Revista Lavoura Arrozeira 365

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LAVOURA Volume 63 / Nº 465 / Outubro/Novembro/Dezembro 2015

Arroz para novos pagos

Produtores gaúchos fecham 2015 celebrando a abertura de mercados internacionais para a venda do grão Páginas 23 a 27



LAVOURA

EDITORIAL

Projeção de safra A revista Lavoura Arrozeira é uma publicação do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) Av. Missões, 342 - Porto Alegre (RS) - Brasil CEP 90230-100 / Fone +55 (51) 3288-0400 www.irga.rs.gov.br www.facebook.com/IrgaRS - @IrgaRS ISSN: 0023-9143 ............................................................................ Governador do Estado: José Ivo Sartori Vice-governador: José Paulo Cairoli Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação: Ernani Polo Presidente do Irga: Guinter Frantz Diretor Comercial: Tiago Sarmento Barata Diretor Técnico: Maurício Miguel Fischer Diretor Administrativo: Renato da Rocha Chefe de gabinete: Janice Garcia Machado Assessoria de comunicação: Luciara Schneid, Sérgio Pereira, Caroline Freitas e Raquel Flores. ...................................................................... Revista Lavoura Arrozeira Coordenação: Luciara Schneid - MTB 7.540 Produção e execução: Padrinho Agência de Conteúdo Edição: Carlos Guilherme Ferreira - MTB 11.161 Comitê Editorial: Tiago Barata, Maurício Fischer, Luciara Schneid, Rodrigo Schoenfeld, Sérgio Silva, Gilberto Amato, Tânia Nahra, Athos Gadea, Janice Machado e Carlos Guilherme Ferreira. Capa: foto Marcus Maciel / Especial Impressão: Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag) Tiragem: 8 mil exemplares ...................................................................... Atendimento ao leitor: revista@irga.rs.gov.br (51) 3288.0455 ......................................................................

Para assinar gratuitamente a Revista Lavoura Arrozeira acesse: www.irga.rs.gov.br/assine É permitida a reprodução de reportagens, desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem, obrigatoriamente, a opinião da revista.

A

o encerrar-se, 2015 deixa para o produtor arrozeiro gaúcho a marca de um ano de muito trabalho, mas igualmente com intempéries. Somado a um cenário econômico nacional um tanto desfavorável, com taxas negativas de crescimento, há de se considerar ainda o impacto de fenômenos climáticos no cenário de produtividade. Principalmente devido às tempestades e aos fenômenos naturais extremos registrados em outubro e no início de novembro, projeta-se uma retração da ordem de 10% para a próxima colheita. Conforme as informações de campo do Irga, pouco mais de 45% da área estava plantada até o final da primeira semana de novembro, data-limite para um ciclo de alta produtividade. Para efeito de comparação, na safra de 2010/2011 este número alcançava 92% em período semelhante. Com este atraso, mais de 50% da área estará em florescimento no mês de março, época de menor radiação solar e com risco de frentes frias (baixas temperaturas). As regiões mais afetadas foram as planícies costeiras Interna e Externa e a Depressão Central. Atento à saúde financeira dos produtores gaúchos, o Irga mobilizou-se para atenuar possíveis efeitos de uma

safra abaixo do ideal. Uma das ações consiste na negociação, junto ao governo federal, da ampliação do calendário de plantio de algumas cultivares – o que é importantíssimo para a garantia da cobertura de seguro. Outro ponto importante está no manejo adequado de adubos e fertilizantes, já que o plantio fora de época acarreta, conforme dito, uma produtividade abaixo do ideal. E investir em insumos nesta situação pode comprometer o custo-benefício.

Bons exemplos podem ser seguidos para prosperar Apesar do cenário um pouco desfavorável, não se pode fazer terra arrasada diante do quadro. O Irga lembra que, em 2014/2015, mesmo com atraso no plantio, chegou-se a um bom resultado porque o sol transformou-se em aliado – já que o dito lembra que “água no pé e sol na cabeça” são aliados do arroz. Também há de se levar em consideração que planejamento e trabalho, mesmo em tempos de instabilidade, dão ao arrozeiro a chance de prosperar. Que os seis casos de sucesso mostrados a partir da página 30 inspirem a todos para um 2016 de sucesso. Boas festas!

Sumário – Lavoura Arrozeira Edição 465 Foto do leitor 4 Homenagem 5 Eleição do Conselho 6 Interatividade 8 Selo ambiental 9 Arroz orgânico 10 Artigo técnico 13 Semeadura 16 Soja 6000 18 Artigo técnico 21 Reportagem de capa 23 Programa Arroz na Bolsa 28 Gestão na propriedade 30

Recursos hídricos 36 Minicenso 38 Cerveja de arroz 41 Artigo técnico 46 Planejamento 49 Programação do Irga 50 Expointer e eventos 51 Calendário 54 Há 50 anos 55 Controle de pragas 56 Pelos Nates 58 Artigo técnico 60

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FOTO DO LEITOR

Um olhar especial para

imagens arrozeiras

Quem lê a Lavoura Arrozeira sabe que abrimos espaço para as belas imagens enviadas por nossos leitores. São retratos captados com o olhar de quem vive o cotidiano arrozeiro. Confira as quatro melhores imagens desta edição, escolhidas via Facebook do Irga.

Foto de Lúcia de Toledo Buss Maçambará - 121 curtidas

Foto de Lúcia de Toledo Buss - Maçambará -

100 curtidas

Foto de Lúcia de Toledo Buss - Maçambará -

84 curtidas

Foto de Frederico Menezes Camaquã -

83 curtidas

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HOMENAGEM

Ex-presidente Ararê

EX-CONSELHEIRO

Magno da Rocha morre aos 88 anos

era dedicado à lavoura Ex-dirigente do Irga morreu aos 84 anos, em Porto Alegre, vítima de complicações pulmonares IRGA

E

m 21 de agosto, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) perdeu uma de suas figuras históricas, o expresidente Ararê Vargas Fortes. Ele faleceu aos 84 anos no hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, vítima de complicações pulmonares que vinha enfrentado havia cerca de três meses. Ararê começou sua ligação com o arroz como produtor em Rosário do Sul, cidade que o elegeu conselheiro do Irga em 1970 e depois para outro mandato de três anos em 1973. Durante este segundo período, em 1974, Ararê ingressou no Irga como diretoradministrativo. De 1979 a 1983 ocupou a presidência da entidade. Secretária de gabinete do Irga desde os anos 1970, Maria da Graça Rosa lembra que Ararê era uma pessoa muita séria no trato profissional. Porém, ela diz que, mesmo sendo rígido, era muito estimado entre os funcionários da entidade. Amigo de Ararê, o ex-servidor aposentado do Irga Pascoal Ianni complementa que o ex-presidente era uma “pessoa muito afável”. – Gostava de conversar com todo mundo – diz Ianni, que manteve o contato com Ararê após ambos deixarem o Irga. Ianni recorda que outro traço marcante da personalidade de Ararê é que ele estava sempre buscando inovar. – Ele tinha uma juventude de ver as coisas sempre à frente. Estava sempre buscando alguma coisa para que ele pudesse ajudar a implementar – diz Ianni, que começou a trabalhar no Irga, ainda como estagiário, no final da década de 1970, época em que conheceu o amigo. – Ele, com 80 anos, até um pouquinho antes de morrer, não parou de pensar em coisas futuras. Sempre tinha uma coisa que ele criava, que ele queria fazer. E assim foi no Irga. Ianni diz que esse comportamento inovador acompanhou Ararê nos tempos de Irga, quando o ex-presidente estimulou o desenvolvimento de novas variedades de arroz, por exemplo.

Ararê ocupou a presidência de 1979 a 83

No site do Irga

Além disso, lembra que ele sempre lutou para defender os interesses da lavoura, tendo encampado a luta pelo fortalecimento do preço mínimo em sua gestão. – Ele sempre foi muito dedicado às questões da lavoura, mas nunca deixou de lado o interno do Irga – pontua Ianni.

Foi sepultado na tarde de 10 de novembro o corpo de Magno Soares da Rocha, de 88 anos, ex-integrante do Conselho Deliberativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Rocha foi conselheiro eleito pelo município de Charqueadas entre 2006 e 2009 e na gestão 20122015, além de suplente em 20092012. Também foi funcionário de carreira da autarquia, chegando a ocupar a função de chefe de gabinete no final da década de 1980, durante o governo de Pedro Simon. Formado em Economia, Magno Rocha nasceu em São Francisco de Paula (RS) em 20 de outubro de 1926. Ele morou boa parte de sua vida na cidade de Cachoeira do Sul (RS), onde foi vereador por dois mandatos, sendo que na legislatura de 31/12/1959 a 30/12/1963 foi o segundo vereador mais votado (PTB), com 791 votos. Já na eleição de 1968, concorrendo pelo então MDB, foi o oitavo mais votado, alcançando 716 votos. Em novembro de 2008 recebeu da Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul o título de Cidadão Cachoeirense. Magno deixa a esposa, a professora Angelina Marília Dornelles, nascida em 08/09/1930 e formada em história, e os filhos Caio Tibério da Rocha (titular da Secretaria do Produtor Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Maria de Fátima Rocha Besson e Magda Rocha. O falecimento ocorreu em 9 de novembro, na cidade de Porto Alegre.

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Nominata para 2015-2018 foi empossada no dia 18 de agosto, na sede do Instituto, em Porto Alegre, com a presença de autoridades

Produtores elegem 82 conselheiros para o triênio Cabe ao Conselho Deliberativo administrar a instituição ao lado dos membros da Diretoria Executiva e da Comissão de Controle

J

á está em atuação o novo Conselho Deliberativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Empossados em 18 de agosto, os 82 membros exercem um mandato de três anos (2015-2018) no órgão que, juntamente com a Diretoria Executiva e com a Comissão de Controle, é responsável pela administração da entidade. A cerimônia de posse, que contou com a participação do secretário estadual da Agricultura e Pecuária, Ernani Polo, foi realizada no auditório da própria sede do Irga em Porto Alegre. O conselho é composto por: 76 representantes eleitos por produtores rurais registrados no Irga e vinculados aos municípios que produzem pelo menos 200 mil sacos de arroz em casca (50 kg cada); quatro representantes da Indústria e do

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Comércio do Arroz; dois representantes das cooperativas arrozeiras. Cada um dos escolhidos tem dois suplentes eleitos. A partir da escolha dos novos conselheiros, também foram criadas as Regionais Representativas do Conselho Deliberativos seguindo a base geográfica da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural, estabelecida no Organograma do Instituto, que é composta pelas seguintes regiões: Planície Costeira Interna, Planície Costeira Externa, Depressão Central, Zona Sul, Campanha e Fronteira-Oeste. Além dessas regionais, ainda existem seis comissões permanentes formadas por membros do Conselho que se reúnem para discutir assuntos vinculados à administração do Irga e das lavouras arrozeiras. Em reunião de conselheiros na 38ª edição da Expointer, no dia 1º

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de setembro, foram formadas as composições das comissões de Granizo, Patrimônio, Pesquisa e Extensão, além de Recursos Hídricos e Meio Ambiente. Ficou para ser formada posteriormente a comissão de Mercado e Comercialização, bem como a da Fundação Irga. No mesmo evento, foi realizado um jantar para os membros do Conselho. Anualmente, o Conselho é convocado para três reuniões ordinárias, uma a cada quadrimestre, com o objetivo principal de aprovar em primeira instância o orçamento, examinar as contas e o relatório da Diretoria Executiva, entre outras atribuições. Contudo, se for necessário avaliar uma pauta em um espaço de tempo menor, os conselheiros também pode ser convocados para reuniões extraordinárias.

ASSESSORIA IRGA

CONSELHO DELIBERATIVO


ASSESSORIA IRGA

CONSELHO DELIBERATIVO

Confira a lista dos 82 titulares eleitos Conselheiros titulares eleitos nos municípios arrozeiros com produção superior a 200 mil sacos de arroz em casca: Aceguá: Sérgio Echenique Lopes Agudo: Auro Reinoldo Kirinus Alegrete: Henrique Osório Dornelles Arambaré: Jorge Longaray Jaeger Arroio Grande: Carlos Alberto Scotto Gomes Bagé: Valdir Donicht Barra do Quaraí: Werner Arns Barra do Ribeiro: Marcelo Eduardo Czapliski Caçapava do Sul: Sergio Rufino Torres Cacequi: André Garcia Rossi Camaquã: Solismar Paulo Freitas Fonseca Candelária: Maurício Eduardo Beskow Capão do Leão: Carlos Alberto P. Iribarrem Jr. Capela de Santana: Zenoni Kovalski Capivari do Sul: Fernando Quadros Cardoso Charqueadas: Henrique Orlandi Júnior Chuí: Luiz Otavio Gomes Da Silva Moraes Cristal: José Luiz Jardim Agostini Dilermando de Aguiar: Sérgio Renato Rossi De Freitas Dom Pedrito: Gilberto Zambonato Raguzzoni Dona Francisca: Renato Celio Hoppe Eldorado do Sul: Davenir da Silva dos Santos Encruzilhada do Sul: Antônio Carlos Mesquita Pereira Faxinal do Soturno: Zair Roque Ceretta Formigueiro: Jocélvio Gonçalves Cardoso General Câmara: Daniel Della Nina Reis Glorinha: Maurício Cardoso Barcellos Guaíba: Ivo Lessa Silveira Filho Itaqui: Ronaldo Busatto Jaguarão: João Paulo Silveira Silveira Jaguari: Giancarlo Spagnolo Maçambará: Laurindo Osório Azambuja De Souza Manoel Viana: José Luiz Rosso Minas do Leão: Sérgio Rost Mostardas: Alexandre Azevedo Velho Nova Santa Rita: Silvio Luiz da Rosa Lopes Novo Cabrais: Nildo Arno Renner Osório: Anfilóquio Emerim Marques Palmares do Sul: Marcelo Meyer dos Santos Pantano Grande: Renaldo Silvio Glasenapp Paraíso do Sul: Roberto Frederico Block Pedras Altas: Gabriel Mello Souza Fernandes Pedro Osório: Jair Almeida da Silva Pelotas: Fernando Rechsteiner Quaraí: Fernando Correa Osório

Restinga Seca: Paulo Renato Possebon Rio Grande: Frederico Bergamaschi Costa Rio Pardo: Nelson Tatsch Rosário do Sul: Euzebio Prevedello Santa Cruz do Sul: Renato Luiz Mahl Santa Margarida do Sul: Adriano Aguette Souto Santa Maria: Robertinho Luiz Meneghetti Santa Vitória do Palmar: Márcio Sanchez da Silveira Santana do Livramento: José Antônio Tatsch da Silva Santo Antônio da Patrulha: Jair Francisco B. Peixoto Santo Antônio das Missões: Alberi José Pozzebom São Borja: Jones Dalla Porta São Francisco de Assis: Francisco Pedro Berguemaier São Gabriel: Sérgio Augusto Giuliani Filho São Jerônimo: Luis Celso Lago de Oliveira Filho São João do Polêsine: Marcos Antônio Cera São José do Norte: Joelma Knak Gautério São Lourenço do Sul: Paulo Renato Soares de Souza Coelho São Pedro do Sul: Marcelo Giuliani São Sepé: Eulo Juares Ferreira Machado São Vicente do Sul: Clanilton Silva Salvador Sentinela do Sul: Mario Dantas Carvalho Dias Tapes: Luiz Carlos Chemale Taquari: Jairo de Oliveira Tavares: Flávio José Rodrigues de Souza Torres: Alfredo Trein Lothhammer Triunfo: Tiago Acordi Turuçu: Carlos Weymar Uruguaiana: Walter Arns Venâncio Aires: Clóvis José Hanemann Viamão: Eugênio de Freitas Bueno REPRESENTANTES DA INDÚSTRIA E DO COMÉRCIO DE ARROZ Representante 1: Armando Chaves Garcia de Garcia Representante 2: Zélio Wilton Hocsman Representante 3: Elio Jorge Coradini Representante 4: Nestor de Moura Jardim Neto REPRESENTANTES FEARROZ Representante 1: André Barbosa Barretto Representante 2: Alvaro Lima da Silva

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INTERATIVIDADE

Lavoura Arrozeira on-line As conexões entre Irga, produtor e Lavoura Arrozeira são permanentes e on-line: você já conhece o site, o Facebook e o Twitter do Instituto? Acesse pelo computador, tablet e celular e fique sempre por dentro do que está acontecendo no cenário arrozeiro gaúcho.

Qual tipo de conteúdo você vai encontrar? Previsão do tempo  Prognósticos para os próximos 15 dias, para qualquer cidade.

Notícias  Novidades do setor.  Eventos e feiras.  Acordos governamentais e comerciais.  Notícias institucionais do Irga.  Vídeos, áudios e fotos.

Como falar conosco? Há várias maneiras: 

Site oficial do Irga

 Imagens de satélite.

www.irga.rs.gov.br

 Mensagem via página do

Facebook

Ou Twitter  Mapas com temperaturas,

umidade e precipitação.  Facebook do Irga É bem fácil de achar. Na barra de busca do Facebook (na parte superior da tela), digite Irga RS. Aí basta clicar no botão CURTIR para seguir todas as notícias do Instituto. As atualizações são diárias.

 Formulário no site, disponível

na aba contato.

Telefone

(51) 3288-0400 Horário de atendimento  Mapas agrícolas com umidade do

Twitter do Irga Siga o perfil @IrgaRS e fique por dentro dos nossos assuntos. Temos atualizações diárias.

solo, evapotranspiração, geada, dias sem chuva, estiagem agrícola e risco de incêndio.

 Segunda a sexta-feira

8h30min às 12h 13h às 17h30min

Endereço

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 Previsão em gráficos.  Médias climatológicas.  Temperatura da superfície do mar.

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 Avenida Missões, 342

Bairro São Geraldo CEP 90230-100 - Porto Alegre - RS


SUSTENTABILIDADE

Irga retoma concessão de

selo ambiental Certificação premia produtores que respeitam normas para reduzir o impacto no meio ambiente

O

ambiental e uso de tecnologias que a produção seja mais mais limpas nas suas lavouras, limpa – avalia. e queiram valorizar o seu Fischer explica que a produto, o Irga os monitora. emissão de selos esteve Se estão adequados, concede parada nas duas últimas selos ambientais um selo de qualidade – explica safras em razão das foram emitidos entre as safras de 2008/09 o diretor técnico do Irga, trocas no corpo técnico e 2013/14 Maurício Fischer. da entidade. Segundo ele, Entre as boas práticas agrícolas grande parte dos novos necessárias para a obtenção do técnicos ingressou no Irga selo, destacam-se o manejo adequado nos últimos dois anos, o que fez de água, semeadura na época correta e a com que os novos servidores precisassem utilização de defensivos de forma equilibrada. passar por treinamento. Contudo, apenas as lavouras que conseguem Vale salientar que o produtor deve combinar essas condições com bons níveis de solicitar o Selo Ambiental e se submeter produtividade e com a adequação à legislação ao monitoramento a cada safra para trabalhista estão aptas a receber o selo, por isso receber a certificação. Para pleitear na safra costuma-se dizer que é uma certificação de 2015/16, os produtores deveriam ter feito a sustentabilidade ambiental, econômica e social. solicitação entre os dias 20 de novembro e Para Fischer, receber o selo traz uma 30 de dezembro. vantagem competitiva ao produtor de arroz. Entre as safras de 2008/09 e 2013/14 – Olhando para o futuro do consumidor, (último ano realizado), 121 selos ambientais se tu tens um pouco mais de poder foram entregues a empreendimentos aquisitivo, vais querer comprar um produto inscritos junto ao Irga.

