preparo de bolos de carne, feijão e tortas. Desse material, ainda é possível extrair óleo para ser aproveitado na culinária. Outro subproduto, a farinha é usada amplamente nos Estados Unidos e na Ásia e vem ganhando espaço no Brasil. Em um momento em que os consumidores passam a prestar mais atenção no valor nutricional e nos benefícios dos alimentos, os produtos à base de arroz se sobressaem, especialmente para aquelas pessoas com doença celíaca, que causa intolerância permanente ao glúten, uma mistura de proteínas presente em diversos cereais, mas ausente no arroz. Em Porto Alegre, a Casa do Pão Sem Glúten - Terraço Café trabalha há sete anos com esse público e tem a farinha de arroz como um dos principais ingredientes no preparo de tortas, panetones e bolos. “É muito grande a procura de pessoas com restrição alimentar por nossos produtos, porque, assim, eles podem voltar a comer alimentos que

não podiam em função do glúten, como o pão, por exemplo”, diz a proprietária do estabelecimento, Lilian Hudson. Nutricionista do Irga, Cléo Amaral destaca os benefícios da farinha e de outros subprodutos do arroz. “Esse insumo é muito bom para fazer empanados, porque ele absorve menos gordura. Além disso, o teor de aminoácidos essenciais encontrados nele é bem elevado. O vinagre de arroz é outro elemento muito saudável e saboroso que nós, infelizmente, não usamos muito. Ele tem função antisséptica, ou seja, podemos usá-lo para fazer limpeza de folhas antes de consumi-las, pois ele também elimina bactérias como salmonela.” Ela destaca, ainda, que o farelo de arroz é um alimento funcional, ou seja, tem ação preventiva contra doenças e apresenta propriedades anticancerígenas.

Mercado de subprodutos do arroz é promissor Ainda que possa substituir a farinha de trigo em diversas receitas, a consistência dada pela farinha de arroz aos produtos pode ser diferente, e misturá-la com outras farinhas também é uma opção. “Para conseguir uma boa liga na massa em algumas preparações em que se usa essa farinha, costumamos misturar outros tipos de farelo como o de batata, de amido ou de polvilho. Para o pão ter uma textura macia, por exemplo, a gente faz uma mistura de três a quatro tipos de farinha”, afirma Lilian. A miscelânea feita pela empresária pode, também, ser comprada em supermercados.

Engenheiro de produção do Grupo Comercial de Cereais Maninho (Comman), Ricardo Drechsler afirma que algumas empresas têm adquirido o insumo para fabricar esse tipo de concentrado. O Comman começou a vender a farinha de arroz, em um primeiro momento, para as cervejarias, já que esse tipo de empreendimento queria empregar cereais não-maltados na bebida para obter um sabor mais suave. Entretanto, depois de um tempo, as próprias cervejarias começaram a obter esse subproduto. Em contrapartida a esse movimento, o uso doméstico cresceu, tendo em vista o número de pessoas que foram diagnosticadas como celíacas e encontraram nesse insumo uma substituição viável para a farinha de trigo. O engenheiro da Comman mostra-se confiante no crescimento desse nicho de mercado. “Atualmente, 80% das nossas vendas são para empresas que fazem o concentrado de farinhas e 20% para uso doméstico. Ainda não temos uma inserção grande no mercado, porque falta divulgação dos benefícios e usos do produto, mas, apesar das dificuldades, percebemos um crescimento pela procura nos últimos anos”, diz Drechsler. Diretor comercial da Cerealle – que utiliza o arroz na produção de farinha e crispies, por exemplo –, Edmar Araújo observa a consolidação da exportação de quebrados de arroz, mas escassez de produtos melhor elaborados. “Houve aumento da exportação de quebrados e consolidação deste mercado devido a um cenário externo favorável. Por outro lado, isso desestimula o desenvolvimento de um mercado de produtos de maior valor agregado”, avalia.

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Receita

Fotos: Márcia Schuler

T Risoto primavera é a sobremesa da estação Ingredientes: • 1 xícara (chá) de arroz branco, japonês ou arbóreo pré-cozido • 1½ xícara de água fria • 1 xícara (chá) • Cravo a gosto • 1 kg de frutas picadas - sugestões: manga, kiwi, morango, maçã, banana • Água quente para terminar de cozinhar o arroz • ½ xícara (chá) de leite condensado • 2 colheres (sopa) de manteiga • Raspas de limão ou ½ xícara de suco de maracujá (opcional)

Modo de preparo: 1 Em uma panela grande, coloque a xícara de água fria, o açúcar e os cravos. Deixe ferver. 2 Coloque as frutas, deixe cozinhar por alguns minutos, retire uma porção e reserve para fazer a decoração. 3 Coloque o arroz cozido nessa calda com frutas e adicione a água quente aos poucos, mexendo sem parar até evaporar e o arroz atingir a consistência desejada. 4 Desligue o fogo e acrescente a manteiga, as raspas de limão ou o suco e o leite condensado. 5 Coloque o risoto em um prato de sobremesa e modele. 6 Decore o prato com as frutas que ficaram reservadas. 40

radicional prato italiano, nesta receita elaborada pela nutricionista do Irga, Cléo Amaral, o risoto vira sobremesa. Para quem quer ir além do arroz de leite, o risoto primavera é uma opção prática, econômica e saborosa para o dia a dia. É possível aproveitar o arroz que sobrou de alguma refeição e usar as frutas nativas que você tem no quintal. No risoto tradicional, costuma-se utilizar o arroz arbóreo, que contém alto teor de amido e, por isso, fica mais cremoso. Aqui, o arbóreo pode ser substituído pelo arroz japonês ou mesmo pelo branco. De preparo fácil, a receita pode ser feita em menos de 30 minutos e rende aproximadamente 20 porções.

