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Janeiro deve ter melhora no volume de chuvas no RS

Publicação:

1  Precip nov 2021
Figura 1
Por JOSSANA CEOLIN CERA

Condições meteorológicas ocorridas em novembro de 2021 no RS

Novembro foi mais um mês com deficiência hídrica no RS. Os volumes acumulados ficaram abaixo dos 75 milímetros na maioria das regiões (Figura 1A). O pior cenário foi o da Zona Sul, com volume acumulado abaixo dos 45mm. A anomalia da precipitação de novembro ficou negativa em quase todo o RS. A exceção foi a faixa Leste do Estado (Figura 1B).

Esse cenário desfavoreceu o pleno processo da semeadura da soja na Metade Sul do RS em virtude da falta de umidade adequada no solo. Já para o arroz, com o déficit de chuvas, a radiação solar ficou acima da Normal para o mês de novembro, fato que é positivo para as lavouras que já entraram no período reprodutivo.

Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante novembro de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET

Houve razoável frequência nas precipitações na Metade Sul, porém, os volumes foram muito aquém do ideal. Com relação às temperaturas, observou-se que as máximas e as mínimas oscilaram entre valores acima e abaixo da Normal Climatológica (Figura 2). Boa parte das regiões do RS teve anomalia positiva nas temperaturas máxima e mínima.

2  prec e temp diariasnov 2021
Figura 2

Figura 2. Temperaturas máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (NC, linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a novembro de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam cinco das seis regiões arrozeiras do RS. Observação: devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna não foi representada na figura. Fonte de dados: INMET

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

Em sua última atualização, no dia 9 de dezembro, a NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center) divulgou que a La Niña tem 95% de chance de continuar durante o verão (dez-jan-fev) e de 60% de ir até o outono de 2022.

O sistema acoplado oceano-atmosfera, consistente com a La Niña, continua persistindo. Outro fator que pode estar favorecendo a La Niña é o fenômeno de escala interdecadal, chamado Oscilação Interdecadal do Pacífico (ODP). Ele também possui duas fases e, no momento, está em sua fase negativa. Com o ENOS e a ODP em fases negativas, as forças se somam e os efeitos da La Niña podem ser potencializados e/ou favorecidos.

A Temperatura da Superfície do Mar na região Niño 3.4 esteve em -0,8°C no trimestre set-out-nov e em -0,9°C em novembro, na região Niño 3.4. Na Figura 3 observa-se que a região do Niño 3.4, em novembro, esteve com anomalias predominantemente negativas, reforçando que a La Niña está ativa, e na sua forma Clássica. A região Niño 1+2 também esteve com anomalias negativas (anomalia de -1,0°C em novembro), desfavorecendo as chuvas no RS. Estas duas regiões, com águas com anomalias negativas de temperatura, desfavorecem a passagem de frentes frias mais potentes e continentais. Com isso, o volume das precipitações diminuiu.

As águas no Oceano Atlântico Sul apresentaram, em novembro, temperatura entre valores normais e acima do normal. Possivelmente, devido à maior força do Pacífico no momento, este fator não favoreceu as chuvas no RS. Mas, é importante acompanhar sua evolução durante o período do verão.

3  TSM nov2021
Figura 3

Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em novembro de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE

As anomalias negativas da temperatura das águas subsuperficiais na região do Oceano Pacífico Equatorial se mantiveram ativas em novembro (Figura 4). Essa bolha de águas frias subsuperficiais continuará aflorando em superfície, dando sustentação à La Niña nos próximos meses.

4  Temp  Subsuperficialevolucao 2021 nov
Figura 4

Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m), entre setembro e dezembro de 2021. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA

Resumindo, o sistema acoplado é condizente com o da La Niña e, assim, deverá permanecer nos próximos meses. Com isso, as precipitações deverão continuar em baixos volumes ainda durante dezembro de 2021. Espera-se que o pico da La Niña ocorra entre dezembro e meados de janeiro e, depois, inicie o processo de desintensificação.

Relembrando que o efeito do ENOS (El Niño-Oscilação Sul) ocorre durante a primavera. Durante o verão, outros fatores interferem nas chuvas e, no caso do RS, a temperatura da água do Oceano Atlântico Sul influencia bastante.

Previsão de precipitação no trimestre janeiro, fevereiro e março de 2022 no RS

O IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê até 40-45% de chance das precipitações ficarem abaixo da média no trimestre jan-fev-mar no Rio Grande do Sul. Por sua vez, o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) prevê precipitação abaixo da Normal Climatológica (NC) em janeiro, fevereiro e março de 2022.

Já o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê chuvas entre Normal e Acima da Normal em janeiro, com valores acumulados que podem ficar acima dos 160mm na Fronteira Oeste, Campanha e Região Central. Vale lembrar que, nos cinco últimos anos, ou seja, de 2017 até 2021, todos os meses de janeiro tiveram precipitações acima da média, se não em todo o RS, ao menos em boa parte do território. Isso dá maior confiabilidade nesta previsão que está sendo colocada. Maior quantidade de chuva em janeiro é muito desejável, devido à alta demanda das lavouras de soja ou de milho em rotação durante o período reprodutivo. Para fevereiro, o modelo volta a prever que as chuvas fiquem abaixo da Normal, com acumulados totais entre 100 e 130mm, na maior parte das regiões. Para março, o modelo prevê precipitação entre a Normal e Abaixo da Normal, com valores acumulados entre 100 e 130mm, na maioria das regiões (Figura 5).

No dia 21 de dezembro, às 12h59min, iniciou o verão no Hemisfério Sul. Além de já se estar em um período de deficiência hídrica no RS, o verão tem, climatologicamente, o menor índice pluviométrico do ano no Estado. Com isso, a demanda evaporativa aumenta muito, devido às altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar. Os meses de dezembro e janeiro são os mais críticos, pois a evapotranspiração é maior que a precipitação, ou seja, se chover dentro dos valores das Normais Climatológicas, o solo e as plantas estarão sempre em déficit hídrico. Com isso, culturas de sequeiro necessitariam de suprimento hídrico, ou que chovesse acima da média nestes meses.

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Figura 5

Figura 5. Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para janeiro, fevereiro e março de 2022 no RS. Fonte: adaptado de INMET

Algumas regiões do Estado enfrentam problemas com a falta de chuvas em volumes mais elevados. Lavouras de sequeiro, como a soja e o milho, que dependem da água da chuva, já apresentam problemas com deficiência. No caso do arroz, algumas regiões apresentam dificuldades com a irrigação das lavouras, devido aos reservatórios estarem baixando de nível rapidamente. As lavouras de arroz estão em pleno processo de irrigação e manutenção da lâmina d’água, com isso a demanda por água dos reservatórios é alta.

Alerta-se para se fazer o uso consciente da água, evitando perdas no sistema de irrigação e fazer seu reuso, quando for possível. É sempre importante atualizar-se quanto à previsão do tempo, para melhor se programar nas atividades diárias.

Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

 

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