121

Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) voltará a emitir nesta safra (2015-16) o Selo Ambiental da Lavoura de Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul, certificação que fora emitida pela última vez na safra 2013-14. Para conceder o Selo Ambiental a uma lavoura, o Irga leva em conta cinco fatores: produção sustentável, segurança do alimento, proteção ao ambiente, rentabilidade econômica e adequação à legislação. – Os produtores que estão adequados em relação à legislação ambiental, à legislação trabalhista e que estejam seguindo as práticas de manejo para a redução de impacto

ASSESSORIA IRGA

Fique atento 5 fatores são essenciais para a concessão do Selo Ambiental:

1 - Produção sustentável 2 - Segurança do alimento 3 - Proteção ao ambiente 4 - Rentabilidade econômica 5 - Adequação à legislação Prazo de inscrição Até 30/12 para a safra 2015/16.

Para a diretoria técnica do Irga, o selo representa uma oportunidade competitiva ao produtor Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

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ARROZ ORGÂNICO

Atenção ao ambiente e à saúde favorece o crescimento de mercado do arroz orgânico, um produto cultivado sem fertilizantes altamente solúveis e agrotóxicos

S

eja para complementar a clássica dobradinha com o feijão ou como base para o tradicional carreteiro no Rio Grande do Sul, o arroz é elemento básico no prato dos brasileiros. O grão teve sua produção aprimorada com o passar dos anos, adaptandose às mudanças de exigência do consumidor. Não apenas à referente ao paladar, mas também àquela que tem a ver com as predileções do comprador final, cada vez mais preocupado com questões de saúde individual, familiar e de conservação ambiental – cuidado também muito caro a uma parte expressiva de

arrozeiros, como João Batista Volkmann, de Sentinela do Sul (leia à página 12). É dentro deste contexto que o arroz orgânico ganhou mais espaço à mesa. O cultivo de maneira orgânica foi resgatado nos anos 80, ganhou força na década seguinte e iniciou o processo de popularização a partir de 2000, de acordo com o engenheiro agrônomo André Oliveira, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A diferença do arroz comum está no fato de que o orgânico tem o cultivo feito com técnicas alternativas como biofertilização, preparados

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biodinâmicos, homeopatias e integração com a pecuária, quando os animais ativam o ambiente com a vivificação proporcionada pela silagem dos nutrientes. Com isso, além de saudável, tem-se um produto resultante do plantio preocupado com a conservação ambiental, pois a qualidade da agrobiodiversidade é que proporciona o controle de pragas. Some-se aí, também, a questão financeira. Oliveira estima que um hectare de arroz orgânico seja produzido com custo entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. Já a mesma quantidade do grão

‘normal’ deve gerar um gasto em torno de R$ 6 mil. Mesmo sem considerar a melhor remuneração do produtor, que conforme a estratégia traz acréscimo de 20% a 500% em relação ao preço casca do comum. A popularização também criou uma demanda cada vez maior no mercado nacional. Se há 30 anos boa parte do arroz orgânico era voltado ao Exterior, agora ele é “prato da casa”. – A população passou a buscar produtos mais saudáveis, gerando um panorama mais atrativo para toda a cadeia produtiva. Médicos receitam o produto para melhorar o funcionamento do aparelho digestivo. Já se pode considerar o consumo interno maior do que o externo – constata Oliveira.


FOTOS LUIZ ÁVILA

João Batista Volkmann, de Sentinela do Sul (no detalhe) é um produtor gaúcho que aposta forte no arroz orgânico

Área cultivada com arroz orgânico no Estado (estimativa safra 2014/15) Agricultor/Entidade

Municípios

Famílias

Hectares cultivados

Hectares certificados

Mercados

João Batista Amadeo Volkmann/ABD/ABDSul

Sentinela do Sul

18

220

570

Nacional, Alemanha, EUA, Australia, Nova Zelândia, Uruguai, Paraguai, Canadá

Juarez Felipe Pereira ABD/ ABDSUl

Mariana Pimentel

3

25

16

Feiras e restaurantes

MST/ Coceargs/Cotap Grupo Gestor do arroz ecológico

11 municípios

460

4520

6695

Merenda escolar, pequenos comércios, feiras, Venezuela

CAPA São Lourenço

São Lourenço

2

3

10

Feiras, merenda escolar e restaurantes

Amigos do Taim

Santa Vitória, S. J do Norte e Rio Grande

10

220

500

Indústria gaúcha (Josapar), feiras

CAPA Santa Cruz

Santa Cruz do Sul

2

10

30

Feiras, merenda escolar e restaurantes

Nestor Selau

Morrinhos

1

5

15

Indústria catarinense

Faustino S. Cardoso

Reg Torres

1

10

_

Indústria catarinense

José Alfredo Vagner

Reg Torres

1

10

_

Indústria catarinense e feiras

Maria Scarpari (ACERT)

Reg Torres

1

2

_

Feiras

Alcione Augusto Buske

Dona Francisca

Feiras de Santa Maria

3

5

60

502

5.003

7.836

Santa Catarina e os litorais de São Paulo e Paraná estão entre os fornecedores de arroz orgânico. À frente desses lugares está o Estado, com um montante estimado superior a 90% da produção nacional, de acordo com pesquisas que ainda devem ser consolidadas. Conforme Oliveira, existe uma área de aproximadamente 8 mil hectares certificada para cultivo no Estado, sendo mais de 5 mil hectares plantados. Entre as cidades que se destacam estão Viamão, Nova Santa Rita e Manoel Viana. Porém, o arroz orgânico não deixou de ser produto de exportação, no sentido de que é cada vez mais apreciado pelos quatro cantos do planeta. EUA e Japão estão na vanguarda da tecnologia desse tipo de grão livre de pesticidas: – São locais onde existe uma grande preocupação com a natureza. Desde 2012, um encontro mundial para discutir o tema é organizado em países distintos. A primeira edição da Conferência Internacional sobre Sistemas de Produção de Arroz Orgânico (ORP/2012) ocorreu em Montpellier, na França. Já a segunda foi sediada em Pávia, Itália, em setembro de 2015. Foi lá que Oliveira teve uma grata surpresa: a de que o terceiro encontro será no Brasil, provavelmente no Estado, com cidade a definir. A iniciativa foi proposta pela coordenação do evento e por representantes de diversos países e continentes. Conforme Oliveira, é uma excelente oportunidade para trocas de experiências e ampliação de pesquisa. – É muito interessante perceber o crescimento do interesse por uma alimentação mais saudável e com a eliminação de contaminantes. Além disso, o consumidor está cada vez mais informado e tem ampliado o grau de exigência na escolha com critérios de relação da produção com a conservação ambiental e o respeito ao homem, aos nimais e às condições de trabalho – destaca Oliveira.

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ARROZ ORGÂNICO

Mesmo ciclo vale para o produto sem agrotóxicos João Batista Volkmann faz do arroz orgânico não apenas um meio de subsistência, mas uma filosofia de vida. Sentado à sombra de uma figueira provavelmente centenária – como denuncia o largo tronco –, o engenheiro agrônomo conta que a agricultura biodinâmica é um processo surgido em 1924, e que há gerações influencia sua família. – O maior pagamento de todos é o acolhimento pela sociedade. O carinho para quem produz – orgulha-se João. À frente da Fazenda Capão Alto das Criúvas, no interior de Sentinela do Sul, o produtor tem motivos para sorrir. Porque arroz orgânico, para ele, também significa prosperidade. Ou qual seria a explicação para a

produção em terra própria e em outras duas arrendadas, com área total cultivada de 240 hectares e uma equipe de funcionários? Sem contar que o custo de produção por hectare é mais baixo, como consta na reportagem à página anterior, e o valor de um saquinho em uma gôndola de supermercado pode facilmente superar os R$ 10. São sete produtos sem agrotóxicos e conservantes, a saber: arroz agulinha integral, agulinha polido, cateto integral, cateto polido, arroz negro, vermelho e, ainda, farinhas de arroz. Tudo processado em um engenho de arroz com telhado verde, bem de acordo com a prática sustentável. A armazenagem do produto é feita em casca, e existe controle

de temperatura e umidade, sem inseticidas. O ciclo, confirma, em nada difere das variedades convencionais de arroz. A Volkmann Alimentos, de João, trabalha desde 1986 com arroz orgânico e exporta a produção para o Exterior – países como Estados Unidos, Canadá e Japão, além de outros na Europa, Oceania e América Latina. Expert no assunto, o produtor já conferenciou em eventos na Europa e vê com entusiasmo a próxima conferência mundial sobre arroz orgânico, que deve ser no Rio Grande do Sul. O conhecimento vem de oportunidades como um tour pela Europa, em 1996, quando passou cerca de 15 dias visitando fazendas biodinâmicas em diversos países.

Na ponta do lápis Custo de produção do arroz orgânico/ha*

R$ 2 mil e R$ 3 mil Custo de produção do arroz convencional/ha*

R$ 6 mil *Valor por hectare.

Produtos da Volkmann Alimentos Fundação: 1986 Variedades de arroz Agulinha integral Agulinha polido Cateto integral Cateto polido Arroz negro Arroz vermelho Farinhas de arroz Município: Sentinela do Sul LUIZ ÁVILA

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ARTIGO TÉCNICO

Epidemia de Brusone do Arroz no Rio Grande do Sul ENG. AGR. DR. CLÁUDIO OGOSHI Fitopatologista EEA/IRGA

1) Cenário da Brusone no Rio Grande do Sul A Brusone é a principal doença do arroz irrigado. ALIADA a fatores como suscetibilidade das cultivares, épocas de semeadura tardia, adubação desequilibrada e condições climáticas favoráveis, pode ocasionar perdas de até 100% na produtividade. De acordo com a estimativa do Irga, na safra 2014/2015 foram cultivados em torno de 1,12 milhão de hectares de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul, e o que chamou mais atenção foi que em 96% destas áreas foram realizadas pelo menos uma aplicação de fungicidas para o controle de doenças e, principalmente, a Brusone. Em alguns casos, houve até cincos aplicações por ciclo da cultura, fato que onera muito os custos de produção e prejudica principalmente a saúde humana e o meio ambiente. Lembrando que em 2010 apenas 20% das áreas orizícolas tiveram fungicidas aplicados, principalmente por aqueles produtores que visavam a altos rendimentos e para o controle de doenças do final de ciclo. Sendo assim, por que temos um cenário de epidemia de Brusone no Estado? Principalmente devido à utilização de cultivares suscetíveis à doença, pois, de acordo com levantamento do Irga, em mais de 70% das áreas de arroz plantada no RS são utilizadas cultivares suscetíveis à Brusone. Por isso que em anos com clima favorável à doença, como foram os anos de 2012 e 2014, há uma epidemia de Brusone no Estado com perdas elevadas nas lavouras. Infelizmente, o mesmo cenário é esperado para a próxima safra 2015/2016, com um ano de “El Niño” mais forte do que na safra passada. Diante disso, quais são as recomendações para que a Brusone não cause tantas perdas nas lavouras orizícolas do Estado? O recomendado é a adoção de diversas práticas de manejo integrado da doença, visando a uma produção mais sustentável da cultura, as quais serão apresentadas a seguir. Entretanto, antes de adotar qualquer medida de controle de uma doença, o importante é conhecê-la e saber identificar os sintomas para, assim, escolher as medidas adequadas para melhor manejá-la.

Figura 1 SINTOMAS DA BRUSONE NAS FOLHAS

A e C) Sintomas característicos da Brusone nas folhas com lesões alongadas que crescem em sentido da nervura e centro acinzentado. B) Plantas atacadas já no estádio vegetativo da cultura. D) Plantas mortas devido ao ataque da Brusone nas folhas.

causa a morte das plantas (Figura 1D). Nas panículas, a doença pode atingir a ráquis, as ramificações e o nó basal. As manchas encontradas nas ráquis e nas ramificações são marrons e normalmente não apresentam forma definida, sendo que os grãos originados destas ramificações infectadas pelo patógeno se apresentam chochos. A infecção no último nó da panícula é conhecida como “Brusone do Pescoço” e tem um papel relevante na diminuição da produtividade do arroz (Figura 2A). O sintoma se expressa na forma de uma lesão marrom que circunda a região nodal, o que provoca um estrangulamento. Quando as panículas são atacadas logo após a sua emissão até a fase de aparecimento de grãos leitosos, a doença pode provocar o “chochamento” total das espiguetas. As panículas se apresentam esbranquiçadas e eriçadas, sendo facilmente identificadas no campo (Figura 2B). Quando as panículas são infectadas mais tardiamente, ocorre redução no peso dos grãos ou a quebra da panícula na região afetada, caracterizando o sintoma conhecido por “pescoço quebrado”.

Figura 2

2) Quais são os sintomas da Brusone?

SINTOMAS DA BRUSONE NO PESCOÇO E NAS PANÍCULAS.

A Brusone pode ocorrer em todas as partes aéreas da planta, desde os estádios iniciais de desenvolvimento até a fase final de maturação dos grãos. Nas folhas, os sintomas típicos da doença se caracterizam por pequenos pontos de coloração castanha, do tamanho da cabeça de um alfinete, os quais evoluem formando manchas alongadas (Figura 1A) que crescem em sentido da nervura, apresentando o centro acinzentado e bordas marrom-avermelhadas, às vezes circundadas com halo amarelado (Figura 1C). As formas e os tamanhos das lesões dependem das condições climáticas, da idade das lesões e do grau de suscetibilidade das cultivares. A redução da área foliar fotossintetizante tem um reflexo direto sobre a produção de grãos. Quando a doença ocorre severamente nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta (Figura 1B), principalmente em cultivares suscetíveis, o impacto é tão grande que a queima das folhas

A) “Brusone do pescoço” B) Panículas esbranquiçadas, facilmente identificadas no campo.

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ARTIGO TÉCNICO 3) Principais Estratégias de Manejo da Brusone

Figura 4

Utilização de Cultivares Resistentes A utilização da resistência genética é a principal tática a ser utilizada no manejo integrado de qualquer doença de plantas, inclusive a Brusone em arroz irrigado, visto que é a forma mais fácil, eficiente, de baixo custo e de menor impacto ambiental no manejo. Diante desta importância, o Programa de Melhoramento Genético de Arroz Irrigado do Irga utiliza, desde a safra 1999/2000, uma estratégia para a obtenção de genótipos resistentes à Brusone, denominada de “Hot Spot”. Neste método, a principal estratégia utilizada tem sido a avaliação de linhagens iniciais (gerações segregantes) e de genótipos potenciais doadores de genes de resistência em condições de alta pressão de inóculo do patógeno, realizando várias avaliações durante o ciclo da cultura. Como consequência deste trabalho, as cultivares recém-lançadas do Irga apresentam graus de resistência à Brusone. A cultivar IRGA 424 RI é resistente tanto nas folhas quanto nas panículas. Na Figura 3, observa-se no viveiro de Brusone uma cultivar suscetível já morta no estádio vegetativo, em comparação com uma cultivar resistente sem sintomas da doença. Já um ensaio conduzido na safra 2014/2015, em Palmares do Sul, evidencia a maior produtividade das cultivares IRGA 423 e IRGA 424, as quais foram resistentes à Brusone, em comparação com as cultivares IRGA 417 e BR IRGA 409, que foram suscetiveis à enfermidade (Figura 4).

Figura 3

Cultivar suscetível (linha morta) e cultivar resistente à Brusone no viveiro onde se avalia resistência à doença localizada no município de Torres na safra 2012/2013.

Resultado de um ensaio conduzido na safra 2014/2015 em Palmares do Sul. A) Área Abaixo da Curva de Progresso da Brusone nas Folhas nas cultivares BR IRGA 409 (suscetível), IRGA 417 (suscetível), IRGA 423 e IRGA 424 (resistentes). B) Produtividade das cultivares em Kg/ha.

Figura 5 – As 10 mais plantadas 2014-15, em ha e % total RS

Líderes: Puitá INTA CL (31,99%), Guri INTA CL (21,17%) e IRGA 424 ( 13,48%) Apensar de ficar clara a vantagem da utilização de genética resistente à Brusone, infelizmente, as cultivares mais utilizadas no Rio Grande do Sul são suscetíveis. Como se pode observar na Figura 5, das 10 variedades mais cultivadas no Estado na safra 2014/2015, apenas a cultivar IRGA 424 é resistente à Brusone, sendo as outras suscetíveis, o que representa mais de 70% da área do estado semeada com cultivares suscetíveis à doença. Sabe-se que o principal motivo da utilização destes genótipos suscetíveis é principalmente devido ao uso de cultivares com tolerância a herbicidas, que é muito importante no manejo do arroz vermelho, e também por apresentarem melhor qualidade de grão. Diante disso, o programa de melhoramento genético do Irga aumenta seus esforços em

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desenvolver cultivares resistente a herbicidas não seletivos à cultura, com alta qualidade de grão e principalmente resistentes à Brusone. Semeadura na época recomendada A semeadura na época recomendada é uma ferramenta importante para os orizicultores no manejo integrado da Brusone, pois evita que os períodos críticos de suscetibilidade das plantas de arroz coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença. Pelo projeto 10 desenvolvido pelo Irga foram estabelecidas as épocas de semeadura mais adequadas para a semeadura do arroz irrigado, entre 1º de setembro e 5 de novembro, independente da região orizícola.


Um ensaio executado na safra 2014/2015 em Cachoeirinha demonstra bem isso, sendo que na semeadura do dia 29 de outubro a severidade da Brusone foi duas vezes e meia menor do que a semeadura realizada no dia 5 de dezembro, como observado na Figura 06. Diante disso, para o manejo mais adequado da Brusone, recomenda-se evitar as semeaduras principalmente a partir do meio de novembro.