1

Dicas extras • Dê preferência a frutas da estação: é mais econômico e saboroso. 2

• Inclua frutas consistentes na mistura, para que não se desmanchem totalmente no risoto. • No lugar do suco de maracujá, pode ser utilizado qualquer suco cítrico, como de bergamota ou laranja.

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• Se sobrou arroz do almoço de ontem, que tal aproveitá-lo para fazer esta sobremesa? • Para decorar o prato, experimente também utilizar frutas frescas.

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Artigo técnico

Manejo integrado é aliado para obter

lavoura produtiva Semeadura no período preferencial, adubação, controle de pragas e irrigação são palavras-chave para colher bons resultados

Alessandro Queiroz Engenheiro agrônomo e gerente da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural do Irga

G

arantir uma lavoura produtiva é o objetivo de todo orizicultor, e o manejo integrado é um grande aliado nessa missão. São muitos os fatores envolvidos, alguns

podem ser controlados, outros, não. E é a interação desses elementos que atuam no sistema produtivo como um todo que determina a produtividade, a qualidade de grãos e o retorno econômico – daí a importância de integrar o manejo (Figura 1). Um fator essencial é aproveitar o período preferencial

de semeadura, que pode ir de setembro a novembro, dependendo da região e do ciclo da cultivar utilizada. A prática possibilita um melhor estabelecimento da cultura, economia de água, menor interferência de doenças e uma colheita em condições mais favoráveis para o produtor.

ÉPOCA DE SEMEADURA

ADEQUAÇÃO DO SOLO

CULTIVARES

MANEJO INTEGRADO

DOENÇAS

ERVAS DANINHAS

MANEJO DE ÁGUA

PRAGAS

NUTRIÇÃO DE PLANTAS NUTRIÇÃO DE PLANTAS

Figura 1 Outubro, novembro e dezembro de 2014 | Lavoura Arrozeira No463

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Artigo técnico

100 Luz solar requerida acumulativa (percentual do possível)

A época de semeadura deve ser planejada em função da probabilidade de ocorrência de temperaturas baixas durante a fase reprodutiva, para coincidir essa etapa com dias de maior radiação solar, conforme a Figura 2. Para cultivares muito precoces, o período preferencial vai de 1º a 30 de novembro; para as precoces, de 15 de outubro a 10 de novembro; para as de ciclo médio, de 5 de outubro a 10 de novembro; enquanto com as cultivares tardias é possível semear até 10 de outubro.

PERÍODO CRÍTICO DE DEMANDA DE LUZ PARA RENDIMENTO DE GRÃOS

75

50 FASE VEGETATIVA

FASE REPRODUTIVA

0 EMERGÊNCIA

PERFILHAMENTO

DPP (densidade populacional de perfilhos)

ENCHIMENTO DE GRÃOS

MATURAÇÃO

Estágios de desenvolvimento

Figura 2

Adubação O potencial genético das cultivares, o manejo do solo e da cultura e as diferentes condições edafoclimáticas – relativas a solo e clima – de cultivo determinam potenciais diferenciados de produtividade da cultura e a resposta à adubação. Por isso, uma boa resposta é esperada quando o arroz for cultivado em condições favoráveis, contando, especialmente, com a alta

FLORESCIMENTO

radiação solar no período reprodutivo. As recomendações de adubação para a cultura do arroz foram alteradas em 2010 para diferentes expectativas de resposta à adubação (SOSBAI, 2010). As novas recomendações são apresentadas conforme as expectativas de resposta média e alta à adubação. No manejo de nitrogênio, as re-

Fonte: STANSEL (1975)

comendações são medidas em função do teor de matéria orgânica do solo, para expectativas de respostas alta e muito alta. Para os sistemas em solo seco (convencional, cultivo mínimo e plantio direto) recomenda-se aplicar, na semeadura, entre 10 kg e 20 kg de nitrogênio por hectare, e o restante em cobertura. Então, deve-se aplicar em torno

Manejo recomendado - adubação nitrogenada Cv. Precoces - 120 Kg N/ha = ~240 kg de uréia M.O: 1,4 IRGA: 60% V3-V4, 20% V6, 20% V8 1ª COBERTURA ANTES DO ALAGAMENTO 72 kg N

24 kg N 24 kg N

20-30 kg de N/ha

SEMEADURA

ALAGAMENTO

Figura 3 42

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COLHEITA Fonte: IRGA


Artigo técnico

de 50% da dose total no estádio V3 ou V4, e o restante em V6 ou V8. Confira na Figura 3. Já a adubação fosfatada é estabelecida pela faixa de interpretação do teor de fósforo no solo, para expectativas de resposta alta e muito alta à adubação. Nos sistemas em solo seco, é preferível aplicar os fertilizantes em linha, por ocasião de semeadura. No sistema pré-germinado, os fertilizantes podem ser aplicados e incorporados com enxada rotativa ou grade na formação da lama, ou após nivelamento da área. As recomendações de potássio levam em consideração as classes de capacidade de troca de cátions (CTC a ph7,0) do solo, conforme indicação técnica da pesquisa (SOSBAI, 2010). A adubação potássica pode ser fracionada para evitar perdas do nutriente, aplicando-se a metade no preparo do solo (pré-germinado) ou na semeadura (solo seco), e a outra na cobertura junto à segunda aplicação de nitrogênio.

