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Aquecimento das águas do Pacífico ocasiona chuvas irregulares no RS

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Previsão de chuvas mais frequentes a partir da segunda metade de abril
Previsão de chuvas mais frequentes a partir da segunda metade de abril - Foto: Ricardo Tatsch/Irga
Por JOSSANA CERA

Condições meteorológicas ocorridas durante o mês de março

Climatologicamente, as chuvas ocorrem em menor volume em março nas regiões como a Zona Sul e Planícies Costeira Interna e Externa (Imagem 1A). Somado a isso, em março de 2019, a chuva ficou abaixo da média na Zona Sul e em parte da Planície Costeira Interna, prejudicando lavouras de soja que estavam em fase final de enchimento de grãos.

A precipitação ficou abaixo dos 50 mm acumulados na Zona Sul e Campanha, em Dom Pedrito choveu apenas 15,2 mm. Ou seja, nestas duas regiões choveu 40 a 60 % abaixo do volume esperado para o mês (Imagem 1C). Por outro lado, em Tupanciretã choveu 322,6 mm (Imagem 1B), sendo que mais de 200 mm ocorreram em apenas dois dias.

Imagem 1
Imagem 1 - Foto: Reprodução

Imagem 1: Mapa da Normal Climatológica (A), precipitação acumulada (B) e anomalia de precipitação (C) durante o mês de março de 2019. As escalas de cores indicam o acumulado de precipitação em mm (A,B) e anomalia de precipitação (C), também em mm, onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET.

Os mapas quinzenais (Imagem 2) mostram que o maior volume de precipitação ocorreu durante a 1ª quinzena de março, superando os 150 mm em parte do Noroeste, Norte e Nordeste do Rio Grande do Sul (Imagem 2B). Durante a segunda quinzena, as chuvas foram mais modestas e o maior volume ocorreu na região de Tupanciretã.

Imagem 2
Imagem 2 - Foto: Reprodução

Imagem 2: Mapascom a precipitação acumulada (em mm) na 1ª (A) e na 2ª quinzena (B) de março de 2019. Fonte de dados: INMET.

Com relação às temperaturas, as máximas ficaram praticamente dentro no normal e as mínimas ficaram abaixo do normal no Noroeste, Centro e Oeste e dentro do normal nas demais regiões. No entanto, em março foram observadas algumas incursões de massas de ar frio mais intensas, que por vezes declinaram as temperaturas.

Para se ter uma ideia desse declínio das temperaturas, municípios como Bagé, Uruguaiana e Santana do Livramento, tiveram 17, 18 e 20 dias com temperaturas mínimas abaixo dos 15 °C. Não é nada fora do normal, mas é um número expressivo, após se ter passado por um verão de temperaturas bastante altas.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

O aquecimento no Oceano Pacífico Equatorial persiste (Imagem 3) e, de acordo com os centros internacionais de estudos do clima, deve continuar até meados do segundo semestre de 2019.

Como o mês de março terminou com anomalias positivas das águas do Pacífico Equatorial, atingiu-se, assim, os cincos trimestres consecutivos com anomalias acima de +0,5 °C, que é um dos requisitos para a determinação do fenômeno. A caracterização é de um El Niño de fraca intensidade! No entanto ainda há discussões sobre qual é o “tipo” deste El Niño, se o Clássico ou o Modoki!?

Só para relembrar, o El Niño Clássico é aquele no qual as águas do Oceano Pacífico se aquecem desde a costa da América do Sul, e se estendendo até o Pacífico oeste, gerando chuvas durante a primavera e verão no Rio Grande do Sul. Já o El Niño Modoki é aquele em que o aquecimento fica mais centralizado, com águas mais frias ou dentro do normal, próximo à costa da América do Sul e no Pacífico oeste. No caso do El Niño deste ano, o aquecimento parece oscilar entre um tipo e outro... e, além do mais, a intensidade é fraca, isto é, são dois fatores que favorecem a grande variação espacial nas chuvas que se tem observado no Sul do Brasil e que tem gerado alguns percalços aos produtores rurais, principalmente os da metade Sul do estado.

As águas da região do Niño1+2, que fica bem próximo da costa do Peru e Equador, é a que tem oscilado e é essa região que confere maior qualidade nas chuvas, ou seja, quando essa região possui águas mais frias, as chuvas tendem a se concentrar mais no Sudeste do Brasil. Já, quando as águas na região Niño1+2 estão mais aquecidas, as frentes frias passam pelo Rio Grande do Sul gerando chuvas com melhor distribuição espacial e em maior volume. E a tendência para os próximos meses é de que essa gangorra continue. No entanto, outro fator que poderá favorecer as chuvas no Sul são as águas mais aquecidas no Oceano Atlântico Sul, como pode-se observar no círculo na Imagem 3.

Os centros internacionais projetam que o aquecimento deverá permanecer até o final de 2019, no entanto fazem uma ressalva, de que as projeções geradas nesta época do ano (outono) tendem a ser menos precisas. Com isso, sugere-se a você produtor, que se possível, esperar as previsões do início do inverno para projetar a próxima safra.

Imagem 3
Imagem 3 - Foto: Reprodução

Imagem 3: Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de março de 2019. Fonte: Adaptado de CPTEC. O retângulo na Imagem mostra a região do Niño3.4, região que os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña).

Previsão para a precipitaçãopara o trimestre Março-Abril-Maio

As previsões do IRI (InternationalResearchInstitute for ClimateandSociety,da Universidade de Columbia-EUA) mostram que existe 85% de probabilidade de o El Niño permanecer durante o trimestre Abr-Mai-Jun e que as chuvas devem ficar acima da média. Já os modelos climáticos dos centros brasileiros de meteorologia (INMET e CPTEC) também mostram que as chuvas deverão ficar um pouco acima da média no trimestre Abr-Mai-Jun, especialmente na região Noroeste do Rio Grande do Sul.                                  

Abril: O modelo estatístico do CPPMet mostra que as chuvas deverão ficar acima da média na metade Norte do estado, com valores de até +85 mm, em relação ao volume normal para o mês. Nas demais regiões, os volumes de chuva deverão ficar dentro do normal. Salienta-se que as chuvas estão com tendência de ficarem mais frequentes nesta segunda metade do mês.

Maio: A expectativa é de chuvas um pouco acima da média na faixa mais a Leste do estado. Nas demais regiões, as chuvas devem ficar dentro normal, não se descartando alguma outra microrregião com chuvas acima ou abaixo da média, devido às chuvas localizadas, ou a falta delas.

Junho: O modelo indica chuvas levemente acima do normal no Norte do estado e as demais regiões com chuvas dentro do normal.

Como mencionado anteriormente, mesmo com El Niño fraco, a temperatura das águas do Pacífico e Atlântico permanecerão mais aquecidas, e isso levará maior quantidade de umidade para a atmosfera, o que pode favorecer as chuvas e/ou proporcionar maior concentração de umidade no ar. Esses fatores podem atrapalhar a reta final da colheita!

Com relação às temperaturas, como se tem a expectativa de chuvas acima do normal, a tendência é de que o outono e início do inverno não sejam tão rigorosos. Terão dias frios, até com risco para formação de geada, no entanto, a tendência não é de sequências longas de tempo seco e frio.

Imagem 4
Imagem 4 - Foto: Reprodução

Imagem 4: Normal Climatológica (A,C,E), anomalia de precipitação INMET/UFPel (B,D,G) para os meses deAbril, Maio e Junho de 2019, respectivamente, para o Rio Grande do Sul. Fonte: Adaptado de CPPMet-UFPel/INMET.

Jossana Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga

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