Figura 6

Adubação nitrogenada equilibrada A adubação equilibrada é um dos componentes essenciais a ser incluída no manejo integrado da Brusone, pois plantas com excesso ou deficiência de um determinado nutriente são mais predispostas ao ataque de doenças. Infelizmente, além do uso irracional dos fungicidas pelos orizicultores, outra realidade é a aplicação excessiva de uréia visando principalmente a obtenção de altos rendimentos, o que agrava ainda mais a situação da Brusone no Estado. O excesso de nitrogênio, além de desequilibrar a absorção de outros nutrientes, promove condições favoráveis ao ataque da doença devido à redução da espessura das paredes celulares, tornando-as mais fracas. Isso diminui a produção de compostos fenólicos e de lignina das folhas. No experimento conduzido em Cachoeirinha na safra 2014/2015, visando a verificar a severidade da Brusone sob curvas de resposta a nitrogênio em duas épocas de semeadura na cultivar Guri Inta CL, verificou-se que altas doses de nitrogênio, principalmente acima de 120 Kg de N por hectare, promovem o aumento da severidade da Brusone nas folhas e consequentemente diminui a produtividade do arroz irrigado, principalmente em épocas de semeadura mais tardia. Aplicação de fungicidas Os fungicidas são muito importantes no controle de doenças de plantas, entretanto, não se deve considerá-los como única estratégia de controle e, sim, como parte do manejo integrado de doenças de plantas. Ressalta-se que a escolha da cultivar, época de semeadura, origem das sementes, nível de adubação, controle de plantas daninhas, manejo da água, uso do nitrogênio e monitoramento dos insetos são os principais constituintes do potencial produtivo e, a aplicação de fungicida deve ser conforme a necessidade, sendo considerado somente o protetor do potencial produtivo. Os fungicidas recomendados para as

´ Resultado de um ensaio executado em Cachoeirinha-RS na safra 2014/2015, demonstrando que a semeadura mais tardia apresentou 2,5 vezes mais Brusone do que a semeadura dentro da janela recomendada na cultivar Guri Inta CL. ´ doenças do arroz irrigado estão listados nas Recomendações Técnicas da Pesquisa Para o Sul do Brasil (SOSBAI, 2014). Mas tão importante quanto a escolha dos produtos químicos, o momento de aplicação é fundamental, possibilitando maiores chances de sucesso no controle da doença. Com a utilização de cultivares muito suscetíveis à Brusone em algumas regiões do Estado, o aparecimento dos sintomas da doença já ocorre no estádio vegetativo. Sendo assim, deve-se realizar o monitoramento dos sintomas iniciais da Brusone na folha e, caso sejam detectados, deve-se realizar a aplicação do fungicida, pois terão uma eficiência maior e a quantidade de aplicações subsequentes será menor. Caso não ocorra o aparecimento dos sintomas nas folhas no estádio vegetativo em uma cultivar suscetível à Brusone, deve-se realizar a aplicação preventiva no final do emborrachamento (estádio de desenvolvimento R2) para a proteção das plantas quanto à brusone da panícula ou do pescoço. Pois caso a aplicação seja realizada com a doença já instalada, a eficiência do controle é baixa e as perdas ocasionadas pela doença já foram significativas. Com o lançamento da cultivar IRGA 424 RI algumas dúvidas quanto à aplicação de fungicidas foram surgindo. Quanto à Brusone, esta cultivar é resistente, sendo assim, não é preciso aplicar um produto químico “brusonicida” como é o caso do funcigida com ingrediente ativo triciclazol. Entretanto, caso o histórico da área de cultivo

demonstre a ocorrência de outras manchas foliares e o clima esteja favorável, recomendase uma aplicação com um produto à base de estrobilurina + triazol, deixando o produto brusonicida para a aplicação em cultivares suscetíveis à Brusone. Outras medidas importantes no manejo da Brusone > Utilização de sementes certificadas com alta qualidade fisiológica e sanitária; > Manejo adequado da lâmina de água de irrigação; > Eliminação de hospedeiros alternativos; > Controle eficiente de plantas daninhas; > Sistematização da lavoura adequadamente, evitando reboleiras com focos da doença.

4) Considerações finais Os produtores devem ficar em alerta com a Brusone que, sem dúvida, será um dos fatores limitantes de altas produtividades do arroz irrigado nesta safra 2015/2016. Acima foram mencionadas as medidas importantes no manejo integrado da doença, as quais, se adotadas corretamente, contribuirão no manejo mais eficiente e sustentável da Brusone. Caso venha a surgir alguma dúvida, procure o engenheiro agronômo responsável mais próximo dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural do Irga, ou entre em contato com a Estação Experimental do Arroz.

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SEMEADURA

Vale lembrar que no ano passado também houve atraso e, ainda assim, obtivemos uma das melhores produções no Estado MAURÍCIO FISCHER Diretor técnico do Irga

Atraso no plantio pode reduzir

produtividade Por causa do El Niño, na primeira semana de novembro havia sido semeada apenas 45,4% da área prevista no RS

E

feito do El Niño, com a intensificação da chuva no mês de outubro e início de novembro, a semeadura do arroz no Rio Grande do Sul atrasou como há muito anos não ocorria. Até o dia 7 de novembro, quase na data limite indicada para alta produtividade, apenas 45,4% da área estava semeada. Para se ter uma ideia do que isso significa, no ciclo 2010/2011 esse índice chegava a 92%. Ao analisar o histórico de dados de períodos de El Niño, o diretor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, avalia que a perda de produtividade deve ficar em torno de 12,5%. O florescimento no mês de março pode coincidir com a ocorrência de menor radiação e baixas temperaturas, podendo aumentar a esterilidade das espiguetas e consequente redução da produtividade.

– Mas vale lembrar que no ano passado também houve atraso e, ainda assim, obtivemos uma das melhores produções no Estado. Pois em março de 2015 ocorriam condições climáticas favoráveis à cultura – avalia Fischer. As regiões mais afetadas pela chuva e com maiores índices de atraso são Depressão Central e Planícies Costeira Interna e Externa. Presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles recomenda aos produtores afetados que tenham cuidado na aplicação de insumos. – Nessa situação, não vale a pena gastar muito com adubação e fertilizantes, por exemplo, porque para o grão semeado fora da época a chance de alcançar a produtividade plena é menor. Aí o produtor vai gastar e não vai ter retorno. Ainda mais com o custo que está o insumo, em razão da

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alta do dólar – alerta Dornelles. Uma das iniciativas adotadas para reduzir os riscos e as perdas foi buscar junto ao governo federal a ampliação do calendário de plantio para algumas cultivares. As datas oficiais definidas pelo Ministério da Agricultura são importantes para os orizicultores não deixarem de contar com as garantias da cobertura do seguro. Outro problema do plantio fora de época é que aumenta o risco de incidência de pragas e doenças na lavoura. Sem a dosagem certa de umidade e luminosidade, a proliferação pode ser maior. – O arroz precisa, em termos de tempo, basicamente de água no pé e sol na cabeça. Sem essa situação ideal, os riscos aumentam – explica Fischer. O diretor técnico do Irga explica que a melhor produtividade no arroz se dá nas

12,5% Pode ser a perda de produtividade, avalia o Irga

lavouras plantadas em outubro. Semeaduras de setembro e novembro têm produtividades menores, mas muito acima da obtida em dezembro, quando nem é recomendado fazê-lo. Com o arrefecimento da chuva, a partir dos primeiros dias de novembro, foram muitos os produtores que correram para acelerar o plantio e semear até 10 de novembro. Para isso, as máquinas foram colocadas no campo dia e noite, como forma de aproveitar melhor os dias secos. Para dezembro, a expectativa era de redução das chuvas. Nesse período, elas se concentram mais sobre o sudeste e o centro-oeste do Brasil.


FOTOS LUIZ AVILA

As lavouras cultivadas no sistema pré-germinado, mesmo com as condições adversas, avançaram mais do que as áreas de semeadura no frio

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ROTAÇÃO DE CULTURAS

Soja 6000:

rumo à primeira safra Diversificação das culturas e aumento da rentabilidade das lavouras são atrativos para adedir ao programa, que busca colher 6 mil quilos por hectare

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C

om 24 áreas já inscritas para acompanhamento e monitoramento por técnicos do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o Projeto Soja 6000 avança no Estado rumo a sua primeira safra consolidada. A alternativa de ter a oleaginosa como parceira do arroz anima os produtores, interessados na diversificação de culturas e no aumento da rentabilidade das suas propriedades. A introdução e o apoio ao desenvolvimento dessas novas lavouras, especialmente em áreas não tradicionais, porém, demanda trabalho extra a agricultores e para técnicos do instituto. – Nas áreas parceiras faremos um acompanhado direto, além do trabalho de extensão e pesquisa que sempre oferecemos. Os resultados obtidos nas 24 unidades serão auditados por nós e por terceiros, o que nos dará ainda mais credibilidade nos números obtidos – explica o gerente da divisão de pesquisa do Irga, Rodrigo Schoenfeld. O engajamento ao projeto tem sido

positivo, assegura. A meta é colher 6 mil quilos de soja por hectare em todas as áreas cultivadas sob orientação do Irga. A base do trabalho vem da ação que já é feita pelo instituo em suas áreas de pesquisa. Em junho de 2016, quando o primeiro ciclo de plantio e colheita estiver concluído, o Irga divulgará os primeiros dados completos do grupo de estreia do Soja 6000, em evento na cidade de Santa Maria. Os dados serão a base de análise, por exemplo, para verificar que ações adotadas pelos produtores e pelo instituto resultaram em melhores produtividades. A maior dificuldade, em geral, é com o manejo do grão em áreas tradicionalmente alagadas para o cultivo de arroz. – Adaptar as chamadas terras baixas às exigências da oleaginosa é um dos itens que exigem cuidado redobrado e investimento. Outra recomendação é fazer a semeadura no tempo correto, de 15 de outubro a 15 de novembro. Neste ano, porém, assim como ocorreu com o plantio de arroz, a chuva criou uma

dificuldade extra – explica Schoenfeld. Integrante dessa primeira turma de 24 produtores do Soja 6000, Werner Arns, 61 anos, cultiva soja paralelamente ao arroz há dez anos e é um defensor da rotação de culturas. Além de soja e do arroz, Arms também produz aveia e azevém, e quer investir ainda em lavouras de trigo e de milho irrigado. Ele também reserva na propriedade, em Uruguaiana, espaço para a pecuária. – Cultivar outros grãos, além do arroz, é um processo irreversível. No ano passado, semeamos 350 hectares com soja. Nesta safra, serão 580 hectares. E devemos ter um bom incremento na produtividade – antecipa o produtor. Com o uso de melhores tecnologias de plantio, Arns espera passar das 59 sacas obtidas por hectare no ciclo passado (3,5 mil quilos) para 75 (4,5 mil quilos) na atual safra. O agricultor diz que vem investindo em sementes melhores e em adubação para ampliar o rendimento. – Também valorizo mais a época recomendada para semeadura, o que não fiz durante algum tempo – explica Arns. ASSESSORIA IRGA

Projeto conta com orientação do Irga em suas áreas de pesquisa

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ROTAÇÃO DE LAVOURA ASSESSORIA IIRGA

Por dentro do projeto Soja 6000 Os objetivos principais do Soja 6000, lançado em junho de 2015, são desenvolver práticas de cultivo para a obtenção de altas produtividades de soja, operacionalizar um sistema de transferências de informações e gerar e difundir tecnologias nesta área. A meta é alcançar 6 mil quilos de soja por hectare. No desenvolvimento de práticas de manejo mais adequadas a essas áreas, o Irga lançou, em parceria com a CCGLTec, a cultivar TEC

Irga 6070 RR, melhor adaptada às condições de excesso hídrico no solo. Para a consolidação do projeto, foi realizado um seminário, com formação de comitês regionais e a definição das áreas de validação do Soja 6000 para a safra 2015/2016, em agosto e setembro. O 2º Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas está programado para junho do próximo ano. No primeiro encontro foram debatidas questões como os pontos fortes no uso da soja em rotação com arroz, os fatores limitantes e as prioridades para as áreas de pesquisa e difusão do trabalho. Apesar de o Soja 6000 ter sido lançado neste ano, os trabalhos do Irga com a soja já têm uma década. Neste período, a cultura semeada em rotação com o arroz irrigado ampliou consideravelmente a área cultivada, de 50 mil hectares para 300 mil hectares na safra 2014/2015.

Benefícios da rotação de culturas Favorece a ciclagem de nutrientes. Incorpora nitrogênio ao solo. Melhora a estrutura física do solo. Auxilia no controle do arroz vermelho e capim arroz resistente a alguns herbicidas.

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Ajuda no controle de pragas e doenças. Também há benefícios ambientais, já que seu uso minimiza o uso de agrotóxicos agrícolas para controle de pragas e doenças e plantas daninhas.

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Experimentos do Irga com a soja são tradicionais, e cultura em rotação com o arroz irrigado ocupou 300 mil hectares na safra 2014/2015

Mais de uma vantagem Além do ganho econômico direto proporcionado pela soja, a parceria da oleaginosa com o arroz tem outros benefícios: Reduz a presença de plantas daninhas nas lavouras. Dificulta a proliferação do arroz vermelho. Aumenta a fertilidade do solo e leva à redução no consumo de fertilizantes. Facilita o preparo do solo (o entaipamento) para o arroz no ano seguinte. Dica de quem cultiva Werner Arns, 61 anos, recomenda ao produtor que fique atento à adaptação das plantadeiras que usará na nova lavoura e faça uso de sulcadores específicos se for feito o plantio sobre a palhada.


ARTIGO TÉCNICO

O uso agrícola da cinza da

casca de arroz Há boas opções, como a geração de energia elétrica a partir da biomassa e a função de adubo natural e corretivo de solos

A

geração de energia elétrica a partir da biomassa, além de ser uma opção limpa, competitiva e ambientalmente viável, ainda permite aproveitar a sazonalidade anual das culturas e o uso de seus resíduos. No Brasil, existem 393 usinas geradoras de energia elétrica a partir de biomassa, sendo que oito delas estão localizadas no RS e utilizam a casca de arroz como combustível nas suas fornalhas. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), essa geração corresponde a 0,03% de contribuição para a geração total de energia do país. A energia a partir da biomassa se enquadra nos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), importantes para a redução dos gases de efeito estufa (GEE), obtenção de selos de qualidade e atendimento a padrões de certificação. Além disso, demonstram o compromisso sócio-ambiental da cadeia produtiva. No município de Alegrete existem duas usinas que utilizam a casca de arroz, totalizando uma geração de energia de 8,82 megawatts, destinada ao consumo das próprias usinas – o excedente é liberado na rede da concessionária. A energia gerada pela Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda. (CAAL) pode ser comparada ao suprimento de uma cidade de 40 mil habitantes e ainda contribui para a retirada anual de 45.000 toneladas de carbono da atmosfera, o que equivale à redução de gases de efeito estufa emitida por cerca de 38.000 carros por ano.

Além disso, se essas cinzas puderem ser utilizadas nas propriedades agrícolas, cria-se uma logística reversa entre o elo da agroindústria e os sistemas agrícolas. Estes podem receber de volta a cinza para adubo natural e corretivo de solos. Desta forma, completa-se o ciclo da industrialização do arroz em um modelo ideal, com resíduo zero. O uso agrícola da CCA é estudado pela bióloga Maria de Fátima Marchezan desde 2012, com resultados promissores tanto para o solo quanto para as culturas e o meio ambiente. A pesquisa é financiada pela CAAL e tem como parceiros o Irga, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e o Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete. Os experimentos se desenvolvem em casa de vegetação localizada na universidade e a campo no Centro Técnico Experimental da cooperativa. A pesquisadora realiza todas as análises físicas, químicas e biológicas do solo da área experimental nos laboratórios da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), onde realiza seu Doutorado em Manejo e Conservação do Solo e da Água. Nos experimentos realizados na casa de vegetação, foi observado que a incorporação de doses crescentes de CCA na cultura da soja provocou incrementos no número de grãos por planta e no peso dos grãos. As plantas que se desenvolveram no solo com 64 t CCA ha-1 produziram grãos 20% mais pesados que a testemunha e 22% a mais de grãos. Além disso, as plantas

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A bióloga Maria de Fátima Marchezan, que estuda desde 2012 o uso agrícola do CCA

apresentaram boa nodulação em todos os tratamentos, indicando que a CCA não afetou o desenvolvimento do Rhizobium. A demanda hídrica da soja cresceu na ordem 0<16<4<8<32<64 t CCA ha-1, indicando que a CCA pode interferir na capacidade de armazenamento de água do solo, o que pode ser justificado pelo fato de que, ao produzirem

grãos mais pesados e em maior quantidade, as plantas consomem mais água. Para as culturas de arroz irrigado, apenas uma das variedades apresentou ganhos significativos de produtividade, justificada em 97% pela adição da CCA no solo, sendo que as plantas que se desenvolveram no solo com 64 t CCA ha-1 alcançaram uma produtividade relativa 75% maior que a testemunha.


Resultados saíram em congressos internacionais

Adição de CCA no solo Dosagens de até 64 t por hectare resultam em maior eficiência na conversão do carbono em biomassa e diminuem a liberação do gás carbônico na atmosfera:

FOTOS IRGA

Em campo experimental, foi cultivado arroz irrigado com doses cumulativas de CCA ao longo de três anos; os resultados foram promissores

Os resultados das análises químicas das águas percoladas nos experimentos foram divulgados no XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo ocorrido em 2014. O percolado foi armazenado durante todo o ciclo das culturas e, mesmo com 256 t ha-1 de CCA em solo arenoso, não foram identificadas substâncias tóxicas ou metais pesados como cádmio, cromo, chumbo, níquel e mercúrio. O pH ficou próximo da neutralidade e todas as amostras apresentaram valores abaixo dos limites estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores competentes para os elementos fósforo, nitrogênio total e carbono orgânico total considerados eutrofizantes. Na área experimental a campo, um Neossolo Regolítico, foi cultivado arroz irrigado com doses cumulativas de CCA ao longo de três anos, da safra 2012/13 à de 2014/15, totalizando, na última incorporação, 12, 24, 48 e 96 t de CCA ha-1. O acompanhamento da qualidade do solo teve avaliações de parâmetros físicos, químicos e biológicos, além da avaliação de parâmetros da cultura, tais como produtividade, massa seca, macro e micronutrientes em folhas e grãos, peso de grãos e qualidade de indústria. Alguns desses parâmetros ainda se encontram em avaliação pela doutoranda, mas os resultados são promissores, pois não foram encontradas restrições à penetração de raízes até 60cm de profundidade e as parcelas que receberam até 64 t de CCA ha-1 não apresentaram diferença estatística da área em pousio no que se refere à agregação do solo. No que se refere à fertilidade, ocorreu incremento do pH de 5,2 para valores em torno de 6,0. A CTC efetiva passou de 16,4 para valores superiores a 34 cmolc dm-3. Além disso, ocorreram incrementos nos teores de cálcio,

magnésio e enxofre, e o teor inicial de fósforo quase dobrou. As plantas produziram grãos mais pesados, justificados em 82% na primeira safra e 62% na segunda safra, pelo uso da CCA. A última safra apresentou uma correspondência baixa de apenas 41%, o que pode ser justificado por alguns problemas de campo, como falhas na semeadura, atraso na entrada da água de irrigação e à presença de invasoras de difícil controle, o que também refletiu nas produtividades. Não foram verificadas variações no rendimento de indústria que ficou superior a 66 em todos os tratamentos com CCA. A incorporação de até 64 t ha-1 de CCA não provocou impactos negativos para a microbiota do solo, onde avaliaram-se indicadores biológicos Carbono da Biomassa Microbiana do Solo, Respiração Basal, Quociente Microbiano, Quociente Metabólico e o Índice de Reservatório de Carbono, dos diferentes tratamentos com incorporação de CCA entre si e destes com os valores de referência da área em pousio. A adição de CCA no solo estudado promoveu um incremento no Carbono da Biomassa Microbiana e da qualidade nutricional da microbiota, indicando que a mesma possa estar se beneficiando do C contido na CCA, o que é corroborado por Gama-Rodrigues e Gama-Rodrigues (2008), que afirmam que se ocorrer um aporte de matéria orgânica de boa qualidade, o Quociente Microbiano aumenta. Além disso, o decréscimo dos valores de Quociente Metabólico indica que o solo do experimento tende à estabilidade, com maior eficiência na conversão do carbono em biomassa e menos gás carbônico sendo liberado para a atmosfera com o aporte de dosagens de CCA até 64 t ha-1.