Controle de invasoras Para manter a lavoura livre de plantas daninhas, é possível adotar métodos preventivos. Entre eles está optar por sementes puras, fazer a limpeza das taipas, manter canais de irrigação e drenagem limpos e protegidos, utilizar quebra-ventos como proteção e impedir a produção de sementes dessas invasoras. Há também métodos culturais que auxiliam o produtor a manter as invasoras afastadas, como a rotação de culturas (soja, milho

e integração lavoura-pecuária) e a sistematização do solo. Deve-se ainda observar a densidade da população de plantas – se há pouco densamento, sobra espaço para que plantas daninhas se estabeleçam – e em manter um bom espaçamento entre as linhas. O sistema pré-germinado também é um aliado contra as plantas daninhas, pois está sempre inundado e impede a germinação de outras plantas. Por isso é importante observar o manejo do nível água – uma vez colocada, deve ser mantida. Outra atitude importante é escolher cultivares resistentes ao herbicida do grupo das Imidazolinonas. Métodos físicos também podem auxiliar. Deve-se observar, por exemplo, a altura das taipas, que não deve passar dos 20 cm, e da lâmina d’água, que deve ficar entre 5 cm e 10 cm. O preparo de solo antecipado é altamente recomendado, pois faz com que o produtor possa plantar no período certo e, consequentemente, faça o controle de plantas daninhas no tempo ideal. Outro aliado, o cultivo mínimo evita que sementes de plantas daninhas que estejam em partes mais profundas da terra cheguem à superfície. Já a catação (roguing) ajuda a evitar a reinfestação. Entre os métodos químicos, é importante observar a escolha do herbicida adequado para cada planta daninha. Para isso, o produtor deve avaliar eficiência, custo, planificação, conhecimento, disponibilidade e integração com as demais práticas. Feita a escolha, é necessário pensar a tecnologia de aplicação e evitar hiperdose, que leva à contaminação da lavoura.

Outro ponto a ser observado é a prevenção e o manejo da resistência aos herbicidas. Além disso, deve-se observar o estádio de controle dos infestantes (controle das gramíneas anuais de três a quatro folhas expandidas).

Irrigação Para que o uso da água seja mais eficiente, recomenda-se sua entrada na lavoura o mais cedo possível, no estádio em que o colmo principal da planta apresenta de três a quatro folhas (V3/V4), expandidas com uma lâmina de 5 cm a 10 cm. A entrada da água deve acontecer logo depois da aplicação dos herbicidas e da primeira aplicação do adubo nitrogenado em cobertura. Pesquisas mostram que, para cada 10 dias de atraso na entrada da água, há redução no desenvolvimento da planta e se perde aproximadamente uma tonelada por hectare na produtividade dos grãos. Em qualquer sistema de cultivo, recomenda-se evitar o extravasamento da água da lavoura durante todo o período da cultura, e se for necessário retirar a água, não é recomendável fazê-lo antes de completar 30 dias de aplicação de agrotóxicos. A supressão da irrigação, como regra geral, deve ser iniciada somente quando a maioria dos grãos tiver alcançado o estado pastoso (20 a 30 dias após a floração). O volume de água necessário é aquele satisfatório para: saturar o solo; formar uma lâmina; compensar a evapotranspiração; constituir os tecidos das plantas; repor as perdas por percolação e infiltração; e suprir todas as perdas no sistema de condução e distribuição na lavoura.

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Tecnologia

Irrigação aumenta produtividade e dá

segurança ao produtor Técnicos e orizicultores podem receber capacitações para escolher os melhores métodos para a lavoura

A

irrigação tem se mostrado estratégica para orizicultores que utilizam a rotação com a soja e milho. No Rio Grande do Sul, 100% das áreas cultivadas com arroz comercial são irrigadas. Na safra 2013/14, foram 1.115 milhão de hectares irrigados, com produtividade média de 7.263 kg por hectare. Para as demais culturas, porém, a área ainda está aquém do desejado. De acordo com a Emater/RS, no mesmo ano-safra, foram cultivados aproximadamente 5,2 milhões de hectares com soja e de 1,1 milhão de hectares com milho no Estado. Do total da área de soja, aproximadamente 302 mil hectares foram cultivados em terras baixas em rotação de culturas com o arroz irrigado. Desde a temporada 2012/13, o Irga vem desenvolvendo pesquisas envolvendo o milho em áreas de arroz utilizando a irrigação por sulcos. No último ano, os resultados obtidos foram considerados satisfatórios pela entidade e indicam uma boa viabilidade do uso da cultura, que ajuda a combater plantas daninhas como o arroz vermelho. Este ano, 3,6 hectares foram cultivados com sistema de irrigação e outros 3,6 hectares, sem. Nas áreas irrigadas, o rendimento ficou 44

entre 12 e 13 toneladas por hectare, enquanto nas que dependiam das questões climáticas ficou em apenas três toneladas por hectare. Na safra 2012/13, o volume e a regularidade das precipitações foram expressivos durante a fase vegetativa da soja, e não houve necessidade de irrigação até o início do florescimento. Foi preciso, no entanto, um bom sistema de drenagem para que as plantas não

