La Niña, em sua terceira safra consecutiva, já provoca redução nas precipitações no RS
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Condições meteorológicas ocorridas em setembro de 2022 no Rio Grande do Sul (RS)
Se o mês de agosto já havia sido de pouca chuva no RS, o setembro foi ainda pior. Os acumulados variaram de 50 a 100 mm na maioria das regiões e, em algumas, de 25 a 50 mm (Figura 1 A). Com isso, a anomalia de precipitação foi negativa em todo o RS. A Metade Norte teve anomalias mais expressivas, de -100 a -199,9 mm, e a Metade Sul ficou com anomalias de -50 a -100 mm (Figura 1 B). Como forma de exemplificar, em Uruguaiana choveu apenas 29% da Normal Climatológica (NC), em Bagé 51%, em Santa Maria 43%, em Porto Alegre 48% e em Santa Vitória do Palmar 41%, conforme dados coletados nas estações meteorológicas do INMET dos respectivos locais.
Figura 1. Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, durante o mês de setembro de 2022 no RS em relação à Normal Climatológica (NC), relativa ao período 1991-2020. As escalas de cores mostram, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e valores negativos (laranja-vermelho) precipitação abaixo da NC. Fonte de dados: CPTEC/INMET.
Em alguns locais, a frequência da precipitação até foi maior, porém, com volumes muito baixos (Figura 2). A temperatura do ar teve grandes oscilações, entre dias mais quentes e mais frios, ocorrência típica na primavera. Na média mensal, tanto as mínimas quanto as máximas, ficaram abaixo da NC na Metade Oeste do RS. Nas demais regiões, as temperaturas ficaram dentro da NC (Figura 2).

Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de setembro de 2022, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño - Oscilação Sul) e perspectivas
O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial continua ativo e se intensificando. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 ficou em -0,9 °C em setembro, valor que está no limite da intensidade fraca para moderada e, na região Niño 1+2, esteve em -1,1 °C(Figura 3). O que chama a atenção é que as anomalias estão bem mais intensas que na safra passada e, até por isso, os efeitos da La Niña estão sendo bem característicos e intensos desde o início da primavera. O sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com a manutenção da La Niña em setembro.
O relatório publicado pelo NOAA, em 13 de outubro de 2022, prevê com 86% de probabilidade, a manutenção da La Niña no trimestre Nov-Dez/2022 e Jan de 2023. Já a probabilidade do período Neutro iniciar é de 54% para o trimestre Fev-Mar-Abr/2023, ou seja, para mais adiante em relação à previsão anterior.
Este está sendo o terceiro evento consecutivo de La Niña e esta é apenas a terceira vez que isto ocorre na história, nos últimos 72 anos. Ou seja, não é rotineiro. Os impactos disso estão sendo observados na redução do volume de precipitações desde agosto e, também, nas temperaturas, que têm ficado abaixo da média na maior parte do tempo. Aliás, agora para o início de novembro, os modelos vêm indicando uma incursão de ar muito frio para o RS, quando as temperaturas mínimas podem ficar abaixo dos 5 °C em alguns municípios do estado do RS.

Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar no mês de setembro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico observaram-se alterações na temperatura de julho para agosto, onde um bolsão de águas com anomalias negativas voltou a se intensificar. E, de agosto até o presente momento, este bolsão de águas continua ativo, dando sustentação ao resfriamento em superfície (Figura 4).
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de julho a outubro de 2022. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Previsão de precipitação no trimestre novembro/dezembro/2022 e janeiro/2023 no RS
Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê, com 50% de probabilidade, que as precipitações irão ficar abaixo da NC no RS. Da mesma forma, as previsões do modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA) também indicam precipitações abaixo da NC para o RS. Por sua vez, o modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê precipitações abaixo da NC para novembro e dezembro, enquanto para o mês de janeiro, o modelo prevê que as precipitações irão ficar dentro da NC, na maior parte das regiões, e acima da NC, nas áreas mais ao Leste do RS (Figura 5).
Figura 5. Precipitação total (mm) e anomalia de precipitação (mm) prevista para novembro/dezembro/2022 e janeiro/2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET.
A NC da precipitação do mês de novembro indica que chove pouco no RS. Além disso, tem-se o aumento das temperaturas, há maior ocorrência de ventos, a umidade relativa do ar é mais baixa e, nesta safra, o agravante da continuidade da La Niña. Por isso, nesse mês o produtor deve ter bastante atenção na implantação das culturas de primavera-verão, pois a emergência das plantas e, consequentemente, o estabelecimento inicial da lavoura, poderá ser prejudicada. Conforme alertado no último boletim, a irregularidade nas precipitações já iniciou em outubro e tende a se agravar em novembro.
Com relação à temperatura do ar, a previsão do modelo do INMET é que deverá ficar dentro da NC no trimestre. No entanto, como já mencionado, há a previsão de incursão de ar muito frio no início de novembro, sendo que a continuidade de ocorrência da La Niña tem grande influência nisso. Assim, ao longo desta primavera, não se pode descartar que ar frio entre no Estado, deixando as temperaturas mais baixas que a NC por curtos períodos de tempo.
As lavouras de arroz já estão sendo semeadas na Metade Sul do RS. Cerca de 57% da área já está semeada (dados do dia 19/10), sendo a Zona Sul, a Fronteira Oeste e a Campanha, as regionais mais adiantadas em termos de época de semeadura.
Para a soja, que é a principal cultura de sequeiro cultivada em rotação com arroz irrigado, a época ideal de semeadura é no mês de novembro. Para garantir a emergência adequada das plantas, é importante que se tenha umidade suficiente no solo. Em lavouras sem irrigação, atenção deve ser dada para que se realize a semeadura em solos com umidade adequada.
Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação, também se faz necessário o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando uma maior eficiência na execução das atividades programadas.