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PORTO DO RIO GRANDE / DIVULGAÇÃO

MERCADO EXTERNO

Arroz gaúcho comemora

conquistas internacionais

Ao abrir tratativas com México, Nigéria e China, setor fecha 2015 com a expectativa de exportar cerca de 1,3 milhão de toneladas Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

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MERCADO EXTERNO

C

om apenas 10 anos de exportação de arroz e sem nenhum acordo bilateral específico para o grão, o Brasil começa a comemorar grandes conquistas na área. Está prestes a iniciar embarques para o México e retoma vendas para a Nigéria, além de já ter começado tratativas comerciais com a China. Tudo isso graças à qualidade diferenciada do grão produzido aqui, fruto de anos de pesquisa e desenvolvimento de cultivares, especialmente no Rio Grande do Sul. Somando-se apenas os mercados mexicano e nigeriano, o comércio potencial que se abre é de quase 800 mil toneladas extras, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A expectativa do setor é encerrar 2015 com cerca de 1,3 milhão de toneladas embarcadas para o Exterior. – Vender mais para fora do país era a única forma de baixar os estoques nacionais, que estavam muito altos – explica o presidente do Irga, Guinter Frantz, que tem a ampliação do comércio internacional, por meio de acordos bilaterais, como uma das prioridades de trabalho. Além da qualidade superior do grão, um diferencial do Brasil, o produto nacional também ganhou impulso nas exportações com a alta do dólar. Enquanto em 2014 o produtor precisava receber cerca de US$ 15 por saca, agora com US$ 11 a conta já fecha. Ou seja, o grão brasileiro ganhou competitividade, ao mesmo tempo em que novos mercados consumidores se abrem para nós. Um dos melhores exemplos desse trabalho de “diplomacia comercial” é a entrada no México. O acerto para abrir espaço ao arroz brasileiro nas gôndolas mexicanas tem como contrapartida a abertura do mercado nacional para o feijão do México, o que facilitou a negociação. Para assinatura final do acordo falta apenas uma questão fitossanitária a ser resolvida. Já o trabalho na Nigéria foi retomado com a derrubada da taxa de 110% sobre as importações de arroz imposta pelo governo local em 2013. A ideia era estimular a produção interna. A medida não surtiu efeito, da mesma forma que não frutificou a iniciativa de levar produtores gaúchos para plantarem por lá – ou seja, não restou alternativa além

de derrubar a taxa de importação, em outubro último. O desafio brasileiro, agora, é reconquistar esse mercado local, já que os nigerianos seguiram comprando de outros países. O terceiro grande mercado em prospecção, a China, porém, ainda deve demorar a ser anunciado. – Não é possível prever uma finalização para esse acordo devido aos muitos trâmites chineses. Mas é início do processo em um mercado que temos de buscar – alerta o diretor comercial do Irga, Tiago Barata. Já o presidente Guinter Frantz antecipa que está na mira, também, o mercado de Gana, que já emitiu convite para receber uma comitiva de representantes de arrozeiros do Brasil. Outro país que está na mira do Irga é o Iraque – tradicional cliente, por exemplo, do frango brasileiro. O problema para vender ao mercado iraquiano é a falta de estrutura portuária no Estado para embarcar arroz ensacado. – A Argentina, por exemplo, consegue vender para lá. Falta um shiploader (equipamento para embarque de grãos) e a implantação de um terminal específico para o arroz, em Rio Grande. Com isso, poderemos abrir novos mercados, já que alguns países só compram arroz ensacado – explica o diretor comercial do instituto. Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Dornelles, a atual conquista de compradores estrangeiros ajuda a dar certo otimismo ao produtor. – As exportações são o único motivo de comemoração, atualmente, para o produtor de arroz. No campo, há o horizonte da incerteza climática e do dólar afetando custos. Isso faz com que o produtor trabalhe com os pés bem no chão, e isso é bom. Os novos mercados podem nos dar um certo alento – avalia Dornelles. De acordo com o diretor comercial Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), Lúcio do Prado, todos os recursos captados nas atividades em Rio Grande estão sendo reinvestidos no próprio local, o que dá boas perspectivas para o andamento do projeto do terminal arrozeiro. – Já temos o tombador pronto, o que vai agilizar a descarga. E vamos seguir avançando – ressalta Prado.

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PORTO DO RIO GRANDE / DIVULGAÇÃO


Porto do Rio Grande é um dos principais corredores de escoamento da produção arrozeira

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MERCADO EXTERNO

Um olho lá, outro aqui

Ao mesmo tempo em que produtores, entidades e governo prospectam novos mercados para o arroz brasileiro, olhares estrangeiros também se voltam para cá. Mas por outras razões. Orizicultores, cientistas e representantes de diferentes países cruzam o oceano para conhecer a tecnologia gaúcha de produção. Mais especificamente os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na estação experimental de Cachoeirinha. O avanço das pesquisas do centro, que tem como meta desenvolver um tecnologia que leve a 10 toneladas por hectare, chama a atenção até do Vietnã, o quarto maior produtor de arroz do mundo (o Brasil é o sexto) e o segundo maior exportador (a Índia lidera). Embaixador da República Socialista do Vietnã no Brasil, Nguyen Van Kien veio ao Rio Grande do Sul em meados de 2015 e buscou saber mais sobre um dos maiores problemas dos arrozeiros vietnamitas, o percevejo (que no Rio Grande do Sul não é causador de grandes

prejuízos), e questionou métodos para o controle da praga. Um dos atrativos do grão com tecnologia gaúcha é a produtividade. Cultivares desenvolvidas na estação experimental em Cachoeirinha alcançam 8,7 mil quilos por hectare, volume que até pouco tempo girava em torno de 5 mil quilos por hectare. – Conseguimos esse avanço porque pesquisamos o que demanda o produtor, e repassamos a tecnologia diretamente a ele. Desenvolvemos conforme a necessidade – sintetiza Rodrigo Schoenfeld, que é gerente da divisão de pesquisa do Irga. Em sua visita ao Irga, o embaixador vietnamita também quis trocar experiências. Kien explicou como funciona uma linha de trabalho que tem bons resultados no país asiático, a diversificação de culturas – também foco de trabalho do instituto. O sistema de rotação de culturas é um dos diferenciais vietnamitas. Em algumas regiões do Vietnã, pelas características climáticas, são feitas de três a quatro colheitas de arroz por ano (no Brasil é apenas uma). Sempre em rotação com outra cultura, como a batata.

Por meio do projeto Brazilian Rice, expectativa é ampliar o mercado para 55 países

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Relações internacionais Veja com quem o Brasil troca conhecimento e comercializa arroz:

O acerto para abrir espaço ao arroz brasileiro nas gôndolas mexicanas tem como contrapartida a abertura do mercado nacional para o feijão do México

/ ESPECIAL MARCUS MACIEL


z:

Tratativas com o mercado chinês, marcado pelo excesso de trâmites, já se iniciaram

Governo do Vietnã demonstrou interesse na produtividade do grão gaúcho e no controle de pragas

110% era a taxa de importação do governo local, já derrubada

800

mil toneladas extras é o potencial de exportação apenas para os mercados mexicano e nigeriano

Outras iniciativas

O projeto Brazilian Rice, convênio entre a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), terá duração de dois anos, com investimentos de R$ 1,991 milhão. O

valor prevê ações como inteligência de mercado, relacionamento, participação em feiras, missões comerciais, investimentos em imagem e capacitação de empresas para atuação em diferentes países. A intenção é diversificar o mercado de 55 países em

2014/15, aumento no número de empresas com exportação direta, inclusão de novas organizações no projeto (como indústrias de massas, óleos e biscoitos derivados do arroz) e aumento da exportação de arroz com alto valor agregado.

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MERCADO

Arroz na Bolsa

permite segurança nos negócios

Criado em outubro, sistema de leilões virtuais é uma parceria entre Irga, Federarroz, BBM, Emater e Banrisul

O

território virtual pode ser bastante fértil para os negócios. Quem trabalha com agricultura sabe que a internet é um excelente terreno para colher oportunidades e uma ótima ferramenta para escoar o que é plantado em solo real. Vide o Programa Arroz na Bolsa, série de leilões Leilões ocorrem na promovidos via web com o objetivo de sede da Bolsa ajudar produtores e indústrias interessados Brasileira de em comercializar grãos de qualidade. Mercadorias, Criada em parceria entre o Instituto Rio em Porto Grandense do Arroz (Irga), a Federação Alegre das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), a Emater e o Banrisul, Programa Arroz na Bolsa, a iniciativa foi lançada amplia-se a abrangência da durante a edição 2015 da oferta, já que indústrias de Expointer e, até fim de todo o Brasil podem ter outubro, teve duas edições. acesso. Para quem compra, sacos são suficientes Na primeira, realizada o principal benefício é para criar um cadastro na página da BBM em 1º de outubro, foram a certeza de receber um e estar apto para o vendidas apenas 10% das produto certificado de procedimento. 60,8 mil sacas ofertadas. Já na qualidade – afirma Barata. seguinte, ocorrida no dia 22, O dirigente ressalta, também, a adesão foi maior: 70,32% que não é preciso um volume dos 76,64 mil sacos colocados à disposição expressivo de grãos para participar do foram adquiridos. De acordo com o diretor programa e que a procura pelo Arroz na Bolsa comercial do Irga, Tiago Barata, os pregões está crescendo gradativamente: realizados pelo site da BBM ainda são vistos – 540 sacos são suficientes para criar um com certa estranheza tanto por quem cultiva cadastro na página da BBM e estar apto para quanto pelas indústrias que compram o o procedimento. É um instrumento acessível produto. Porém, a situação deve se reverter aos pequenos produtores. É um mecanismo conforme as partes forem assimilando os que estamos construindo em conjunto, benefícios que esse tipo de transação oferece. conversando com os produtores e indústrias – A ideia é dar mais força ao produtor pelo Interior. na hora da comercialização. Por meio do Segundo o presidente da BBM, Giuliano

540

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Ferronato, um ponto que gera resistência à nova empreitada por parte dos arrozeiros é a cobrança de uma taxa de 0,5% sobre o valor do fechamento. Mesmo assim, ele considera que, no fim das contas, os leilões são vantajosos para quem vende. – Nas negociações diretas, geralmente, a indústria sempre acaba pagando menos do que o tratado com o produtor, pois ela desconta grãos que considera não serem aproveitáveis. Na bolsa não existe isso. O produto entregue é o que está informado na descrição do site. Isso é vantagem tanto para quem vende, pois o valor a ser recebido não será reduzido, quanto para quem adquire, que terá acesso exatamente àquilo que pagou – explica Ferronato. Caso haja algum desentendimento durante o trâmite, existe um Juízo Arbitral formado por uma comissão de especialistas que avaliará o caso para dizer quem tem razão. Enquanto uma decisão não for tomada, o dinheiro envolvido no negócio fica retido.


PADRINHO AGÊNCIA DE CONTEÚDO

Faça parte dos leilões Inscrição É preciso enviar e-mail para

arroznabolsa@irga.rs.gov.br bolsa@federarroz.com.br

produtores e compradores têm acesso a informações de qualidade, podendo acompanhar os leilões e saber os preços que estão sendo efetivamente praticados.

Na mensagem, deve constar nome do interessado, telefone de contato, cidade de origem e quantidade de arroz que pretende ofertar. Depois, um representante da Banrisul Corretora de Valores dará retorno para efetuar o credenciamento.

Como negociar Arroz na Bolsa Após realizar o credenciamento por uma corretora da Bolsa Brasileira de Mercadorias, tanto o comprador como o vendedor poderão visualizar seus lances no sistema eletrônico via internet com total segurança.

Quem pode participar Produtores rurais (pessoas físicas ou jurídicas), cooperativas de produtores rurais, comerciantes e agroindústrias do arroz por meio de corretoras associadas à Bolsa, dos pregões de venda eletrônica.

Como comprar Arroz na Bolsa A corretora associada à Bolsa Brasileira de Mercadorias vai acompanhar o leilão, como representante do comprador, e ofertar os lances que poderão resultar na compra do arroz que o comprador necessita.

Transparência Na Bolsa Brasileira de Mercadorias,

Entrega X Pagamento Os compradores realizam os pagamentos

diretamente na conta de liquidação da Bolsa Brasileira de Mercadorias. Após a constatação do pagamento e o aceite do comprador, a Bolsa comunica o vendedor, autorizando-o a entregar o produto. Após a entrega, a Bolsa providencia a transferência do pagamento ao vendedor. Vantagens do Arroz na Bolsa > Segurança e confiabilidade; corretoras associadas à Bolsa proporcionam total assessoria aos compradores e vendedores; > Juízo Arbitral: resolve controvérsias de qualquer natureza a partir de contratações na Bolsa por associados e terceiros. > Pagamento antecipado à entrega, por meio da conta de liquidação da Bolsa.

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PLANEJAMENTO

6 exemplos de gestão na propriedade Administrar uma lavoura de arroz é uma tarefa que exige determinação, planejamento e bastante trabalho. Como fonte de inspiração para os produtores gaúchos, a reportagem da Lavoura Arrozeira selecionou seis orizicultores que adotam boas práticas em suas propriedades. Confira nesta e nas próximas páginas o que eles fazem de bom. José Carlos Gross Dias prioriza a preparação antecipada do solo

Visão de longo prazo diferencia José Carlos Gross Dias Os três pilares que José Carlos Gross Dias elenca para fazer uma boa gestão de sua propriedade são facilmente listados: pessoal, comercialização e planejamento. Mesmo atuando apenas com terras arrendadas em Camaquã e em Arambaré, Gross consegue se programar e ter visão de longo prazo do negócio. – Tenho um bom relacionamento com os proprietários, e isso ajuda na hora de planejar o plantio de terra de forma continua. Termino uma lavoura e em seguida já começo a preparar o local para o próximo plantio – explica o produtor, de 53 anos, que é também é engenheiro agrônomo. Para Gross, antes de qualquer

coisa o gestor tem de valorizar, treinar e capacitar constantemente o grupo de trabalho. Ele gerencia 12 pessoas que passam por, ao menos, três cursos e treinamentos por ano (internos e externos). – Na propriedade, fazemos os treinamentos mais práticos, com de manejo da lavoura. Externamente, a equipe faz cursos de normas regulamentares, como de trabalho em silos e lugares confinados – diz o produtor, que passou a intensificar essa ação nos últimos cinco anos. O segundo pilar é a compra de insumos e a venda do produto. Seguindo basicamente duas linhas de trabalho Gross consegue ter um bom diferencial. Ele busca sempre fazer a compra antecipada dos insumos da próxima lavoura e investe em armazenagem própria para vender no período de maior valorização do grão. – A compra de insumos eu começo logo que encerro uma

lavoura. É quando ninguém está comprado, aí se consegue negociar melhores preços ou condições. Outra dica do engenheiro agrônomo é sobre a preparação do solo. Gross conta que prioriza a antecipação do processo. Assim que termina o plantio da soja ele já faz o entaipamento da terra. Ou seja, entre março e abril ele já está com o espaço bem encaminhado para o plantio lá em outubro: – Eu uso rolo-faca em cima da resteva de arroz, enquanto muita gente usa arado gradeado, que pica a palha. Faço ainda com umidade no solo e passo a plaina depois que estiver seco. Evito mexer terra, faço menos operações, reduzo o custo de óleo diesel e ainda fico com o solo mais compactado. Isso facilita o plantio em período de chuva. E plantar no período certo também é importante para uma boa colheita – ensina Gross. FOTOS DIVULGAÇÃO

ÁREAS ARRENDADAS Fazenda Pontal, em Camaquã Atividades: 280 hectares de arroz, 300 hectares de soja e bovinos de corte (cerca de 200 cabeças)

Fazenda Santana, em Arambaré Atividades: 220 hectares de arroz.

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Tecnologia e planejamento são as armas de Ricardo Lara Ricardo de Lara, 62 anos, de Cachoeira do Sul, costumava focar seu trabalho na busca por maior produtividade, procurando na parte técnica formas de ter esse incremento. Ao longo dos anos, percebeu que isso não era suficiente. – Algumas vezes se alcançava maior produtividade, mas o resultado financeiro não era suficiente – relembra Lara, engenheiro agrônomo, que se deu conta de que eram necessárias outras ferramentas para que os ganhos aumentassem. Nessa busca, implantou, há cerca de 10 anos, um software de gestão na propriedade e nunca mais abandonou esse recurso de controle. O software permite que o engenheiro agrônomo e o irmão e sócio tivessem uma visão mais geral do negócio. O programa lhe permite ver o custo total, custo operacional e desembolsos, entre outros itens (inclusive levando em conta a depreciação dos equipamentos da lavoura). – O produtor deve ter inclusive esse controle do desgaste na máquina para poder fazer uma gestão eficiente da lavoura – alerta o engenheiro. Lara também ressalta outra potencialidade do uso de um software de gestão, como o adotado na Estância do Chalé: a possibilidade de ver os ganhos reais sobre o capital investido: – É preciso saber se o dinheiro aplicado na terra e na propriedade te trouxe retorno melhor do que se fosse investido em outra aplicação. Se não fizer todas essas análises, é um vôo cego. O produtor não vai nem saber se está tendo lucro ou prejuízo. Na Estância Chalé, o software é utilizado inclusive para que os irmãos Lara decidam onde e quanto deve ser investido. Do

contrário, alerta o produtor, muitos acabam investindo o que nem têm, ou no lugar errado. A conseqüência é a falência do negócio.

às metas e focos das ações na propriedade. A primeira medida não teve custos: – Fazemos uma roda de conversas com todo mundo para esclarecer os planos e receber Planejamento contribuições, ideias. Eles estão na mensal e visível linha de frente e são estimulados a fazerem suas críticas e sugestões. Outra medida eficaz e simples Todo mundo passou a se sentir de implantar, recomenda Lara, mais parte do processo – avalia é ter uma planilha com os 12 Lara, ressaltando que a conversa meses do ano onde conste um é feita realmente em roda, para calendário do que deve ser feito não ter hierarquia, de chefe e de mês a mês, por atividade. A subordinado, para estimular a sugestão é que esse material fique conversa. em local visível a todos. E, claro, Além do bate-papo, Lara que seja executado: também valoriza o bolso dos – Na nossa tabela eu coloco, por trabalhadores, com percentual exemplo, as tarefas que tempos de de divisão da lavoura conforme executar após a colheita do arroz. a produtividade. Em média, é Em dezembro e janeiro é preciso dividido entre os empregados preparar a terra para novo cultivo. o equivalente a cerca de 3% Em fevereiro, coletar amostras de do que é colhido, com o solo, e assim por diante. Reduz o pagamento em grãos. risco de tu lembrares tarde demais de algo que deveria ter sido feito antes. Com a gestão de custos e gastos já consolidada, Lara percebeu, recentemente, que precisava melhorar outra área tão fundamental para a empresa quanto a dos números. Começou a executar um plano para integrar mais os trabalhadores

Ricardo Lara trabalha com um software para ter uma visão global da propriedade

Propriedade em Cachoeira do Sul Atividades: Em uma área de 3,4 mil hectares, 600 hectares com arroz, 100 hectares, em média, com soja e o restante da área ocupado pela pecuária (cerca de 2,1 mil bovinos angus e brangus e cerca de 400 de ovinos merino e texel, com foco na genética).