É preciso conhecimento técnico para manejar a irrigação e obter o benefício esperado

sofressem pelo excesso hídrico. Neste ano, a cultivar utilizada para os testes foi a BMX Potência RR, de hábito de desenvolvimento indeterminado - quando não há limite para o potencial produtivo. Já na safra 2013/14, o volume de chuva ficou abaixo da média mensal nos meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Nos experimentos com a soja em terras baixas foi

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constatado que a produtividade da oleaginosa irrigada por sulcos foi 60% superior quando comparada com a que não recebeu irrigação suplementar. “Em razão da questão climática houve essa diferença significativa de produtividade”, explica o engenheiro agrônomo da Divisão de Pesquisas do Irga Elio Marcolin. Neste ano, o experimento foi feito com uma cultivar de hábito de desenvolvimento determinado, a TEC 5718 IPRO, o que acabou contribuindo para resultados menos produtivos, característica das variedades de hábito determinado - quando o potencial máximo de rendimento é determinado geneticamente. “Todos os métodos de irrigação existentes são eficientes, desde que haja conhecimento técnico adequado para manejar a irrigação de acordo com o benefício esperado”, afirma Marcolin. No entanto, dependendo da topografia da área, tipo de solo, espécie de planta cultivada, custo de aquisição e de operação do equipamento de irrigação e da eficiência de uso de água, deve-se avaliar qual o melhor método de irrigação, ou seja, o mais econômico e mais eficiente para que se possa fornecer o volume de água necessário para que as plantas cultivadas expressem seu potencial.


Foto: Camila Raposo

Tecnologia

A irrigação por sulcos permite um maior controle da vazão e direcionamento da água

Escola de irrigação capacita técnicos e produtores Percebendo a necessidade de um ambiente no qual se transmitisse conhecimento sobre irrigação e auxiliasse produtores e técnicos, foi criada a Escola de Irrigação do Rio Grande do Sul, por meio do decreto 51.192, de 6 de fevereiro de 2014. Os instrutores responsáveis por ministrar os cursos são funcionários do Irga, da Fepagro e da Emater, mas profissionais de outras instituições também são convidados para contribuir na formação de técnicos e agricultores, ampliando as discussões

sobre o tema. O primeiro curso de irrigação aconteceu em junho deste ano na Estação Experimental do Arroz (EEA) do Irga, em Cachoeirinha, e abordou o método de irrigação por sulcos. Nessa primeira turma, foram capacitados 25 técnicos de extensão rural do Irga, da Emater e da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa). No curso foram abordados temas como água no solo, água na planta, clima, irrigação e engenharia de projetos. Os cinco dias de curso foram divididos em aulas teóricas, em sala de aula, e práticas, com saídas a campo. Além disso, durante o curso, os capacitados tiveram a oportunidade de participar de um

Dia de Campo realizado pela Emater no Assentamento de Agricultores de Charqueadas, onde puderam observar e ouvir a instrução de técnicos da entidade sobre a possibilidade do uso de irrigação em diferentes sistemas de produção agropecuária. Por enquanto, foram capacitados técnicos apenas no curso sobre irrigação por sulcos. Porém, outros serão ministrados pela Escola de Irrigação. Já está programado o curso de irrigação por aspersão e, dependendo da demanda, também será disponibilizado curso para método por gotejamento (irrigação localizada). O curso de irrigação por inundação ainda não está disponível nas modalidades oferecidas pela Escola.

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Tecnologia

Cultivares do Irga levam produtividade e qualidade às lavouras do RS Os pesquisadores da autarquia realizam experimentos por cerca de 10 anos antes de lançar uma nova variedade no mercado

A

cena se repete quase todos os anos: assim que o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) lança uma cultivar, a lavoura de sementes da Fazenda Palma, em Camaquã, aposta no produto. Nesta safra, por exemplo, a propriedade planta apenas sementes do Irga: a IRGA 428, de 2011, a IRGA 424 - essa um pouco mais antiga, de 2007 -, e a novidade fica por conta da IRGA 424 RI, cultivar recém-lançada na

Expointer 2014 que também ganhou espaço na lavoura. “A IRGA 424 RI é uma das (cultivares) mais esperadas, se não a mais esperada, dos últimos dez anos no mercado”, afirma Betania Longaray Fonseca, filha do administrador da Fazenda, o produtor Solismar Paulo Freitas Fonseca. A expectativa, segundo ela, é comercializar toda a produção dessa cultivar até agosto do próximo ano.

