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Janeiro de muita chuva, sobretudo no Oeste e Campanha

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Chuva
A previsão é de que a atmosfera ainda responda como El Niño até meados de outubro, com chuvas frequentes - Foto: Divulgação/Pixabay
Por Jossana Cera

Condições ocorridas no mês de Dezembro

Conforme indicava a previsão, dezembro terminou com chuvas acima da média no Oeste e em parte da Campanha. No Norte do Rio Grande do Sul houve deficiência de chuva, o que poderá trazer algum prejuízo na produtividade de soja e milho, já que a região deveria receber, em média, de 150 a 175 mm e o que ocorreu foi metade deste volume (Figura 1 A,B). Além do Norte gaúcho, toda a Planície Costeira Externa e parte da Interna, também receberam menos chuva do que o esperado, fazendo com que muitos produtores façam uso da irrigação nas lavouras de soja da região. A precipitação nessas regiões ficou entre 15 e 60 mm abaixo do normal (Figura 1C).

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Imagem 1 - Foto: Reprodução

Imagem 1: Mapa da Normal Climatológica (A), precipitação acumulada (B) e anomalia de precipitação (C) durante o mês de Dezembro de 2018. As escalas de cores indicam o acumulado de precipitação em mm (A,B) e anomalia de precipitação (C), também em mm, onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET.

Além disso, dezembro se mostrou de duas formas: uma seca e outra chuvosa, como mostram os mapas abaixo (Figura 2 A,B), onde a primeira quinzena foi mais seca que a segunda quinzena. Isso na maior parte do estado, já que nas Planícies Costeira Interna e Externa em parte da Zona Sul choveu pouco durante o mês inteiro (exceto no extremo sul do estado).

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Imagem 2 - Foto: Reprodução

Imagem 2: Mapascom a precipitação acumulada na primeira (A) e na segunda quinzena (B) de dezembro de 2018. Fonte de dados: INMET.

Mas o que chamou a atenção em dezembro, sobretudo nos primeiros dias do mês, foram as temperaturas mínimas, que ficaram bem abaixo do normal. Naquele início de mês, as temperaturas chegaram a ficar 4 graus abaixo do normal, principalmente na Campanha. Muitos munícipios registram de oito a nove dias consecutivos com temperatura mínima abaixo de 15 a 17°C, principalmente no Oeste, Campanha e Sul do estado. Este fator poderá trazer alguma redução no potencial produtivo daquelas lavouras de arroz semeadas em setembro e que se encontravam reprodutivo. Logo após, houve elevação nas temperaturas, com as máximas chegando próximos dos 40°C entre o Natal e Ano-Novo.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

O aquecimento no Oceano Pacífico Equatorial continua já a dois trimestres consecutivos. E a expectativa é de que esse aquecimento continue, mesmo que em algumas partes do Oceano esteja ainda oscilando entre normal e acima do normal. Com isso, pode-se dizer que estamos sob condição Neutra, com alta probabilidade para a configuração definitiva do El Niño.

A oscilação do aquecimento do Oceano Pacífico próximo à Costa do Peru (Niño 1+2) continua desuniforme, que é o que vem causando irregularidade das chuvas no Rio Grande do Sul. Ou seja, períodos secos intercalados com períodos muito chuvosos. Além disso, outro fator a ser levado em consideração é que o aquecimento é muito tardio e, dessa forma, todos os “sinais” clássicos do El Niño não são observados, onde um deles seria a maior uniformidade das chuvas.

As águas subsuperficiais, ou seja, abaixo do nível da superfície do Pacífico também têm se mantido aquecidas, o que fará com que o aquecimento em superfície se mantenha por mais algum tempo.

O retângulo na Imagem 3 mostra a região do Niño3.4, região que os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña).A área marcada pelo círculo, no Oceano Atlântico Sul, mostra que a região está com temperaturasdentro do normal e isto pode explicar em parte o porquê de o Leste do estado ter recebido menos chuvas em dezembro e no início de janeiro. Lembrando que nos últimos meses essa região vinha se mantendo mais aquecida, e issoconfere uma condição de maior temperatura e umidade do ar, o que favoreceas chuvas, principalmente na metade Leste do Rio Grande do Sul.

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Imagem 3 - Foto: Reprodução

Imagem 3: Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de Dezembro de 2018. Fonte: Adaptado de CPTEC.