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PLANEJAMENTO

Frederico Costa aposta na capitalização e na integração com o setor arrozeiro

P

rodutividade, custo e valor da venda. É isso que olha com atenção o produtor Frederico Costa, 52 anos, de Rio Grande, quando o assunto é gestão da propriedade. – A meta é colher mais, comprar bem e vender melhor. O produtor precisa equacionar o negócio pesando nessas três variáveis – sintetiza Costa, que também é engenheiro civil. Para a questão da produtividade, Costa ressalta a importância da tecnologia, seguindo rigorosamente as orientações dadas por instituição como o próprio Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Seguir recomendações técnicas e plantar no período certo também reduz os custos, como no uso de insumos, destaca o produtor. Costa também ressalta que o arrozeiro deve ter com meta cultivar com recursos próprios. Depender de bancos e indústrias para financiar o cultivo implica usar um dinheiro que terá custo maior. A ideia é ir gradativamente se capitalizando. – Quem não consegue plantar tudo com recursos próprios ou com origem em crédito público deve ter uma programação para, ano a ano, ir reduzindo essa dependência de recursos externos. Em um ano, separa 10% a mais do lucro para custear a próxima safra, e assim por diante, até chegar ao ponto de não depender mais dos externos. Não existe mágica, é planejamento – recomenda Costa. Para colocar mais dinheiro em caixa a opção é investir em

Frederico Costa sugere seguir recomendações técnicas e plantar no período mais correto

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armazenagem. Assim, o produtor pode se concentrar nas vendas no segundo semestre do ano, quando há menos arroz no mercado e o preço sobe. – Se o produto não tiver onde estocar, a venda acaba se concentrando no primeiro semestre, onde o preço tende a ser menor – alerta o produtor. O produtor também indica como método de gestão que os empresários rurais participem mais de entidades de classe, sindicatos e outras instituições afins. Esses são importantes espaços de troca de conhecimento, alerta Costa: – Estando neste meio se está sempre atualizando sobre novas técnicas, recursos e tecnologias. O produtor usa sua própria história para exemplificar como esse conjunto de ações podem mudar uma propriedade. E o retorno econômico dela. – Entre 1990 e 1995, gerenciando 1,5 mil hectares de lavoura, acumulei muita dívida. Depois, administrando 500 hectares, paguei todas as contas de 1,5 mil hectares. Tudo por ter melhores controles e gestão – ressalta Costa.

Propriedade: fazenda em Rio Grande Atividades: 700 hectares cultivados com arroz e 600 hectares com soja.


FOTOS DIVULGAÇÃO

um modelo de gestão nesse Decisões amparadas em números tipo de ação, na produtividade diferenciam o time de Geraldo Azevedo e lucratividade, norteiam o trabalho: base da Sementes – Nossa meta é estar sempre números totais e por variedade Condessa, propriedade entre os 5% a 10% mais eficientes cultivada. Assim, conta o administrada por Geraldo também médico veterinário, fica dentro do ambiente em que Azevedo, é ver a lavoura como mais fácil decidir sobre a cultivar atuamos. um recurso financeiro. Controle Azevedo garante que não que será priorizada no ano rígido de custos, fluxo de caixa, existe uma ação específica para seguinte: maximização de recursos, aprimorar o negócio. Mas várias. – Fazer uma boa gestão não sustentabilidade e valorização – A gestão é acertar várias é necessariamente cortar custo, dos colabores são algumas das mas maximizar os investimentos. pequenas decisões. É um trabalho ações que Azevedo lista como Da parte agronômica se tem mais frequente, que tu vais acertar prioritárias. informações. Já a parte financeira mais do que errar. Para isso, é – Nosso foco é olhar de preciso ter uma base de dados exige mais esforço porque os perto os itens que têm maior para tomada de decisão. Temos dados não estão prontos e não participação no percentual de arquivos até com 15 anos de são tão fáceis de obter. custos. Para isso, trabalhamos dados. É na falta desse histórico Azevedo também avalia que com um bom histórico de dados, que muitas vezes o produtor o foco na sustentabilidade é o que nem todos os produtores se perde – ressalta amplo e, por isso, também é fazem. Se nosso custo com Azevedo. grande o espectro de benefícios manutenção das máquinas que pode trazer à propriedade. subiu muito, é sinal que estão Na Sementes Condessa a opção desgastadas ou mal operadas, e foi por adotar a sistematização aí vamos atacar o problema ou dos recursos hídricos. Assim, renovar os equipamentos. Mas reduziu-se o consumo de água para ter isso é preciso um base e energia, gerando economia histórica de valores e percentuais ambiental e financeira. Ser – alerta Azevedo. O controle de custos é feito de forma precisa, diz o produtor. Os cálculos de uma safra são realizados, por exemplo, pelos

Equipe da Sementes Condessa, em Mostardas

A

Propriedade Sementes Condessa, de Mostardas Atividades: produção de sementes de arroz e de soja, arroz para consumo e pecuária

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PLANEJAMENTO FOTOS DIVULGAÇÃO

Alberto Giuliani Neto (E) tem o cargo de diretor de produção, e Sergio Augusto Giuliani Filho responde pela diretoria comercial

Consultorias, profissionalização e inovação no foco dos Giuliani

U

ma mudança implantada há cerca de cinco anos ajudou a dar novos rumos à propriedade dos Giuliani, em São Gabriel. Alberto Giuliani Neto explica que muita coisa começou a mudar, para melhor, quando o formato de administração conjunta e familiar foi alterada. – Contratamos um serviço de coaching porque estávamos tendo problemas, alguns comuns à gestão de família, o que gerava muitos conflitos. Todo mundo mandava em tudo, e não estava funcionando. Hoje, cada um tem sua área de responsabilidade e onde tem a palavra final, como produção, financeiro e comercial – conta Giuliani. Dentro desse trabalho de profissionalização, o produtor conta que cada um entender o seu real papel na estrutura, e

dos colegas, acrescenta diferente benefícios ao negócio. Essa modernização na gestão familiar também foi replicada para outras áreas. Todos os funcionários têm acesso à internet e colaboradores e familiares podem frequentar uma escola que funciona dentro da propriedade e atende até o 5º ano do Ensino Fundamental. Com educação e maior intimidade de todos com novas ferramentas de trabalho, a ação de fazer controle de custos e até mesmo de organizar e planejar qualquer coisa se torna mais fácil. Giuliani conta que há um plano de expansão elaborado para os negócios até 2025. – A cada safra, temos uma atualização de dados e informações. Para trás e para frente. Trabalhamos olhando para muitas variáveis, como o

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mercado, o clima e outros itens – afirma. A propriedade também conta com organograma de todos os cargos, funções e responsabilidades, contrata consultoria em diferentes áreas (como tributária, econômica e até psicológica, quando necessário). Além disso, as contas familiares e da empresa foram separadas e mesmo os herdeiros trabalham com pró-labore próprio. – Já os funcionários são premiados por produtividade. A propriedade rural é uma empresa como outra qualquer, que tem de ser também inovadora – explica Giuliani. O resultado de tudo isso? O avanço da produtividade em mais de 10% em quatro anos no arroz, que passou de 10,6 mil

quilos por hectare em 2011/2012 para quase 11,6 mil quilos no ciclo 2014/2015. Outra receita é diversificar a atuação: feno, transporte, arroz, sementes, soja e pecuária de corte integram o mix de negócios.

Formosa Agropecuária, em São Gabriel Atividades: plantio de arroz em 820 hectares, soja na coxilha em 520 hectares e soja na várzea em 1,1 mil hectares, além de pecuária de corte (1,1 mil bovinos)


Visão crÍtica e presença constante marcam gestão de Arns

O

lhar a propriedade de perto, das rotinas de trabalho às lavouras, mas com apoio especializado e delegando poder. Sem abrir mão, claro, do planejamento. É com essa filosofia que o geólogo Walter Arns, 60 anos, de Uruguaiana, pode ser apontado como um bom exemplo de gestão de propriedade. – Minha lavoura de arroz já estava toda plantada 20 dias antes do prazo. A maioria dos produtores ainda tem um trecho ou outro para tocar. Priorizo muito fazer a semeadura cedo e, sabendo dos riscos do El Niño, nos antecipamos ainda mais. Cheguei a plantar, no cedo, uma parte em setembro – diz Arns. O produtor diz, porém, que tem uma posição privilegiada em relação a muitos outros produtores. Ele conta com

2,2 mil hectares para plantio distante apenas 25 quilômetros de sua residência, o que facilita o contato direto com o campo e com os gestores locais da propriedade. Em geral, os orizicultores acabam tendo mais de uma área para cuidar, inclusive em municípios diferentes. Arns soube tirar proveito da proximidade: – Com o responsável agronômico eu falo praticamente todos os dias. E tem ainda um responsável pela parte comercial. Reuniões ocorrem semanalmente. Olho as coisas com visão crítica e, quando não concordo, vou direto ao gestor da área e discutimos o assunto para resolver – explica Arns, que participa de diferentes atividades ligadas ao setor, por meio das quais se mantém atualizado. O produtor também está sempre inteirado dos problemas

e soluções para a atividade por meio do próprio trabalho diário, no comando da Vetagro, escritório de consultoria agrônoma, em Uruguaiana. – Nossos profissionais de assistência técnica circulam em muitas propriedades e estou sempre me informando do que ocorre na região. Isso ajuda a ter uma visão ampla. Aprendo com as experiências deles também – explica o produtor. Outra prioridade na gestão do geólogo é contar com bom maquinário. Arns diz que, apesar da área extensa que gerencia, tem condições de semear tudo em no máximo 15 dias. Novamente, para privilegiar a capacidade de plantar cedo. Assim que o tempo permitir. – É comprovado que o arroz plantado em outubro tem maior potencial de produtividade. No

Estabelecimento Guará, em Uruguaiana Atividades: 2,2 mil hectares de arroz, 200 hectares de soja e pecuária (recria de terneiros, cerca de 9 mil por ano)

começo de novembro também, mas neste ano correríamos o risco de não conseguir. E muitos não conseguiram em razão do El Niño – pondera Arns. A gestão de pessoal também tem peso no trabalho: são cerca de 60 funcionários, que recebem participação nos lucros, pagamento extra por produtividade e sorteios. – Nossa produção média é de 9 mil quilos por hectare. No ciclo atual queremos chegar a 10 mil. Claro que isso também depende do clima – ressalva Arns.

Walter Arns procura antecipar ao máximo o plantio devido a fenômenos como o El Niño

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RECURSOS HÍDRICOS

Irga recebe outorga para a

Barragem do Capané Parceria entre o instituto e Departamento de Recursos Hídricos encerrou questão de cerca de 50 anos

A

pós cerca de 50 anos de luta, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) finalmente recebeu no último mês de setembro, no dia 11, a outorga de direito ao uso da água da Barragem do Capané, em Cachoeira do Sul. Na ocasião, o presidente do Irga, Guinter Frantz, afirmou que a concessão significa um momento histórico. Em entrevista à Lavoura Arrozeira, o diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), Fernando Meirelles, salienta que, apesar de as águas da Barragem do Capané serem utilizadas pelos produtores da região há décadas para a irrigação das lavouras de arroz, a situação nunca foi regularizada por

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meio da entrega de uma outorga oficial. Meirelles explica que, após anos de discussões e de disputas infrutíferas, que não resultavam nem na concessão de outorga nem na interrupção da utilização da água local para a produção, partiu do Irga a iniciativa de procurar o DRH para, de uma vez por todas, regularizar a situação. – Nunca conseguiu se fazer um diálogo de uma maneira positiva com o Irga. Sempre se pediu mais documentos. Agora, a gente rompe este processo de tensionamento, reconhece que a barragem estava sendo usada e dá um prazo para regularizar. Isso foi construído com o Irga – disse Meirelles. Também durante a concessão da outorga,


o secretário de Estado da documentos que devem ser Agricultura e Pecuária, apresentados em março de A represa está Ernani Polo, afirmou que a 2016, quando o Comitê entre as cinco maiores do iniciativa do Irga foi feita de Bacia Hidrográfica Estado e pode fornecer de forma técnica e com (CBH) do Baixo Jacuí, água para irrigar mais de respaldo dos produtores. órgão vinculado à Agência Ele ponderou que a entrega Nacional de Águas (ANA), da outorga simboliza o irá avaliar a possibilidade de hectares. trabalho respeitoso que concessão de nova outorga. a diretoria da entidade O Irga mantém contrato tem feito para atender as para a utilização de água da necessidades dos produtores. Barragem do Capané com cerca de 35 Sobre a participação dos produtores produtores. A represa está entre as cinco no processo, o presidente do Irga ainda maiores do Estado e fornece água para ressaltou: irrigação de mais de 5 mil hectares. – É importante que os produtores Segundo Meirelles, o principal benefício participem e demandem, pois é através para os produtores a partir da outorga é que, disso que podemos solucionar os problemas com a regularização do uso das águas da – disse Guinter Frantz. barragem, eles poderão ter acesso facilitado O diretor do DRH salienta, porém, a financiamentos para a produção. que a outorga ainda não é definitiva. Foi – Como não havia outorga pelo uso concedida uma outorga precária para a da água, o banco dizia que não podia dar próxima safra, explica. financiamento porque não tinha garantia Segundo ele, o Irga ficará responsável pela utilização da água – afirmou. por produzir um estudo de viabilidade Além disso, também abre-se o espaço técnica e comprovar, por meio de para a ampliação da área irrigada na região, documentos, a situação de estabilidade da desde que o Irga apresente um estudo de barragem, o estado do vertedor no local, que isso não trará prejuízos para os demais o manejo das comportas, entre outros usuários da bacia.

5 mil

Novas outorgas em bacias especiais Diretor do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), Fernando Meirelles explica que outra situação trabalhada entre o Irga e a Sema é a questão das bacias especiais, em que a concessão de novas outorgas está congelada porque a ampliação do uso da água poderia colocar em risco os rios. Ele afirma que, recentemente, os arrozeiros da região da Bacia do Sinos patrocinaram um estudo junto ao CBH local para comprovar que houve mudanças no volume de água utilizada para a irrigação das lavouras, o que poderia acarretar em uma mudança na política de outorgas. – Há uma definição técnica de um novo manejo de água que existe na lavoura de arroz.– explica Meirelles. Seguindo os passos da ação bemsucedida no região dos Sinos, Meirelles diz que os produtores das regiões da Bacia do Gravataí e de Santa Maria poderiam optar pelo mesmo caminho para pleitear o descongelamento de novas outorgas.

ASSESSORIA IRGA

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RADIOGRAFIA DA LAVOURA

Minicenso prepara terreno para levantamento da prรณxima safra Estudo preparativo servirรก como base para o Censo previsto pelo Irga para o ano de 2016

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ASSESSORIA IRGA

O

último Censo da produção resultados, a expectativa do Irga é do arroz realizado pelo que os resultados do Censo possam Instituto Rio Grandense ser divulgados em uma publicação do Arroz (Irga) ocorreu na ainda em 2016 - o último Censo foi safra 2004/2005. Como o órgão realizado em 18 meses no total. tem o objetivo de realizar um levantamento do tipo a cada 10 Diferenças entre anos, um novo Censo deveria ser Censo e Minicenso realizado na safra de 2014/2015. Contudo, em decorrência de O Censo do Irga tem o objetivo problemas técnicos, optou-se por de coletar informações sobre as fazer inicialmente um Minicenso condições socioeconômicas dos preparativo para um estudo produtores de arroz, os dados completo a ser realizado na agronômicos, tecnológicos e dos próxima safra. recursos hídricos disponíveis, bem Diretor técnico do Irga, Maurício como fazer um levantamento sobre Fischer explica que essa decisão de a concessão do crédito agrário, da fazer um minicenso preliminar foi situação da terra após a colheita, tomada em razão de os técnicos sobre o maquinário utilizado e o da entidade que trabalham nível de emprego na lavoura, entre junto aos produtores terem sido outros dados. – O Minicenso tem bastante convocados apenas de 2014 para informação, mas não tanto quanto cá, o que fez com que eles ainda o censo. Não tem quantos tratores o não conhecessem grande parte produtor tem, se ele utiliza secador ou dos produtores dos 40 núcleos não. Isso são informações coletadas de assistência técnica do Irga no no Censo. O mini são informações interior do Rio Grande do Sul. básicas, mais da gestão da unidade de Em razão disso, optou-se produção – explica por fazer um Fischer. Minicenso como No Censo anterior teste nesta safra. – safra 2004/2005 O levantamento –, o Irga identificou trouxe dados 9.032 lavouras em interessantes As perguntas vão 133 municípios (confira nas páginas cair direto no sistema, do Estado – nove municípios seguintes), como que já processa o fato de que a atendidos pela e gera resultados. produtividade entidade não tinham cultivado arroz na média de arroz no MAURÍCIO FISCHER RS está em 7.780 ocasião. IdentificouDiretor técnico do Irga kg/ha. se que 18.529 pessoas participaram – O primeiro da produção de arroz, sendo 11.960 objetivo dos novo técnicos foi produtores e 6.569 parceiros ou conhecer os produtores e também proprietários de terra. aproveitar o contato para testar a Além disso, verificou-se metodologia que vai ser utilizada pelo Censo no futuro – diz Fischer. em 2004/2005 a produção de 125.025.986 sacos de 50 kg arroz Uma das metodologias que está em casca em uma área total de sendo testada é a utilização de um banco de dados e sistema de análise. 1.034.820 hectares. Em comparação, o Minicenso entrevistou 8,2 mil – As perguntas vão cair direto produtores em 7.113 lavouras, o no sistema, que já processa e gera que representaria cerca de 87% resultados. No modelo anterior, nós das lavouras de 126 municípios utilizávamos uma planilha manual arrozeiros. Segundo Fischer, a e depois passávamos para o Excel – ideia é que, no Censo da safra de salienta Fischer. 2015/2016, até 95% dos produtores Em razão da aceleração sejam entrevistados. do processo de apuração dos Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

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O que revela o

Minicenso da lavoura arrozeira LEVANTAMENTO REALIZADO Foram coletados dados de 7.113 lavouras

ANÁLISE POR REGIÕES

Isso corresponde a 87% da lavoura de arroz do RS Levantamento realizado em 126 municipios do RS

10000

8000

FAIXA DE PRODUTIVIDADE 6000

4000

RESULTADOS DA SAFRA

2000

Produção

0

8.719.449 toneladas Área colhida

1.120.234 hectares Produtividade média

7.780 kg/ha

Na comparação com os resultados dos últimos anos, o Minicenso apontou uma continuação da tendência de aumento da produtividade média. Na safra de 2010/2011, a produtividade média era de 7.497 kg/ha. Vale salientar que o aumento da produtividade se deu mesmo com a queda na área plantada entre os dois períodos, de 1.170 mil hectares para 1.124 mil hectares. Se voltamos ainda mais no tempo, percebe-se que a produtividade da lavoura de arroz deu um grande salto desde o início do século. Na safra de 2002/2003, a produtividade média era de 5.330 kg/ha. Em 2003/2004, 6.110 kg/ha.