“O resultado é impressionante, ela produz muito além de qualquer outra cultivar resistente a herbicidas do grupo das Imidazolinonas.” As outras cultivares escolhidas para a produção de sementes são definidas a partir da procura dos clientes. A IRGA 428, conta Betania, foi cultivada pela Fazenda Palma desde a fase de pesquisa. “O pessoal começou a apostar muito nela”, diz. Os principais benefícios são a Foto: Vilmar Rosa/Seapa

O Irga lançou oito variedades de sementes de arroz nos últimos quatro anos 46

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Foto: Camila Raposo

Tecnologia

Mara Lopes, pesquisadora da Seção de Melhoramento da EEA, apresenta cultivar do Irga

alta produtividade e a resistência a doenças, principalmente brusone. Já a IRGA 424 convencional, lançada em 2007, ainda é plantada pela tradição em meio aos orizicultores. “Apesar de ser uma cultivar lançada há bastante tempo, os produtores têm muita confiança nela, pois ela se adaptou muito bem a todo tipo de lavoura”, avalia. Se depender das pesquisas da Estação Experimental do Arroz (EEA) do Irga, a Fazenda Palma não vai demorar a acrescentar novas cultivares à lavoura. “O Irga tem lançado, a cada dois anos, em média, no mínimo uma cultivar, sendo que em alguns anos tem lançado três cultivares, como em 2011 e agora em 2014”, comemora a engenheira agrônoma Mara Cristina Lopes, pesquisadora da Seção de Melhoramento Genético da EEA. No entanto, para essa média existir hoje, o trabalho foi conduzido sistematicamente cerca de uma década antes. Segundo Mara, leva-se cerca de 10 anos para lançar um

novo material no mercado desde o primeiro cruzamento. O objetivo inicial do lançamento de uma cultivar é desenvolver um produto com adaptação a diferentes regiões e que aliem alto potencial de produtividade, qualidade de grãos e resistência aos estresses bióticos e abióticos - doenças como a brusone e toxidez de ferro no solo, por exemplo. Por isso, com menos prejuízos por esses fatores e a maior produtividade que esses materiais tecnológicos dispõem, a renda do produtor pode aumentar. Para isso, os pesquisadores têm disponível um banco de germoplasma - espécie de reserva de material genético - em que conduzem cruzamentos para produzir variabilidade genética. Com os resultados, passam a selecionar os materiais promissores, aqueles que contemplam o maior número de características positivas e que são objetivo do trabalho. Essa etapa, no entanto, é só o início do processo. Cada material,

geralmente, precisa de seis gerações para que a linhagem finalmente se estabilize. É só a partir disso que as cultivares são testadas nas seis regiões arrozeiras do Estado, para verificar características e adaptação local e medir a produtividade. Paralelamente a isso, dois viveiros são usados para seleção em relação à resistência a doenças e toxidez de ferro no solo - em Torres e Camaquã, respectivamente. “Torres é um ambiente bem adequado, favorável pelas condições de temperatura e umidade, para que se expresse o desenvolvimento dessas doenças e se possa fazer uma seleção”, afirma Mara. As últimas cultivares do Irga têm apresentado no mínimo resistência moderada a brusone, e muito disso se deve a essa fase de testes. O benefício evita, em parte, o uso de fungicidas nas lavouras gaúchas. Somente essas avaliações duram entre quatro e cinco anos. A pesquisadora da seção da EEA ressalta que,

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Foto: Camila Raposo

Tecnologia

Nos dias de campo os pesquisadores da autarquia apresentam cultivares para técnicos e produtores

além desse trabalho de campo, há diagnósticos de qualidade visual e de cocção dos grãos em laboratório. Por fim, as sementes são introduzidas em áreas maiores, chamadas de parcelas de observação, para só então chegar às lavouras de produtores de sementes, como a Fazenda Palma. Conforme Mara, essa última etapa, nas vésperas do lançamento da cultivar, é que permite uma proximidade maior com a percepção dos orizicultores sobre a novidade. A Fazenda Cavalhada, em Mos48

tardas, também aposta em cultivares do Irga nessa safra. A IRGA 424 RI vai servir para combater a principal dificuldade na região: o arroz vermelho, segundo conta José Mathias Bins Martins, administrador da propriedade junto ao pai, Antônio, e o irmão Leandro. A família planta arroz desde 1937. Tudo por causa do avô Luis Chaves Martins, um dos pioneiros do arroz em Mostardas. Segundo ele, a propriedade aposta no que o mercado pede - e a expectativa em relação à 424

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RI é grande. “Estamos plantando, multiplicando. A partir do ano que vem, se ela cumprir as expectativas, que são muito boas, plantamos para a venda (para a indústria)”, afirma Martins. Atualmente, a lavoura de arroz conta com 1.260 hectares, sendo que 450 hectares são destinados especificamente à produção de sementes. A lavoura comercial, por sua vez, inclui IRGA 424 e IRGA 426. A soja também é plantada, em outros 570 hectares da propriedade.


Tecnologia

As últimas cultivares do Irga A cultivar IRGA 429 teve o cruzamento inicial na safra de 1999/2000 - e foi uma das três novas cultivares lançadas pelo Irga na Expointer 2014. Ainda que possa ser utilizada em outros sistemas, a engenheira agrônoma Mara Lopes ressalta que essa é a segunda cultivar do Irga que pode ser utilizada no sistema de cultivo pré-germinado (a primeira foi a IRGA 425, de 2009), sendo uma ferramenta de controle do arroz vermelho. De ciclo médio, a cultivar é tolerante à toxidez por excesso de ferro no solo e moderadamente suscetível à brusone. A produtividade média nos ensaios em quatro safras foi de 10,32 t/ha.