Espera-se que o aquecimento continue, de forma lenta, durante os meses de janeiro e fevereiro. Após este período, as climatologias nos dizem que o Pacífico deveria voltar à Neutralidade, mas isso será preciso acompanhar e ver se irá acontecer realmente.

Lembrete: Durante o verão, o produtor deve ter mais atenção, já que com as temperaturas são mais elevadas, a evapotranspiração aumenta e, com isso, as plantas demandam por mais água. Outro ponto a ser levado em consideração são as formas das chuvas, que tendem a ser mais isoladas e passageiras (chuvas de verão), o que pode ocasionar alguma estiagem localizada e não duradoura. Isso é o que chamamos de variabilidade da precipitação. Mesmo com toda essa variação nas chuvas, não se pode descartar o risco de chuvas intensas, com ocorrência de enchentes e alagamentos, em momentos pontuais.

Previsão para a precipitação nos próximos três meses

A previsão de probabilidades do IRI (InternationalResearchInstitute for ClimateandSociety, da Universidade de Columbia-EUA) mostra que as chuvas devem ficar acima da média, principalmente no Noroeste, Oeste, Campanha e parte do Sul e Centro do estado durante o trimestre DJF. Os modelos climáticos dos centros brasileiros de meteorologia (INMET e CPTEC) também mostram que as chuvas deverão ficar acima da média neste trimestre.

O modelo do INMET/UFPel prevê chuvas acima da média apenas no Sul do estado durante o mês de janeiro (Imagem 4B) e dentro do normal no restante das regiões. Porém, como já sabemos, as regiões Oeste e Campanha ficarão com chuvas muito acima da média, devido às chuvas destes primeiros 10 dias do ano. Para fevereiro, o modelo prevê chuvas acima do normal para parte da Campanha, Sul, Leste e Nordeste do Rio Grande do Sul, com limiares variando de 25 a até 85 mm acima da normal climatológica (Imagem 4 C,D). Já para março, segundo o modelo, deverá voltar a chover além da média no Noroeste, Oeste, Campanha e Sul do Rio Grande do Sul (Imagem 4F). Salienta-se que janeiro e fevereiro podem registrar chuvas abaixo do normal em alguns locais do estado, devido à grande variabilidade das chuvas e alta demanda evaporativa desses meses.

As temperaturas devem ficar, no geral, entre o normal e acima do normal. Isso acontece principalmente devido às chuvas e dias mais nublados que estão sendo previstos pelos modelos.

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Imagem 4 - Foto: Reprodução

Imagem 4: Normal Climatológica (A, C,E), anomalia de precipitação INMET/UFPel (B, D, G) para os meses deJaneiro, Fevereiro e Marçode 2019, respectivamente, para o Rio Grande do Sul. Fonte: Adaptado de CPPMet-UFPel/INMET.

Resumo para os próximos meses:

  • Janeiro: Os primeiros 10 dias do mês estão registrando chuvas bem acima da média no Oeste e Campanha. Por exemplo, Uruguaiana já registrou 380 mm e isso é pouco mais de três vezes o valor médio para o mês. Sendo que regiões mais ao Leste do estado estão irrigando as lavouras de soja, devido à falta e irregularidade das chuvas. De modo geral, janeiro terá mais dias nublados do que com sol, principalmente na metade Oeste do estado. Isso preocupa os produtores de arroz, já que muitas lavouras estão entrando em período crítico (estádio reprodutivo) e a demanda por luz solar aumenta neste período.
  • Fevereiro: Deverá registrar chuvas dentro do normal ou um pouco acima do normal no estado. Porém, não se podem descartar períodos sem chuvas em alguns locais do estado.
  • Março/Abril: Tudo dependerá de como os oceanos Pacífico e Atlântico se comportarão daqui para frente. E é preciso ficar atento à chegada do Outono, estação de transição entre a estação quente e fria do ano. Neste período há intensificação das frentes frias e, com isso, poderemos ter problemas com chuvas no período da colheita. E, se o aquecimento no Pacífico persistir, ele poderá intensificar essas frentes frias. Alguns modelos de longo prazo mostram que o trimestre março-abril-maio poderá ser chuvoso no Rio Grande do Sul.

Jossana Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga

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