Produtividade por lavouras de arroz: 23,5% Até 6,5 mil kg/ha 37% Entre 6.501 e 7,5 mil kg/ha 24% Entre 7.501 e 8,5 mil kg/ha 15,5% Acima de 8.501 kg/ha

Maior produtividade média em kg/ha Zona Sul - 8.479 Campanha - 8.165 Fronteira Oeste - 8.149 Depressão Central - 7.249 Planície Costeira Interna - 7.234 Planície Costeira Externa - 6.581

PROPRIEDADE DA TERRA

TAMANHO DAS PROPRIEDADES

46% Lavouras de até 50 hectares 17% Lavouras de 51 a 100 hectares 16% Lavouras de 101 a 200 hectares 21% Lavouras acima de 201 hectares

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42% têm terras próprias 58% utilizam terras arrendadas Os dados do Minicenso demonstram que quase a metade dos arrozeiros plantam até 50 ha.


CERVEJA DE ARROZ

Do prato para o

copo Em parceria com a Escola da Cerveja, de Porto Alegre, o Irga já testa a produção de uma cerveja feita a partir de arroz. Variedade derivada do grão é mais comum no mercado dos Estados Unidos

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CERVEJA DE ARROZ FOTOS PADRINHO AGÊNCIA DE CONTEÚDO

Marcelo Scavone, da Escola da Cerveja, fez parceria com o Irga

A

popularização das cervejas artesanais acabou por difundir também mais informações sobre a bebida surgida antes mesmo de Jesus transformar água em vinho – há apontamentos de que o líquido dourado, hoje um dos mais consumidos no planeta, tenha sido descoberto quase que junto ao processo de fermentação, por volta de 10 mil A.C. Com isso, surgiram “mestres cervejeiros” de ocasião, que defendem com unhas e dentes a Lei da Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot), promulgada em 1516, a qual diz que a bebida só pode ser feita com malte, lúpulo e água. Mas os tempos são outros e as regras para produção, também. Diferentes insumos, tais quais milho e arroz, agora são permitidos. O que habilita o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) a investir em algumas experiências no ramo em parceria com a Escola da Cerveja, de Porto Alegre. Na legislação brasileira, por exemplo, os chamados adjuntos cervejeiros – que complementam ou substituem parte do malte – podem estar presentes em até

45% da fórmula. Uma não há estudos que atestem boa desculpa usada por a informação como “Nos Estados Unidos, verdadeira. Ela, inclusive, consumidores mais radicais para marginalizar o uso do arroz na aposta que o arroz é o exemplares que fogem à favorito dos fabricantes, no cerveja é mais comum Estado e no país: composição tradicional do que no Brasil”, diz adotada há mais de meio – Não há essa estatística milênio. E, ainda que sobre o uso do arroz em Marcelo Scavone puristas tenham seus maior quantidade, se argumentos, a verdade comparado com outras é que uma cerveja dentro dos padrões da possibilidades de adjunto. Contudo, acreditaantiga lei não necessariamente será boa. se que essa demanda maior ocorra não só no Bem como não há garantia de que uma RS (esse é um fator a ser pesquisado), mas em fabricada com materiais fora da concepção todo Brasil. purista será ruim. Vale lembrar que não se trata do cereal – Nos Estados Unidos, o uso do arroz inteiro, seja milho ou arroz. O que é na cerveja é mais comum do que no Brasil. colocado, geralmente, na produção de Quando colocamos esse tipo de grão na cerveja são os grãos quebrados, considerados composição da cerveja e ela é bem feita, o excedentes da colheita. produto final fica mais leve – salienta Marcelo – É o que chamamos de quirera. Até Scavone, fundador da Escola da Cerveja. porque o malte tradicional também precisa De acordo com Janice Garcia Machado, ser moído para que cumpra sua função engenheira química e assessora da durante a fervura do mosto (mistura Presidência do Irga, ainda que o senso açucarada destinada à fermentação comum indique o milho como adjunto alcoólica) – explica Janice, que tem expertise cervejeiro preferido em território nacional, na indústria cervejeira.

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CERVEJA DE ARROZ Segundo Scavone, a prática de adicionar esses tipos de cereais na estrutura da bebida tornou-se muito popular nos EUA após a revogação da Lei Seca. A partir daí, a combinação de ingredientes parece ter caído nas graças dos consumidores. Tanto que uma das 10 marcas mais consumidas no mundo, a americana Budweiser, opta por incluir arroz junto ao tradicional malte de cevada. Há quem diga que a mistura é apenas para diminuir gastos, mas ela tem outras funções. – Isso deixa a bebida mais leve e clara e, consequentemente, mais fácil de beber. É o estilo mais vendido no mundo – afirma Scavone. Janice faz coro à resposta do cervejeiro gaúcho. – O uso do arroz não se justifica apenas pelo preço, e sim pelas características, como menos gordura em relação a outros adjuntos e amido facilmente disponível para transformação em açúcar na fermentação. Além disso, o acréscimo de arroz diminui proporcionalmente o uso da cevada malteada (malte), que é mais cara que o arroz quebrado. Scavone reforça que a cerveja com essas características deve ser classificada como American Light Lager, e não como Pilsen, algo erroneamente feito no Brasil por grande parte da indústria. Por enquanto, é essa variedade que ele produz em parceria com o Irga. A primeira leva foi há dois anos, e continha 30% de arroz. Já a mais recente foi apresentada na Expointer 2015, em comemoração aos 75 anos do instituto, e continha 45% do grão (orgânico) – o máximo permitido legalmente. O desafio agora é tentar produzir o malte diretamente do arroz, para desenvolver uma cerveja pura. O que significa deixar o cereal com propriedades e enzimas mais aptas a serem convertidas em açúcares. – Faz-se isso deixando o grão germinar e desenvolver o conteúdo proteico. Quando ele está com todos os nutrientes, é tostado e fica com toda essa reserva – afirma o engenheiro químico Gilberto Wageck Amato, do Irga. Além de tentar ‘maltear’ o arroz, existem outras ideias de pesquisa envolvendo o grão e a cerveja. Entre elas, está fabricar cervejas com arroz vermelho, preto e variedades de arroz com baixa amilose (japônico). O Irga busca parcerias técnicas para colocar em prática esses projetos. – Temos a expectativa de que grãos distintos confiram características especiais de cor, sabor e corpo, criando um produto diferenciado para atrair o mercado cervejeiro – destaca Janice.

Ingredientes da cerveja de arroz (a partir da E): água, malte, arroz, lúpulo e fermento em pó

coisas que você (provavelmente) não sabia sobre o arroz e a cerveja O uso do arroz como adjunto é uma prática antiga, bastante validada e extremamente positiva, pois é utilizada pelas grandes empresas multinacionais. O arroz é usado como fonte de menor custo de açúcar disponível para a etapa de fermentação e com poucos resíduos, contribuindo para a produção de uma cerveja mais clara e mais leve. Os produtores de cervejas artesanais ainda não incorporam arroz ao seu produto porque entendem que a uma qualidade superior da bebida está associada ao uso de maior quantidade de malte de cevada, o que consequentemente produz cervejas encorpadas. Ao passo que as escalas começam a aumentar, para viabilizar os custos de produção, os adjuntos acabam sendo incorporados na produção. E o arroz é uma excelente alternativa.

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CERVEJA DE ARROZ FOTOS ASEESSORIA IRGA

Importância regional motivou o estudo

Dejalmo Nolasco Prestes utiliza a variedade IRGA 424 e afirma já ter feito uma cerveja 100% pura

Tese de doutorado defende o malte de arroz

I

niciativas isoladas de incluir o arroz na momento da germinação. composição da cerveja podem ser vistas – O arroz, mesmo que em certos também em Pelotas, na Zona Sul do momentos seja tratado como vilão em Estado, onde o cereal responde por parcela uma cerveja por ela não ser puro malte, significativa da economia regional. Uma como adjunto torna a cerveja mais leve, destas iniciativas veio em forma de tese de com coloração mais ouro, mais saborosa e doutorado, que será defendida em 2016, em refrescante, além de ser uma boa fonte de que o doutorando do Programa de Pósaçúcares fermentáveis – explica Prestes. Graduação do Departamento de Ciência e Ele ressalta que o objetivo do seu trabalho, Tecnologia da UFPel, Dejalmo a partir do cereal germinado Nolasco Prestes, defende a na variedade IRGA 424, é fazer ideia de produzir cerveja puro a malteação do arroz, o que Arroz torna a arroz e com malte de arroz. requer apenas uma técnica cerveja mais – Para se fazer cerveja é de germinação controlada necessário que tenhamos com temperatura e umidade o malte, que é o elemento favoráveis. A dificuldade e também traz sabor e principal – explica o começa no momento da refrescância pesquisador. torrefação e sacarificação Prestes trabalha na (açúcar), diz. malteação e sacarificação de Segundo ele, é preciso arroz para elaboração de cerveja puro avaliar o teor de alfa e betamilase arroz. A variedade utilizada é a IRGA 424, (duas enzimas) do grão de arroz, após a que já teve uma cerveja fruto de enzimas germinação controlada. do malte sem a necessidade de enzimas – Meu experimento está avançado e já comerciais. A cerveja possui quatro consegui fazer cerveja 100% arroz ou puro elementos principais que são água, malte, malte de arroz – afirma. lúpulo e leveduras, de acordo com a Lei da Ele também já fez cerveja sem glúten Pureza da Cerveja, criada no dia 23 de abril usando o arroz sem malteação e fazendo a de 1516. A cevada é o cereal mais usado, para sacarificação com as enzimas comerciais, que se tenha maior quantidade de amido e pois “a finalidade é ter a minha cerveja de maior potencial para tradução de enzimas no consumo oriunda do arroz”, ressalta.

leve

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O que motivou o estudo de Dejalmo foi o fato do arroz ter uma grande importância para a economia da região de Pelotas e o malte de cevada ser quase todo importado: – O arroz é uma fonte muito grande de amido, trata-se de matéria-prima barata e de fácil acesso. Ele busca ainda fazer alguns ajustes para chegar a uma cerveja que tenha identidade para atender os celíacos. A cerveja artesanal mais lupulada tem mais amargor e pode ser muito benéfica na prevenção de doenças, pois existem estudos avançados que comprovam os componentes do lúpulo como anticancerígenos. – Também há indícios de que o álcool em pequenas doses é benéfico para o sistema cardiológico da pessoa e que uma cerveja artesanal é um grande alimento – assegura Prestes. Diante deste novo hábito de beber cerveja artesanal, Prestes vê esta possibilidade de explorar a sua riqueza nutricional, social e também suas vantagens saudáveis. Os cervejeiros artesanais são muito dinâmicos em divulgar e buscar a informação a todo momento. – Já fiz cerveja saborizada com pimenta, araçá, butiá, morango, mirtilo e frutas nativas. A ideia agora é fazer uma cerveja de puro arroz saborizada com pêssego, dois produtos típicos da região Sul – acrescenta. O aumento do consumo de cervejas artesanais e caseiras no Brasil levou os cervejeiros a buscar alternativas e atributos sensoriais, com a valorização da cor, aroma e sabor por meio do malte, fermento e lúpulo. A elaboração com a utilização de adjuntos especiais, como o arroz, é uma forma de reduzir o custo de fabricação de cervejas.


CERVEJA DE ARROZ

Pesquisador

de Pelotas aventura-se com o sabor do grão

A

Alcides Severo produz 24 tipos de cerveja e reúne-se com outros cervejeiros em uma confraria para degustação

90%

de arroz é a composição de algumas cervejas nos Estados Unidos

60

litros de cerveja com 40% de arroz estiveram à disposição dos participantes do 9º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (CBAI), em Pelotas

curiosidade em relação à produção de cerveja artesanal foi a principal motivação do pesquisador da Embrapa Pelotas, Alcides Severo, a se aventurar por esta descoberta de sabores. Ele lembra que tudo começou em 2011, motivado por um amigo, com a produção de volume pequeno, que foi aumentando aos poucos em função da criação de uma confraria em torno da cerveja que já ganhou até marca, Bruma Bier, e soma 27 integrantes, que se reúnem uma vez por mês, sempre na última quinta-feira, para degustar as bebidas. A diversidade de sabores e tipos é grande, mas para Severo, na artesanal, cada cerveja é única. – Por mais que tu repitas os processos como devem ser, tu nunca vais fazer uma cerveja igual à outra – afirma. Em países como a Bélgica, o arroz é utilizado como adjunto na fabricação de cerveja. A maioria utiliza o arroz longo fino (agulhinha). Nos Estados Unidos, existem cervejas com até 90% de arroz, garante.

Arroz Gigante é uma variedade testada Por trabalhar numa empresa que desenvolve pesquisa na área de arroz, a Embrapa, Severo resolveu testar uma nova variedade para a fabricação da bebida, o BRS AG, o Arroz Gigante, como é chamado. O motivo foi a sua melhor eficiência na conversão do açúcar, por ser um grão mais farináceo. Segundo ele, o tempo e a temperatura de gelatinização são menores em relação a um arroz classe longo fino,

facilitando assim o processo de conversão do amido: – Utilizando os mesmos processos (tempo e temperatura), obtive com o gigante 10% a mais de eficiência de brassagem comparando com quando usei arroz longo fino.

Cerveja servida em congresso foi Cream Ale Durante o 9º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (CBAI), realizado em agosto, em Pelotas, Severo ofereceu uma mostra do quanto a variedade se presta à elaboração de cerveja. Foram 60 litros da bebida artesanal para a degustação dos participantes, que aprovaram. A bebida produzida especialmente para o Congresso é a cerveja de estilo Cream Ale, uma cerveja clara, com aroma sutil, levemente frutada, teor alcóolico de 4,4% e amargo levemente acentuado. Segundo Severo, a cerveja foi elaborada com 40% de arroz em sua composição. Conforme afirma, a maioria das cervejas já inclui em sua composição arroz e milho. – Principalmente nos Estados Unidos, a produção de cerveja possui uma composição com uma quantidade expressiva de milho. Para a produção da cerveja artesanal é preciso passar por várias etapas, entre elas, brassagem, fervura, resfriamento, fermentação e maturação, que pode levar de 30 a 45 dias. Atualmente, Severo produz 24 estilos de cerveja, com diversas características e rótulos próprios. Mas os produtos não estão à venda. São produzidos para reuniões de amigos que degusta os benefícios da bebida.

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ARTIGO Tร CNICO

Arroz parboilizado

traz seguranรงa alimentar

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IRGA

GILBERTO WAGECK AMATO Eng. Quím., M. Sc. Pesquisador da Cientec, Assessor Técnico do Irga

A

Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável trata do direito dos cidadãos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, com atenção à sustentabilidade ambiental, cultural, social e econômica. O termo “alimentar” vincula ao trinômio produção-comercializaçãoconsumo. O “nutricional” trata da utilização do alimento e seu reflexo na saúde. O recente complemento “sustentável” envolve as óticas ambiental, cultural, social e econômica. O arroz cumpre, no Brasil, com todos os aspectos da definição por: Ter a proteína de maior valor biológico entre cereais; Possuir baixo índice glicêmico – o inimigo do déficit de atenção – e não “conter” glúten; Ter preço acessível; Ser cultivado e beneficiado por boas práticas agronômicas e industriais; Constituir hábitos alimentares onipresente em todas as regiões; e Por ser a principal fonte de carboidratos eleita por solos, climas e consumidores de todos os “Brasis”.

Programas sociais Internacionais

Produto naturalmente fortificado, concentra fatores como baixa quebra técnica no armazenamento e estabilização enzimática

A Melinda and Bill Gates Foundation desenvolve o programa Arroz Vitaminado, baseado na adição de vitaminas e minerais ao arroz. A sustentação do arroz é por ser um alimento básico, forma inteligente e barata no combate à “fome oculta”. Trata-se de ação avalizada por organismos internacionais como a

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS), Unicef, Banco Mundial; e nacionais, como Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Associação Brasileira das Indústrias do Arroz Parboilizado (Abiap), Irga, Sindicato da Indústia do Arroz (Sindarroz-RS), SindarrozSC, Sindapel, UNV etc. Destacam-se a adição de minerais – Zn e Fe – e vitaminas B1 (niacina) e B9 (ácido fólico). O veículo para disponibilizar se dá através da mistura de grãos estrudados enriquecidos a grãos convencionais de arroz polido – branco ou parboilizado.

Arroz parboilizado: sinônimo de segurança A busca por um arroz com segurança alimentar e nutricional sustentável encontra no parboilizado um aliado de primeira grandeza. Trata-se de um produto naturalmente fortificado, fazendose necessária uma adição menor de micronutrientes. E prescinde de adição de ácido fólico – o constituinte mais caro – naturalmente recuperado no tratamento hidrotérmico da parboilização. O parboilizado concentra fatores de segurança alimentar como estabilização enzimática e baixíssima “quebra técnica” durante o armazenamento. Assim, oferece maior quantidade de alimento durante mais tempo. Durante a parboilização, o gérmen permanece aderido ao grão. Assim, são 2,5% a mais de massa contribuindo para diminuir os custos do processo, mas, principalmente, agregando a parte nutricional mais importante do grão. Entre os ganhos nutricionais encontram-se alguns constituintes pouco citados. Como exemplos, entre pertencentes ao grupo “esqueceram de mim”, destacam-se os Ácidos Graxos Essenciais: Linolênico – Ômega-3 – e o Linoléico – Ômega-6. Estes, por não serem sintetizados pelo organismo humano, necessitam ser disponibilizados a partir da ingestão. Também, os microconstituintes lipossolúveis Gama Orizanol (o principal antioxidante produzido pela natureza) e Vitamina E.

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ARTIGO TÉCNICO

Fibras: a garantia do “conjunto da obra”

Entenda a intensidade de gelatinização

Um constituinte que passa muitas vezes despercebido merece ser referenciado como um agente corresponsável pela disponibilização mais efetiva no organismo, tanto de macronutrientes (proteínas, gorduras) como micronutrientes (vitaminas, sais minerais): as fibras! Efeitos fisiológicos da fibra alimentar Emagrecimento: as fibras contribuem na sensação de saciedade, por não adicionar calorias. Diabetes: na forma de fibra solúvel, pode retardar a digestão e a absorção de carboidratos, ajudando os diabéticos no controle de açúcar no sangue. Câncer: na forma insolúvel, reduz o tempo de trânsito intestinal, exercendo efeito de inibir o crescimento e proliferação de células cancerígenas no intestino. Também pode contribuir na redução de doenças diverticular, hemorróidas e como protetor contra o cancro do cólon. Colesterol sanguíneo.

IRGA

O farelo de arroz, como o da aveia, contribui na redução do “mau” colesterol, aumentando a proteção contra doença coronária.

Mais fibras com o processo de parboilização Uma importante inovação foi desenvolvida pelo LabGrãos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com base em método criado pela Cientec, com o apoio do Irga e em atendimento à demanda do setor privado. Visou a avaliar a operação unitária mais importante do processo, a gelatinização. O principal resultado de teses e dissertações é a correlação entre a gelatinização e o aumento na composição de nutrientes e em componentes funcionais, como proteínas, minerais, vitaminas, fibra, gordura. Entre os componentes funcionais aparece um novo componente denominado Amido Resistente, uma que une os atributos da fibra, mas sem o problema da rejeição pela palatabilidade (“gosto de serragem”) identificado em alguns produtos integrais.