Outra novidade na feira deste ano, a IRGA 430 teve seu primeiro cruzamento na safra 2000/2001. A cultivar tem ampla adaptação a diferentes regiões orizícolas do Estado, além de produtividade média de 9,94 t/ha em cinco safras - o que mostra que, apesar de ser de ciclo precoce, tem potencial bem próximo às de ciclo médio, de acordo com Mara. A vantagem seria a flexibilidade no cultivo. “Esse ano mesmo, tivemos alguns lugares em que estava chovendo muito. Isso vai atrasando a semeadura e se tem de optar por um material precoce”, explica. A IRGA 430 é moderadamente resistente à brusone na folha, moderadamente suscetível à brusone na panícula e apresenta boa qualidade de grãos. Em relação à toxidez de ferro no solo, é resistente.

A cultivar IRGA 424 RI, terceira inovação apresentada na Expointer, ficou pronta em menos tempo: o cruzamento inicial foi em 2008. De acordo com Mara, a rapidez se deve, em parte, ao fato de que a cultivar é um material adaptado da IRGA 424, de 2007, com a diferença de conter os genes que conferem resistência a herbicidas do grupo químico das Imidazolinonas, além disso foram conduzidos avanços de geração no inverno. Por isso, contribui para o combate ao arroz vermelho e mantém a alta produtividade: na safra de 2012/13, a 424 RI produziu 10,5 t/ha. Tem ainda alta capacidade de perfilhamento, resistência à brusone e à toxidez por excesso de ferro no solo, e todas as regiões do Estado podem semear o material.

Outras cultivares de destaque BR IRGA 409: Lançada pelo Irga em parceria com a Embrapa em 1979, foi a primeira cultivar semianã do tipo moderno/filipino de planta. A “grande transformação”, conforme a engenheira agrônoma Mara Lopes, se deve à alta produtividade e qualidade de grãos. No entanto, a cultivar se mostrava suscetível à brusone e toxidez por excesso de ferro. IRGA 417: Lançada em 1997, essa cultivar ainda é utilizada nas lavouras. De ciclo precoce, foi a primeira cultivar do grupo moderno. A produtividade média é de 9 mil quilos por hectare, porém se mostra suscetível à toxidez por excesso de ferro e à brusone. Ela se adapta a todas as regiões do Estado. IRGA 422 CL: Em 2003, se tornou a primeira cultivar lançada no Brasil com resistência a herbicidas do grupo das Imidazolinonas, auxiliando no controle do arroz vermelho. Até então, o Rio Grande do Sul tinha muitas

lavouras inviabilizadas de cultivo por causa da infestação dessa planta daninha. IRGA 424: Lançada em 2007, essa cultivar é conhecida como a de maior potencial produtivo até hoje no Estado - na Fronteira Oeste, obteve 14 mil quilos por hectare. “Até hoje é nosso carro-chefe”, relata a engenheira agrônoma do Irga Mara Lopes. É tolerante à toxidez por excesso de ferro e resistente à brusone. É adaptável a todas as regiões, mas é indicada sobretudo para Zona Sul e Campanha, além da Fronteira Oeste. TEC IRGA 6070 RR: Variedade de semente de soja desenvolvida para promover rotação de cultura com o arroz. Por isso, tem alta tolerância ao excesso hídrico e ciclo de maturação médio, que favorece o plantio de arroz na safra seguinte. A cultivar é fruto da parceria entre o Irga e o grupo de pesquisa agrícola CCGL Tec, da Cooperativa Central Gaúcha Ltda.

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Expointer

Fórum discute infraestrutura

Foto: Luciara Schneid

logística do Estado

A

Expointer 2014 foi palco de debates essenciais para a produção orizícola do Rio Grande do Sul. Os governos federal e estadual, produtores, indústria e entidades representantes do setor orizícola como o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e a Companhia

Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) se reuniram no Fórum Agronegócio, infraestrutura e logística: estratégias para escoamento da produção agropecuária. Estiveram presentes o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e o governador do Estado, Tarso Genro, que receberam do presidente do Irga,

Claudio Pereira, o relatório final do grupo de trabalho do Terminal Arrozeiro Porto do Rio Grande (foto). O documento aponta a necessidade da adaptação da área existente no Porto Novo de Rio Grande, onde está localizada a Cesa, para a consolidação de Complexo Logístico para exportação de arroz a granel e ensacado. O ministro destacou que, para os próximos anos, estão previstos novos projetos em rodovias, ferrovias, hidrovias e construção naval, destacando a construção, duplicação e adequação de rodovias federais (BR-116, BR-290, BR-392, BR-453), Ferrovia Norte Sul (Panorama/SP – Rio Grande/RS), Hidrovia do Mercosul, além de sondas e plataformas no Polo Naval de Rio Grande. No Fórum, o superintendente do Porto de Rio Grande, Dirceu Lopes, apontou que os terminais especializados e o Porto Novo estão em execução de obras ou em vias de começar. “Com a criação desse terminal especializado para a exportação de arroz, a intenção é tornar o produto tão importante em movimentação como hoje é a soja”, assegurou. O evento aconteceu no dia 4 de setembro.

O ato simbólico de Abertura do Plantio de Arroz da safra 2014/15 foi realizado no dia 29 de agosto no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a 37ª edição da Expointer. O presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Claudio Pereira, participou do evento realizado pela Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que reuniu produtores gaúchos para discutir Custos de Produção: Eficiência e Economia. Na ocasião, Irga e Federarroz assinaram um protocolo de apoio para a realização da 25ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, que acontece de 5 a 7 de fevereiro de 2015, em Tapes.