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Processamento de arroz parboilizado


PLANEJAMENTO

Irga projeta obras para 2016 Reestruturação de setores, assim como construção e reforma de diversos prédios do Irga, são prioridades para a nova diretoria

dois estagiários de engenharia, somados à compra de softwares, resultando em melhoria da produtividade nos projetos. Com o apoio político do secretário da Agricultura, Ernani Polo, e do secretáriogeral de Governo, Carlos Burigo, aliado ao trabalho técnico do setor de engenharia, foi dada continuidade ao projeto do Centro de Excelência em Difusão de Tecnologias Orizícolas na Estação Experimental do Arroz, aproveitando os recursos do Banco Irga fecha 2015 com Nacional do Desenvolvimento Econômico e aproximadamente 30 projetos Social (BNDES). em fase de desenvolvimento ou Localizado em Cachoeirinha, o execução. Diretor administrativo do investimento de R$ 3,3 milhões pretende instituto, Renato Caiaffo da Rocha conta hospedar a parte administrativa, além de que uma das primeiras medidas da atual alojamentos e espaço para capacitação e direção foi realizar um diagnóstico de treinamento de funcionários e produtores. todos os prédios da instituição, com o Há também a retomada do projeto intuito de determinar quais obras seriam da nova sede para o instituto. Devido às priorizadas, considerando-se as maiores dificuldades financeiras do Estado, o instituto necessidades da autarquia. estuda uma união com incorporadoras e Em um segundo momento, o setor de construtoras. A diretoria ressalta que estas engenharia foi reestruturado: cooperações dependem de decisão do – Nós tivemos de reforçar o setor de Conselho Deliberativo do instituto e do aval engenharia, que possuía apenas um da Secretaria de Agricultura do Estado, mas engenheiro, para poder dar conta de todas que as parcerias não envolvem o repasse de essas demandas – afirma Rocha. recursos financeiros. O diretor também destaca o compromisso de colocar “a casa em ordem”, Projetos em elaboração para que a instituição tenha condições de cumprir com sua atividade-fim. Mesmo Projeto elétrico da rede de alta tensão de com restrição orçamentárias, o setor toda Divisão de Pesquisa; comandado pelo engenheiro civil Décio Projeto elétrico da UBS; Colatto recebeu aporte. Foram contratados Reforma do prédio da UBS; Vertedouro da Barragem do Capané em Cachoeira do Sul Laboratório de Pesquisa e Análise em Uruguaiana

O

Divisão de Cachoeirinha recebeu máquinas Em relação às obras já realizadas, Renato Rocha destaca a viabilização do acesso à internet por cabos de fibra ótica na sede do instituto. Anteriormente o serviço funcionava via rádio e com uma velocidade cinco vezes menor do que a atual, que é de 10MB por segundo. Os Núcleos de Assistência Técnica (Nates), localizados em diversas cidades do interior, também foram contemplados. A velocidade de dados passou de 300kbps para 2MB. Na Divisão de Pesquisa foi concluída a construção de passarelas e estacionamento, além de reformas na biblioteca, no depósito de defensivos e em três auditórios. Para 2016, o diretor relata que estão previstas a reforma de um alojamento, normalmente utilizado por técnicos dos Nates que realizam cursos em Cachoeirinha. No Interior, estão previstas reformas em prédios do Irga e a continuidade dos projetos de construção das Casas do Arrozeiro. FOTOS ASSESS ORIA

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IRGA

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EVENTOS

Coordenador da Fronteira Oeste do Irga faz visita técnica na China FOTOS ASSESSORIA IRGA

O coordenador regional da Fronteira Oeste do Instituto Rio Grandense do Arroz, engenheiro agrônomo Ivo Mello, esteve na China em agosto para uma visita técnica ao Instituto de Pesquisa de Arroz Híbrido (HRRI), na Província de Hunan. Ele foi recebido por Huang Zhicai, que o acompanhou durante os dois dias na cidade de Changsha, onde fica a sede do instituto. No primeiro dia da visita, Mello conheceu os laboratórios do instituto utilizados pelos pesquisadores para acompanhar os detalhes do programa de desenvolvimento de híbridos de arroz. Em seguida, percorreu um dos campos experimentais do HRRI no mesmo local dos laboratórios. Mello também fez uma apresentação institucional do Irga para a direção do HRRI e os pesquisadores mais próximos aos programas de cooperação. – Questionaram muito o porquê de termos ainda tão pouca superfície semeada com híbridos. Expliquei que, além do alto custo da semente, os híbridos disponíveis para o mercado do Rio Grande do Sul ainda não possuem uma qualidade de grãos que seja de agrado da indústria – relata Mello.

Irga na Feira Gastronômica do 27º Festival de Turismo de Gramado A equipe de gastronomia e eventos do Irga participou de 5 a 7 de novembro da Feira Gastronômica do 27º Festival do Turismo (Festuris) de Gramado. Durante o jantar, as sobremesas – as mais diversas variações do tradicional arroz com leite – foram servidas aos convidados, que elogiaram a iguaria. A novidade deste ano do Festuris foi o Salão de Destinos Turísticos e Salão de Gastronomia, um espaço criado para ser a vitrine da gastronomia do Rio Grande do Sul no evento. O local possui a Alameda e a Arena Gastronômica, onde os expositores promoveram a imagem do destino em conjunto com a gastronomia local. Neste espaço, o Clube Nacional do Arroz Amigo criou o Boteco do Arroz Amigo e convidou o Irga a integrar o projeto onde divulga a versatilidade do arroz nos mais variados pratos. A atividade integrou as ações do Programa de Incentivo ao Consumo do Arroz, em fase de planejamento e que tem lançamento previsto para o início de 2016. Da mesma forma, o Arroz Amigo é parceiro do Irga nas ações do programa. Além dos doces e salgados com farinha de arroz, a equipe do Irga e Arroz Amigo fez um risoto com mix variado de arroz.

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EXPOINTER 2015 ASSESSORIA IRGA

Sede do órgão no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, sediou jantares, almoços, entregas de prêmios e recebeu visitas

Casa do Irga

foi centro de atividades Dia do Arroz esteve entre os principais eventos promovidos pelo Instituto, por discutir o cenário da lavoura arrozeira

A

Casa do Irga no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, esteve movimentada durante a 38ª Expointer 2015, que ocorreu de 29 de agosto a 6 de setembro. Entre os eventos de maior destaque estão o Dia do Arroz, em parceria com o Canal Rural, na Casa da RBS, no dia 31 de agosto, durante todo o dia. Esse dia teve como principal atividade o Fórum Canal Rural, composto por debates que foram transmitidos ao vivo, direto da Casa da RBS. As atividades tiveram início às 9h15min com recepção do público e degustação da culinária experimental (doces e salgados à base de farinha de

arroz) elaborada pela equipe de Gastronomia e Eventos do Irga. Pela manhã, o programa foi conduzido pela jornalista Kellen Severo e contou com as participações do diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, e dos produtores rurais Alberto Giuliani Neto (São Gabriel), Fernando Rechsteiner (Pelotas) e Jair Buske (Agudo). O programa enfocou o tema “Caminhos para uma lavoura bem-sucedida” e contou ainda com a participação do analista do Canal Rural Miguel Daoud. O presidente do Irga, Guinter Frantz, e os diretores Tiago Sarmento Barata e Renato Rocha acompanharam

os debates. Fischer abriu os debates lembrando a história e os 75 anos do Irga. Sobre a crise econômica, Fischer falou sobre o trabalho do instituto no sentido de orientar e ajudar os produtores. Citou ainda números relevantes da última safra da lavoura de arroz: – Plantamos 1,124 milhão de hectares, com uma produção de 8,7 milhões de toneladas e produtividade média recorde de 7,77 mil quilos por hectare. São números bem significativos. O diretor do Irga lembrou ainda que o Estado é responsável por 67% de toda produção de arroz do Brasil.

– São 232 mil empregos diretos e indiretos no setor produtivo, 131 municípios arrozeiros e 18 mil produtores no RS – disse. Durante o programa, também foram chamados a se manifestar o secretário de Agricultura do RS, Ernani Polo, o presidente da Emater RS, Clair Kuhn, e o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles. O presidente da Comissão de Irrigantes da Farsul e do Clube da Irrigação, João Augusto Telles, apresentou resultados do Clube. Em seguida, o engenheiro agrônomo e gerente da Divisão de Pesquisa do Irga, Rodrigo Schoenfeld, falou sobre o projeto Soja 6000. À tarde, os debates giraram em torno do tema as “Perspectivas da soja no Sul do Brasil”, em que foram discutidos os cenários da soja em rotação com o arroz. Participaram o engenheiro agrônomo da Proatec Consultoria, de Alegrete, Rafael Ramos; o produtor rural e administrador de empresas Gustavo Lara, de Pelotas, e o produtor rural e médico veterinário Geraldo Azevedo, de Mostardas.

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EXPOINTER 2015

Além da programação própria, a Casa do Irga serviu como palco para eventos de várias entidades parceiras, como o jantar da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), na noite de 2 de setembro. Foi assinada a minuta do projeto Arroz na Bolsa, realizado em parceria entre Irga, Federarroz, BBM, Corretora Banrisul e Emater (leia mais sobre o Arroz na Bolsa às páginas 21 e 22). Na noite de 3 de setembro, foi a vez da Camil realizar seu coquetel e recepcionar seus clientes e amigos. Na sexta-feira, 4 de setembro, a Federarroz realizou entrevista coletiva para o lançamento da 26ª Abertura da Colheita do Arroz, que ocorre de 18 a 20 de fevereiro de 2016, no parque do Sindicato Rural de Alegrete.

Engenheiro recebe prêmio por projeto Na noite do dia 31 de agosto, o engenheiro agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e gerente da Divisão de Pesquisa de Cachoeirinha, Rodrigo Schoenfeld, recebeu o prêmio O Futuro da Terra 2015, concedido pelo Jornal do Comércio. Schoenfeld foi selecionado pelo comitê científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) com o projeto sobre desenvolvimento de tecnologias para mitigar o impacto da lavoura arrozeira no meio ambiente, na categoria Preservação Ambiental.

Concurso teve mais de 30 receitas com arroz Ainda durante toda a Expointer, o Irga realizou Concurso de Receitas com Arroz, ação do Programa de Incentivo ao Consumo de Arroz, que recebeu mais de 30 receitas, com cinco delas consideradas as mais originais. A comissão julgadora decidiu então pelo Sushi 100% Arroz como a mais saborosa e a mais original, de autoria da sushiwoman Jaqueline Viegas dos Passos, de 48 anos. Jaqueline levou para casa uma cesta repleta de alimentos de arroz, com produtos patrocinados pelas empresas Josapar, Arroz Pilecco Nobre, Volkmann Alimentos e Vitao.

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FOTOS ASSESSORIA IRGA

Assinatura da minuta do Programa Arroz na Bolsa


EVENTOS

Dia de Campo Estadual do Irga ocorre em 1º de março de 2016 Com o tema “Inovações e desafios no sistema produtivo do arroz irrigado integrado a culturas em rotação”, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realiza o seu Dia de Campo Estadual, no dia 1º de março de 2016, terçafeira, das 7h às 14h, na Estação Experimental de Arroz, situada na avenida Bonifácio Carvalho Bernardes, 1.494, bairro Carlos Wilkens, em Cachoeirinha. São esperados em torno de 1,5 mil participantes, na grande maioria produtores orizícolas de diversas regiões do Estado, pesquisadores, professores, extensionistas rurais, industriais, comerciantes, empresários do agronegócio de arroz, organizações de produtores, técnicos do setor público e privado, empresas de exportação, lideranças rurais, alunos e profissionais da área de pesquisa do arroz irrigado, além de diversas autoridades do Estado. Este é um dos eventos mais tradicionais e de maior importância para a área de pesquisa do Instituto. Apresenta as novidades desenvolvidas pela pesquisa, nas linhas de melhoramento genético, lançamento de novas cultivares além de práticas de manejo, adubação, sementes, doenças e irrigação. Nos últimos anos, a rotação de culturas também passa a ter destaque. O evento dispõe de área de estandes para empresas, oficinas técnicas na área ambiental, boas práticas agrícolas, pós-colheita e regulagem de máquinas. A abrangência é estadual, com público de todas as regiões orizícolas. O Dia de Campo da Estação Experimental do Arroz é uma ação conjunta das Divisões de Pesquisa, Departamento de Extensão Rural (Dater) do Irga e da Fundação Irga.

Decisão sobre a sede do novo evento foi anunciada ao final da nona edição, em Pelotas

Instituto será o anfitrião do 10º Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI)

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) será o anfitrião do 10º Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI), que ocorre em Porto Alegre, em agosto de 2017. A decisão foi anunciada no último dia da nona edição, que ocorreu de 11 a 14 de agosto de 2015, no Centro Histórico de Pelotas. Promovido pela Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai) o tema desta edição foi Ciência e Tecnologia para a Otimização da Orizicultura, com realização Fique ligado: o 10º a cargo da Empresa congresso será em Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apoio da Prefeitura de Pelotas e copromoção do Irga, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), e das Universidades Federais de Pelotas (UFPel), do Rio Grande do Sul

2017

(UFRGS) e de Santa Maria (UFSM). No final do evento, foi eleita e empossada a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Sociedade SulBrasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), que têm a atribuição de promover o próximo evento. O presidente é o gerente da Estação Experimental do Arroz do Irga em Cachoeirinha, Rodrigo Schoenfeld. O vice-presidente é o representante da Epagri, Klaus Scheuermann, que ficará responsável pela 11ª edição do evento, em 2019. Na diretoria executiva estão ainda outros representantes do Irga: Alencar Júnior Zanon como secretário; Filipe Selau Carlos, segundo secretário; Felipe Ferreira, tesoureiro, e Fernando Fumagalli Miranda, segundo tesoureiro. As conferências e painéis do 9º Congresso foram realizados no Theatro Guarany, com capacidade para 1,2 mil pessoas.

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CALENDÁRIO

AGENDA DE EVENTOS DO IRGA Janeiro/Fevereiro/Março 2016

PARA SABER OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE O CALENDÁRIO:  Site oficial do Irga - www.irga.rs.gov.br  Telefone: (51) –

3288-0400 FOTO ASSESSORIA IRGA

21/01

27/01

28/01

02/02

Jaguarão

Paraíso do Sul

Dia de Campo

Dia de Campo

18 a 20/02

Cachoeira do Sul

Santana do Livramento

Dia de Campo Regional DC

Roteiro técnico

03/02

04/02

17/02

Pantano Grande

Candelária

São João do Polêsine

Alegrete

Dia de Campo

Dia de Campo

Dia de Campo

Aberta Oficial da Colheita

25/02

25/02

1º/03

Palmares do Sul

Piratini

Cachoeirinha

08/03

Dia de Campo Regional PCE

Dia de Campo

Dia de Campo estadual

Dia de Campo Regional

15/03

16/03

17/03

21 a 23/03

Caçapava do Sul

Formigueiro

Restinga Seca

Rio Pardo

Dia de Campo

Dia de Campo

Dia de Campo

Expoagro/Afubra

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Bagé


ALMANAQUE

Há 50 anos na Revista Lavoura Arrozeira NOVEMBRO - Edição 224 REPRODUÇÕES

Um dos temas de destaque na edição da revista Lavoura Arrozeira de novembro de 1965 foi sobre experimentos de adubação de arroz. O trabalho de pesquisa, assinado pelos engenheiros agrônomos John Murdock, Bonifácio Bernardes, Moacyr Pavageau e Felix Marcos Caldeira, disserta sobre o efeito de diferentes tipos de fertilização em 10 localidades do Rio Grande do Sul. O estudo contou com a participação do Irga, a Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFRGS e a Universidade de Wisconsin. A publicação teve ainda uma reportagem intitulada “O Chile também realiza experiência com rotação de arroz”, que aborda trabalhos de semeadura na área de pastagens artificiais realizadas em Linares, no país. O periódico também abordou assuntos como “Dispense maior atenção aos pneus do seu trator”, “O desenvolvimento da América Latina e a Reforma Agrária”, “Preços do Arroz em Porto Alegre, Rio de Janeira e São Paulo” e “Uruguai Exporta Arroz”.

DEZEMBRO - Edição 225 OUTUBRO - Edição 223 Com 40 páginas, a Lavoura Arrozeira de outubro de 1965 trazia dois artigos técnicos muito bem fundamentados: “Ensaios sobre Adubação: Adubos em cobertura e adubos no solo” e “O carneiro hidráulico na prática”. Neste segundo caso, o autor destacava que esse aparelho eleva o líquido (quando houver abundância de água) de uma das maneiras mais econômicas que se conhece: com a energia cinética criada por um desnível. A revista publicou, também, a terceira parte do Estatuto da Terra, além do calendário orizícola para o mês e de um texto sobre rotação de pastagens com arroz, assinado pelo engenheiro agrônomo Paulo Annes Gonçalves. Não faltaram, claro, os indicadores de preços para materiais diversos.

A última edição da revista Lavoura Arrozeira em 1965, publicada em dezembro, teve o texto “Rio Grande tem condições para aumentar a exportação de arroz” como um dos principais conteúdos. O material era composto pela fala do então deputado estadual Júlio Brunelli, que exaltou a importância do grão para a economia e desenvolvimento do Estado durante pronunciamento no plenário da Assembleia Legislativa. O periódico editado pela Irga trazia ainda pautas que abordavam o calendário orizícola para janeiro do ano seguinte, os impostos sobre fertilizantes e adubos e o congresso estadual de orizicultura. Havia ainda materiais sobre noticiário internacional, medidas agrárias, reunião da FAO sobre assuntos de arroz, estimativa da área e produção para a safra 1964/65 e Lages na rota do cooperativismo.

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CONTROLE DE PRAGAS

Pomba-de-bando é ameaça à lavoura de arroz Na região da Campanha, onde perdas chegaram a até 60 sacas por hectare, produtores buscam manejo para reduzir dano na lavoura Zenaida auriculata é o nome científico da pomba-debando, que ataca a lavoura de arroz em fase de colheita

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FOTOS DIVULGAÇÃO / IRG A

Grupo de trabalho composto por técnicos do IRGA, produtores e acadêmicos do IFSul visitou a Região da Campanha para receber capacitação da UFRGS


M

ais conhecida como pombaDemetrio Guadagnin, da UFRGS, realizou de-bando, a Zenaida auriculata capacitações junto a técnicos do Irga, causa estragos nas plantações de produtores, alunos e professores do IFSul, arroz e de soja de produtores da região da aqueles que farão a avaliação de danos a Campanha. Após perdas de até 60 sacas partir das chamadas dos produtores. por hectare na colheita destas culturas, Em setembro e outubro, o programa foi produtores de Dom Pedrito, Bagé, Santana apresentado às comunidades produtoras por do Livramento Rosário do Sul e São Gabriel meio de palestras em eventos promovidos buscaram junto ao Irga uma forma de pelos Nates do Irga. Nesta oportunidade, conter o avanço da pomba e os prejuízos. foi distribuída aos produtores uma Vinda em fase migratória da Argentina e cartilha contendo o manejo preventivo e do Uruguai, a pomba-de-bando alimentaas principais leis que regulam a matéria, se das plantações em duas fases: no arroz sendo a principal a Lei Federal de Crimes em fase de colheita – quando o grão já está Ambientais (Art.29, Nº 9.605/98 e Art. maduro -–e também na soja em fase inicial 24, Decreto 6517/08): “é proibido matar, do cultivo, quando ainda é um cotilédone. perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes Conforme o diretor administrativo do da fauna silvestre, nativos ou em rota Irga, Renato Caiaffo da Rocha, o instituto migratória, sem a devida permissão, licença busca soluções para conter os ataques às ou autorização da autoridade competente, lavouras com base na legislação ou em desacordo com a obtida”. vigente. Um grupo de Contudo, quando há risco de trabalho foi formado em ação predatória ou destruidora parceria com a Empresa para as lavouras, o controle Custos do projeto de pesquisa para manejo Brasileira de Pesquisa da praga se faz necessário. da ave devem chegar a Agropecuária (Embrapa), É neste contexto que o Universidade Federal grupo de trabalho busca, do Rio Grande do Sul em um segundo momento, (UFRGS), Fundação formar uma base jurídica Zoobotânica do RS que obtenha autorização para (FZB), Instituto Federal o controle da ave junto à Sema Sul-rio-grandense (IFSul), e ao Ibama para minimizar além da Secretaria Estadual de os danos da pomba-de-bando. Este Meio Ambiente e Desenvolvimento controle poderia, então, ser realizado de Sustentável (Sema), Instituto Brasileiro do forma legal com fiscalização dos órgãos Meio Ambiente e dos Recursos Naturais ambientais. Rocha estima que os custos do Renováveis (Ibama), Empresa de Assistência projeto de pesquisa cheguem até R$ 500 mil. Técnica e Extensão Rural do RS (Emater) e O diretor reforça que existem medidas Ministério Público (MP). simples que podem diminuir os ataques às O grupo busca, em um primeiro plantações. A semeadura da soja sobre a momento, a comprovação dos danos nas palha ou a redução de tempo de exposição do plantações, além da realização de um censo arroz maduro são alguns dos cuidados que populacional da pomba-de-bando. Rocha o produtor pode ter ao cuidar das lavouras. também ressalta que, desde maio, o grupo Rocha aconselha o produtor a escalonar o de trabalho reúne-se e discute soluções plantio e a colheita das lavouras de arroz, pois ao problema. Em outubro, o professor as pombas atacam planta já em fase madura.

R$ 500 mil

SOS contra as pombas Ações para reduzir danos na fase inicial das culturas: Se possível, realizar a semeadura de soja sobre palha. Buscar a sincronia da época de semeadura de lavouras de uma mesma região. Estabelecer uma adequada população de plantas na lavoura, aumentando a densidade de semeadura em áreas próximas até 200 metros de banhados e matos. Manter as lavouras de arroz e soja e suas bordas livres de plantas daninhas. Ação para reduzir danos na fase de colheita: Redução do período de exposição do arroz maduro ao ataque. Retardar a retirada da água até próximo a colheita, quando constatada a presença de pombas. Ações de caráter geral para evitar o aumento populacional no ecossistema: Evitar perdas durante a colheita. Reduzir acúmulo de resíduos da pré-limpeza de arroz nas propriedades rurais. Reduzir perdas de arroz em rodovias por ocasião do transporte a indústrias. Manter nas propriedades, distantes das lavouras de arroz, áreas com alimentos alternativos.

Verba de R$ 500 mil já está garantida pelo Mapa

O

projeto de pesquisa para o manejo da pomba-de-bando já tem verba assegurada. No dia 9 de dezembro, a secretária executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Maria Emilia Mendonça Pedroza Jaber, garantiu R$ 500 mil durante audiência em Brasília, com as presenças do diretor administrativo do Irga, Renato Caiaffo da Rocha; do deputado federal Jerônimo Goergen, que agendou o encontro; e do assessor do Irga José Carlos Pires. O recurso virá via Embrapa Clima Temperado e deve

estar disponível já no início de 2016. – A secretária executiva se mostrou sensível ao problema, porque sabe que os agricultores gaúchos precisam de uma solução imediatamente – diz Rocha. O diretor do Irga e o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado de Pelotas, Clenio Pillon, participaram de audiência com o secretário do Produtor Rural e Cooperativismo do Mapa, Caio Rocha, que recebeu o Termo de Execução Descentralizada (Ted) do projeto de manejo e prometeu ajudar na liberação do recurso.

Audiência entre Irga e Mapa ocorreu em Brasília

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PELOS NATES

Fique por dentro do

que acontece nas regionais do Irga FOTO ALEX SOARES

Exportações de arroz no foco em Rio Grande

O

tema “Exportação do Arroz Gaúcho” movimentou Rio Grande na noite de 12 de novembro. O evento, organizado pelo Irga, ocorreu no restaurante panorâmico da Câmara do Comércio, paralelo à programação da 41ª Expofeira do município. O encontro contou com as presenças do presidente do Irga, Guinter Frantz; dos diretores Técnico, Maurício Fischer, e Comercial, Tiago Sarmento Barata; além do secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado, Ernani Polo, do superintendente do Porto de Rio Grande, Janir Branco e do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Henrique Dornelles, entre outras autoridades. Essa foi a terceira edição do evento, que contou com os palestrantes Rafael Alberton, economista do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do RS), que falou sobre “O Boom da Exportação Gaúcha e a Agrologística”; Tiago Barata, que enfocou “Mercados Externos para o Arroz Gaúcho”; e o superintendente do Porto de Rio Grande, Janir Branco, que abordou “O Papel do Porto de Rio Grande na Exportação de Arroz”. O Sindicato Rural de Rio Grande foi parceiro na organização do evento. Após a fala dos três palestrantes e do secretário Ernani Polo, foi servido o tradicional carreteiro com feijoada pela equipe do Irga Zona Sul, conforme o coordenador regional André Barros Matos.

Selênio recebeu placa em reconhecimento à sua importância para a lavoura arrozeira

P

or meio do 3º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate) de Camaquã, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) homenageou um dos pioneiros na cultura e em sua rotação com a soja, na região da Planície Costeira Interna (PCI). Trata-se do engenheiro agrônomo Selênio Simões de Oliveira, de 88 anos. Por estar com problemas de saúde, ele não pode comparecer à solenidade realizada durante o Dia do Arroz, na 49ª Expofeira de Camaquã (Expocamaquã 2015), e foi representado pelo amigo e presidente da Associação dos Usuários do Arroio Duro (AUD), Almiro Bridi. Das mãos do presidente do Irga, Guinter Frantz, e do diretor Técnico, Maurício Fischer, Bridi recebeu a placa comemorativa aos 75 anos do Instituto, completados em junho deste ano. Alguns dias depois, um grupo de produtores e profissionais rurais, liderado por Bridi, visitou o agrônomo para entregar a placa de reconhecimento do Irga. Servidor público aposentado, Dr. Selênio, como é conhecido, atuou por décadas no Irga e como chefe do 3º Nate, com sede em Camaquã. Foi responsável por uma série de

iniciativas inovadoras, as quais beneficiaram a produção de arroz regional. Integraram o grupo o prefeito João Carlos Machado, o secretário municipal da Agricultura, José Carlos Berta Dorneles, e a equipe de trabalho do Irga Camaquã 3º Nate, com produtores. Entre as ações que fizeram de Selênio um dos agrônomos mais respeitados do Instituto no Estado esteve a implantação, na década de 1970, do cultivo de soja em terras de várzea. Espalhado cada vez mais como prática comum entre os arrozeiros, que a consorciam com o arroz, o plantio da oleaginosa em Camaquã teve os seus primeiros passos técnicos embalados pelo trabalho de Selênio, morador local desde 1950. Formado na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem/UFPel), Selênio ingressou em 1961 no Irga, onde atuou pelo 13º Nate até 1964, ano em que foi transferido para Camaquã, onde permaneceu até se aposentar. Casado com Eny Feijó de Oliveira, tem três filhas. Além da aplicação inovadora da soja em terras baixas, Selênio Simões de Oliveira foi um dos criadores da Asteca, associação que reúne agrônomos e técnicos agrícolas que atuam em Camaquã.

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ASSESSORIA IRGA

Engenheiro agrônomo Selênio Simões de Oliveira é homenageado pelo Irga na Expocamaquã 2015

Visita ocorreu no dia 12 de novembro


Pelos Núcleos de Assistência – Zona Sul

Regional da Zona Sul realiza diversos treinamentos nas empresas

FOTOS ASSESSORIA IRGA

2º Nate - Pelotas 11º Nate - Arroio Grande 16º Nate - Santa Vitória do Palmar 25º Nate - Jaguarão 33º Nate - Rio Grande Jaguarão terá Dia de Campo Regional Foram iniciados os preparativos para o Dia de Campo Regional, que ocorre em Jaguarão, no dia 28 de janeiro de 2016, no Grupo Quero-Quero/Dr. Oscar Prado. O grupo QueroQuero de Jaguarão, na tentativa de dar estabilidade produtiva à soja na várzea, vem desenvolvendo uma máquina sulcadora em parceria com a Kohler Metalúrgica. O objetivo é drenar e irrigar através dos sulcos.

A equipe da Regional Zona Sul, preocupada com o aprimoramento técnico, qualifica-se cada vez mais para levar a melhor informação aos produtores da Zona Sul. Entre outras ações, realizou treinamento em agricultura de precisão em pulverização e distribuição de sólidos na empresa Stara. No início desta safra, a equipe elaborou treinamentos de mão de obra rural em arroz e soja, visando a levar as boas práticas dessas culturas e motivar os colaboradores, mostrando-lhes a sua importância dentro do sistema de produção. Foram realizados 62 treinamentos, com

Eventos técnicos marcam expofeiras municipais

capacitação de 1.252 pessoas entre colaboradores, técnicos e produtores, atingindo uma área cultivada de 99.561 hectares.

da Embrapa André Andres. Ocorreu também o Dia da Soja, com palestras do engenheiro agrônomo Fabiano Paganella da Plantec Consultoria e do professor Com o objetivo de integrar e Edson Massao Tanaka, da Fatec nivelar tecnicamente agrônomos Pompeia, de São Paulo. e técnicos agrícolas da equipe, Em Arroio Grande, no 5º a CRZS realiza visitas técnicas Fórum de Integração Lavouramensais em produtores de Pecuária, participou o secretário referências técnicas na região, da Agricultura, Ernani Polo. sempre na primeira semana de Foram palestrantes o economistacada mês e alternando entre os chefe da Farsul, Antônio da Luz, Nates. e o professor José Luiz Tejon, Durante a realização das um dos maiores consultores em expofeiras municipais, são agronegócio do Brasil. O ciclo realizados eventos técnicos. Em de Expofeiras se encerrou com Pelotas, ocorreu o Dia do Arroz, palestras em Santa Vitória do com palestras do consultor Palmar, no Dia do Arroz, e em Eduardo Muñoz e do pesquisador Rio Grande.

Palestra na Agronomia da UFPel A engenheira agrônoma do 16º Nate, Glaciele Valente, e o coordenador regional André Matos foram palestrantes da 45ª Semana Acadêmica do Curso de Agronomia da UFPel. Glaciele abordou o tema soja na várzea e André, o manejo para altos rendimentos do arroz irrigado, para mais de 200 estudantes de graduação. O evento foi realizado no auditório da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem).

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ARTIGO Tร CNICO

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1O. Apresentação artigo busca dar uma visão holista sobre

a farinha de arroz. Descreve o processo produtivo instigando empreendedores da cadeia produtiva ao ingresso no mercado, diversificando suas atividades. Um dos alvos é demonstrar que o processo é simples, não dependendo de insumos ou tecnologia do exterior. Um dos apelos da farinha é ter as mesmas características nutricionais e funcionais do arroz: a proteína mais nobre, o baixo Índice Glicêmico, a característica gluten free etc. Quando o investidor é o engenho, a utilização da quirera permite um ganho indireto. A título de exemplo, se o arroz está saindo do polimento com 15% de Quebrados e Quirera, um rebaixamento para 7,5% promove de Tipo 2 para Tipo 1. Assim, a geração de um “rejeito” permite uma valorização extra no core business da empresa. Quanto à negociação da farinha em gôndolas, poucas são as possibilidades, por hora, de sucesso. Um dos problemas é a necessidade de o produto ser colocado apartado do grupo das demais farinhas que contêm glúten (trigo, centeio, cevada e aveia). Ao final do artigo é levantada a principal oportunidade de consumo, como mistura com farinha de trigo.

2A. Processo de obtenção farinha de arroz é obtida pela moagem do

arroz, seguida da classificação granulométrica e embalagem. Uma operação opcional é o tratamento térmico para inativação enzimática. Esta operação tem por finalidade assegurar uma vida de produto mais ampla. Partindo do integral (“macrobiótico”), esta operação tornase obrigatória. QUIRERA Moagem Tratamento térmico

Classificação granulométrica FARINHA DE ARROZ

Embalagem

Os equipamentos e áreas da unidade fabril devem seguir o preceito da “qualidade alimentar”. Tendo em conta que a carga microbiológica de um alimento está diretamente relacionada à superfície específica, toda a produção de farinha exige cuidados adicionais. Assim, o controle geral de higiene deve fazer parte da concepção do projeto, não dispensando o controle de matérias-primas, produtos intermediários e produtos finais. Um cuidado especial no processo produtivo é com o isolamento total em relação às matérias-primas contendo glúten. Isso permite

apresentar a farinha como “isenta de glúten”, atendendo a um crescente mercado de celíacos e celíacos “tardios”.

3A. Insumo principal matéria-prima comumente utilizada é a

quirera, naturalmente gerada por ocasião do polimento do arroz branco comum. Quando parte do parboilizado, o processo hidrotérmico garante a esterilização do produto final, zerando a carga microbiológica e inativando enzimas. Uma atenção especial deve ser dada caso a matéria-prima seja o arroz orgânico: à rastreabilidade, com o intuito de evitar fraudes.

DOLLARPHOTOCLUB

POLÍTICA SETORIAL – IRGA

Economia em números

54,6% do trigo consumido no Brasil em 2014 foi importado

4. Misturas com farinhas panificáveis

Uma característica sensorial pouco percebida pelo consumidor é que a farinha de arroz pode participar da misturada com até 20 a 30%. Esta, usada em frituras, permite a rotulagem como produto “light”, devido a diminuições na gordura absorvida e, consequentemente, no valor calórico. No caso de um sonho, se a mistura for frita com óleo de arroz, melhor ainda! Pode-se prever cerca de 20% a menos de gordura. O parboilizado só teria vantagem para obter uma farinha extra, naturalmente rica em constituintes como a vitamina B9, o ácido fólico. Mas a parboilização gera praticamente só grãos inteiros, com maior valor no mercado que os grãos partidos. As preparações caseiras podem ser feitas com um simples liquidificador, preferencialmente utilizando o acessório de moer café.

5A. Análise Econômica proposta de introdução de um percentual de farinha de arroz na farinha de trigo traz, além das vantagens nutricionais, ganhos financeiros. No ano de 2014, 54,6% do trigo consumido no Brasil foi importado. As importações de trigo em grão em 2014 totalizaram US$ 1.812.312.000,00 e as de farinha atingiram US$ 130.659.000,00. No período de 2009 a 2014 foram importadas 37,1 milhões de toneladas de trigo em grão (média de 6,2 milhões de toneladas/ ano e US$ 1,758 bilhões); 3,15 milhões toneladas de farinha (média 524,6 mil t/ano e U$ 206,4 milhões). Segundo a CONAB, a safra 2015 de trigo deverá ser superior à 2014 em 4,34%, gerando uma necessidade de importação de 4,9 milhões de toneladas. No Brasil, em 2014, foram consumidos 8,7 milhões de toneladas de farinha de trigo. Se colocássemos 10% de farinha de arroz na farinha de trigo, 873.100 toneladas de trigo deixariam de ser consumidas. A economia mensurada pela qualidade – e não só pelas cifras – também é uma economia saudável.

Lavoura Arrozeira Nº 465 | Outubro/Novembro/Dezembro 2015

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US$ 1,8 bilhão totalizaram as importações de trigo em grão em 2014

US$ 130

milhões foi o valor da importação de farinha

37,1

milhões de toneladas de trigo em grão foram importadas de 2009 a 2014

8,7

milhões

de toneladas de farinha de trigo foram consumidas no Brasil em 2014


ARTIGO TÉCNICO

6. A produção de farinha de arroz faz bem à economia tanto quanto para a saúde alimentar?

Não mais que 10 indústrias, em um universo de 201 beneficiadores, produzem farinha de arroz. Por que tão poucas? Quais são os obstáculos que impedem a farinha de arroz de galgar mercados e incorporar-se, em definitivo, aos hábitos dos consumidores? Rejeição, desconhecimento, baixa oferta ou outros? Pode-se falar em rejeição de um determinado produto antes mesmo de sua oferta? Neste caso, a situação é categórica: há muito mais desconhecimento do que qualquer outro fator. É provável, mesmo, que haja mais demanda latente do que oferta consumada. E por que o panorama se encontra nesta situação? Simples: tributos. Para elucidar o entrave tributário tem-se em uma nota fiscal de R$ 1.620,00 o valor de R$ 425,19 de tributos. São R$ 26,67 de PIS (1,6%), R$ 123,12 de COFINS (7,6%) e R$ 275,40 de ICMS (17%).

Por que onerar um produto cuja função pode vir a se tornar tão nobre, auxiliando na dieta dos celíacos e, igualmente, possa ser fundamental na redução dos índices de obesidade, que não param de crescer no país?

do deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP) que reduz a zero as alíquotas da contribuição para PIS/PASEP e da COFINS.

Será que o incentivo ao consumo da farinha de arroz – com redução de tributos e divulgação dos benefícios – não redundaria em um ganho de saúde, qualidade de vida e equilíbrio muito superior à simples arrecadação de tributos que hoje pouco ou nada representam aos cofres públicos? Quanto o país gasta anualmente com a obesidade, seja mórbida ou não? Quantos fazem, anualmente, a operação bariátrica e, quantos amargam a fila de espera na esperança de terem parte de seus problemas resolvidos com a perda de peso? Tramita no Congresso Nacional, desde 2005, o Projeto de Lei Nº 6.023, de autoria

Mas por que tanta demora em transformar um projeto em lei, ainda mais em se tratando de algo que diz respeito à saúde pública? Não deveria um projeto desses ser aprovado, assim de vereda, sem solavancos e percalços? Por que a dificuldade na percepção de que ceder um pouco hoje pode representar um ganho maior amanhã? O incremento na produção e divulgação dos benefícios da farinha de arroz está palpitando. Urge aprofundar as discussões, ouvir e pleitear as reivindicações do setor, antes que o trem parta e nós, obesos, na estação da letargia, percamos o vagão da oportunidade.

Em uma nota fiscal de R$1.620 de Farinha de Arroz TRIBUTOS

ALIQUOTA

VALOR

PIS

1,64%

26,67

COFINS

7,60%

123,12

ICMS

17,00%

275,40

TOTAL (26,24%)

425,19

FOTO RAFAEL NEDDERMEYER / FOTOS PÚBLICAS

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Um alimento cheio de sabor e saĂşde.


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