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Foto: Luciara Schneid

Irga participa da Abertura do Plantio de Arroz


Expointer

Carreteiro alimenta 800 visitantes em Esteio Foto: Luciara Schneid

Cerca de 800 visitantes provaram o carreteiro preparado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) durante a Expointer. Para o preparo, foram usados 40 quilos de carne, sendo 25 quilos de bovino, oito quilos de suíno, sete quilos de linguiça mista e 600 gramas de bacon, além de 12 quilos de tomate, sete de cebola e 25 quilos de arroz. A ação, que envolveu toda a equipe de gastronomia do Irga, integra o Programa de Incentivo ao Consumo do Arroz (leia mais na página 34). A degustação aconteceu no dia 6 de setembro.

Foto: Caroline Freitas

Dia do Arroz debate cadeia produtiva

Mais uma vez durante a Expointer, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e o Canal Rural promoveram o Dia do Arroz. O debate A crise do arroz foi debelada foi um dos destaques do evento, contando com a participação do presidente do Irga, Claudio Pereira, do presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindiarroz RS), Elton Doeler, e do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Na ocasião, Pereira destacou

a necessidade de que o ciclo da monocultura seja interrompido. “Se tivermos a rotação de grãos, ampliamos o alcance de sustentabilidade no negócio”, disse. Ele explica ainda que a venda de arroz intercalada com outras culturas como o milho e, principalmente, a soja dilui a oferta de arroz sem prejudicar seu valor, e lembrou que o grão entrar em crise e o produtor ficar vulnerável são coisas diferentes. Já Dornelles defendeu o profissionalismo do orizicultor e o foco no mercado interno, e Doeler apontou que ainda há necessidade de haver mais diálogo entre

todos os elos da cadeia produtiva, incluindo o setor varejista. Ainda sobre o mercado interno, o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Claudio Fioreze, destacou que o Rio Grande do Sul tem condições de plantar mais arroz, mas não o faz por falta de mercado. Diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin reforçou a necessidade da rotação de culturas junto às lavouras de arroz, principalmente com soja e milho, lembrando ainda da integração lavoura-pecuária. O evento aconteceu no dia 1º de setembro na Casa da RBS.

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Pelos Nates

O que é destaque nos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural Cresce participação da IRGA 428 na Fronteira Oeste O munícipio de São Borja cultivou 51.853 hectares de arroz na safra 2013/14, quando 57,2% das variedades utilizadas possuíam gene de resistência aos herbicidas do grupo das Imidazolinonas. Essa parcela de variedades era composta por 51,2% de Puitá Inta CL, 2,6% de Guri Inta CL e 3,4% de IRGA 428. Na safra 2014/15, o cultivo deve ficar por volta de 48.300 hectares, mas a IRGA 428 vai ganhar mais espaço no município. Os levantamentos apontam um salto de

340% com relação à safra passada, ocupando 15% da área a ser semeada este ano no município. O produtor Leandro Teichmann, de São Borja, cultiva 100% da área de arroz com materiais resistentes aos herbicidas do grupo das Imidazolinonas na localidade do Mangrulho e Santa Luzia, e este ano irá aumentar significativamente a participação da IRGA 428 nas suas lavouras: a variedade irá ocupar 90% da área total. “O material que plantávamos crescia muito quanto investíamos

mais em adubação de cobertura para colher mais, qualquer vento que ocorria acamava toda a lavoura, e é comum que as mudanças climáticas venham acompanhadas de vento na nossa região. A IRGA 428 veio ao encontro das nossas necessidades, agregando produtividade, qualidade e uma tolerância maior às doenças”, afirma. O 8º Nate, de São Borja, atende também ao município de Itacurubi e pertence à Coordenadoria Regional Fronteira Oeste.

O 11º Nate, de Arroio Grande, realizou no dia 16 de outubro o 4º Fórum Integração Lavoura e Pecuária em Terras Baixas, durante a 76ª Expofeira do município. O presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Claudio Pereira, abriu os debates do fórum falando sobre as Perspectivas à Cadeia Produtiva do Arroz no Estado. “Não existe mais espaço para amadorismo, e a soja veio trazer uma alternativa de renda ao produtor para que ele não precise vender seu arroz no primeiro semestre do ano, quando há mais oferta e os preços estão deprimidos”, ressalta. Também foram palestrantes a engenheira agronônoma Luciane Nolasco Leitzke, que falou sobre Sistemas de irrigação por mangueiras plásticas, e o representante do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), Davi Teixeira dos Santos, que abordou a Integração Arroz-Soja-Pecuária: como planejar e como fazer. A equipe de gastronomia do instituto preparou quitutes à base de farinha de arroz para os participantes.

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Foto: Divulgação/11º Nate

Arroio Grande realiza fórum sobre integração lavoura-pecuária

Ao final, foi servido jantar com carreteiro e feijoada. O 11º Nate atende também aos municípios de Herval do Sul e Pedras Altas e faz parte da Coordenadoria Regional Zona Sul.


Pelos Nates

O 5º Nate, de Rio Pardo, realizou no dia 22 de setembro um treinamento para 20 produtores e técnicos de cooperativas da região. A capacitação abordou a Importância da Produção e Estocagem de Alimentos, Recepção, Secagem, Infraestrutura e Automação Operacional para secagem com baixas temperaturas, Manejo de Pragas, Certificação e Licenciamento Ambiental. As atividades foram conduzidas pelo técnico orizícola Márcio da Silva Sabino. Ricardo Tatsch, chefe do núcleo,

salientou a importância do treinamento, que repassa aos produtores informações sobre manejo para que eles possam manter a qualidade do arroz armazenado até o destino final. Além disso, promove uma grande integração e troca de informações entre os participantes. O treinamento foi inspirado no Curso Básico para Secagem e Armazenagem de Grãos de Arroz realizado de 16 a 18 de julho de 2014 pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na Estação Experimental, em Cachoeiri-

Foto: Divulgação/5º Nate

Rio Pardo realiza treinamento para produtores e técnicos

nha. O 5º Nate também atende aos municípios de Encruzilhada do Sul, Pântano Grande e Passo do Sobrado e faz parte da Coordenadoria Regional Depressão Central

Foto: Divulgação/9º Nate

Alegrete semeia 59 parcelões de arroz para demonstração Nesta safra, o 9º Nate, de Alegrete, semeou 59 parcelões de arroz irrigado que servirão para roteiros técnicos e dias de campo. A semeadura foi feita em parceria com a Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda. (Caal) e a AGS Insumos Agrícolas. As parcelas irão demonstrar as principais cultivares convencionais e cultivares CI, bem como os manejos de adubação, de irrigação, de herbicidas e fungicidas e o tratamentos de sementes. As propriedades que cederam áreas para as unidades demonstrativas foram: Parceria Agropecuária Passo do Angico, de Henrique Osório Dornelles, e Agropecuária Parcianello, de Geovano e Joacir Parcianello. O 9º Nate atende também ao município de Manoel Viana e pertence à Coordenadoria Regional Fronteira Oeste.

Formigueiro observa ação de minhocas na rotação de culturas O 36º Nate, de Formigueiro, está observando outros benefícios da rotação de culturas. Quando se planta uma leguminosa como a soja em plantio direto, há acúmulo de matéria orgânica na superfície, o que reduz a velocidade de decomposição. Além disso, a palhada das leguminosas tem boa relação carbono/nitrogênio, favorecendo a atividade biológica. A descompactação do solo gerada por esse modo de plantio favorece o trabalho de

minhocas, besouros e larvas de insetos. As minhocas, além de abrirem galerias, as revestem com substâncias orgânicas que conduzem a água da chuva a camadas mais profundas. Além disso, produzem húmus, que sustenta a microvida do solo. A rotação de culturas reduz a aplicação de produtos, em doses e número, o que diminui a intoxicação dos organismos vivos dos solos, entre eles as minhocas. Foi observada a lavoura do produtor

Jocélvio Gonçalves Cardoso, um dia após uma precipitação de 60 mm, semeada nos últimos três anos com soja e este ano preparada antecipadamente para a semeadura com a IRGA 424 em cultivo mínimo. No solo, foi possível ver a deposição da matéria orgânica e a ação das minhocas, consideradas bioindicadores de fertilidade do solo e alto potencial de produtividade. O 36º Nate integra a Coordenadoria Regional Depressão Central.

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Almanaque

Há 50 anos,

na Revista Lavoura Arrozeira Outubro Um artigo da edição de outubro de 1964 da revista Lavoura Arrozeira trazia um apanhado histórico das indenizações pagas às lavouras atingidas pelo granizo entre 1955 e 1962. O texto informava que, desde 1949, o instituto ressarcia os prejuízos dos agricultores - mas foi a partir da metade da década de 50, conta a revista, que houve crescimento notável nos pedidos.

O ano de 1962 foi o que mais custou aos cofres públicos: no total, as indenizações somaram cerca de 9 milhões de cruzeiros. Uma fazenda, em São Francisco de Assis, recebeu sozinha 3,7 milhões de cruzeiros. Vale lembrar que o Irga reduziu muito a burocracia para trazer mais agilidade aos pedidos de indenização por danos decorrentes do granizo. A espera, que antes levava aproximadamente um ano, está prevista hoje para 60 dias.

Novembro A Lavoura Arrozeira de novembro de 1964 trazia as estimativas da área e produção de arroz para a safra 1963/64. De acordo com os dados, se esperava 212 mil quadras quadradas de área de plantio, o que equivale a, aproximadamente, 370 mil hectares. O Irga divulgou recentemente as

previsões para 2014/15 - e a diferença é grande. São esperados 1,1 milhão de hectares de área para a próxima safra. A produção de 1963/64, de acordo com estatísticas da autarquia, acabou sendo de 900 mil toneladas de arroz, representando 16,8% da produção nacional.

Dezembro A capa da Lavoura Arrozeira, em dezembro de 1964 trazia a foto de uma árvore de Natal, cercada de presentes e enfeites. O curioso é que os ramos são decorados com o alimento preferido da revista: arroz. “A revista vem de longa data divulgando e esclarecendo aos orizicultores e às demais classes vinculadas à economia arrozeira do Estado 54

Lavoura Arrozeira No463 | Outubro, novembro e dezembro de 2014

e do País”, diz o texto de abertura. “Nossa capa mostra que o arroz, além de se constituir um alimento de primeira necessidade, é também uma planta altamente decorativa.” O arranjo foi executado pela senhorita Dolores Brocca e exposto na loja A Teia, de Porto Alegre. “Um feliz e próspero ano de 1965, são os votos da revista Lavoura Arrozeira", desejou a edição.


XII



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