La Niña terminou, finalmente
Condições meteorológicas ocorridas em fevereiro de 2023 no Rio Grande do Sul (RS)
Publicação:
Fevereiro de 2023 registrou volumes de precipitação um pouco mais altos, comparado a janeiro. Os acumulados chegaram a ficar entre 100 e 150 mm em áreas da Região Central, da Zona Sul e da Planície Costeira Externa (Figura 1 A). Nestas regiões, a precipitação superou os volumes da Normal Climatológica (NC). Já as demais regiões do Estado continuaram a registrar anomalias negativas de precipitação (Figura 2 B).
Figura 1. Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, durante o mês de fevereiro de 2023 no estado do Rio Grande do Sul em relação à Normal Climatológica (NC), relativa ao período 1991-2020. As escalas de cores mostram, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e, valores negativos (laranja-vermelho), precipitação abaixo da NC. Fonte de dados: CPTEC/INMET.
A frequência das precipitações, mais uma vez, foi baixa e com baixos volumes acumulados na maior parte do mês (Figura 2). Embora tenha havido a entrada de uma massa de ar polar no RS, que derrubou as temperaturas no período do Carnaval (17 a 20 de março), a temperatura média mensal do ar ficou acima daNC, na maior parte do RS (Figura 2).
Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de fevereiro de 2023, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras. Fonte de dados: INMET.
A radiação solar em fevereiro ficou acima dos valores da NC em toda a Metade Sul do RS. A exceção foi no Nordeste do Estado, onde ficou dentro da NC. Para a cultura do arroz irrigado e para as culturas de sequeiro utilizadas em rotação, desde que irrigadas, alta radiação solar no período de formação e enchimento de grãos é desejável para obtenção de maioresprodutividades de grãos.
Já a evaporação da água do solo e dos reservatórios foi maior que o volume de precipitação, no mês de fevereiro. Na Fronteira Oeste e na Campanha, a evaporação ficou entre 180 e 210 mm, enquanto a precipitação foi menor que 90 mm.
A temperatura da água da superfície do Oceano Pacífico Equatorial diminuiu de intensidade, sendo que a anomalia datemperatura da superfície do mar na região Niño3.4 ficou em-0,4 °C em fevereiro, já dentro do limiar de Neutralidade climática (Figura 3). Já a região Niño1+2 ficou com anomalia positiva (+0,7 °C). A temperatura da água na região Niño1+2 tem grande correlação com a quantidade de chuvas no RS. Quando as anomalias de temperatura são positivas, a tendência é de que haja aumento nas chuvas por aqui. Além disso, as águas do Oceano Atlântico também estão com anomalias positivas da temperatura há algum tempo. Estes dois fatores acopladospoderão favorecer a ocorrência de chuvas no RS nos próximos meses.
De modo geral, em fevereiro de 2023 o sistema acoplado oceano-atmosfera foi consistente com a fase Neutra do ENOS. Orelatório publicado pela NOAA (National Oceanic andAtmospheric Administration), em 09 de março de 2023, prevê a manutenção da fase Neutra, com 83% de probabilidade, no trimestre Abr-Mai-Jun. Já a probabilidade para um futuro El Niño está em 56% para o trimestre Jul-Ago-Set.
Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar no mês de fevereiro de 2023. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico já não se observa mais o bolsão de águas com anomalias negativas de temperatura, que davam sustentação à La Niña. Na última imagem, na região mais próxima à América do Sul, aparecem pequenas bolhas com anomalias positivas, que já estão aflorando em superfície nas áreas próximas à Costa da América do Sul(Figura 4).
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de dezembro/2022 a março/2023.Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Para este trimestre, as previsões do IRI (InternationalResearch Institute for Climate Society) e do modelo CFSv2(Climate Forecast System, da NOAA) indicam precipitações dentro da NC nos meses de abril, maio e junho em todo o RS.Por sua vez, o modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê para o mês de abril, que as precipitações fiquem abaixo da NC, na maior parte do RS. Para maio, a previsão é de que o acumulado mensal seja próximo aos valores da NC. Já para o mês de junho, o modelo prevê que algumas regiões do RS poderão ficar com chuvas acima da NC, ou seja, o modelo pode estar indicando sinais da influência do aquecimento das águas do Pacífico (futuro El Niño) (Figura 5).
Com relação às temperaturas, agora no outono, as massas de ar frio, aos poucos, começarão a chegar ao RS. Para abril e maio, o INMET prevê que a temperatura média fique dentro da NC. Já para junho, devido à possibilidade de maior frequência de precipitações, o modelo prevê que a temperatura fique acima da NC no RS.
Figura 5. Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para abril, maio e junho de 2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET.
Resumindo, a La Niña que atuava desde 2020, finalmente, chegou ao fim! Porém, isto não significa que a estiagem que assola o RS, acabou. Até a atmosfera entender que a La Niña terminou, demora um tempo. Com isso, o RS passará por momentos com maior frequência de precipitações e outros mais secos. Isto pode durar ainda por abril e maio de 2023.
Agora em março, iniciou o período de Neutralidade climática, que deve durar até meados do inverno, já que os modelos indicam a possibilidade da configuração de um El Niño para o final do inverno e o início da primavera. Vale salientar, também, que atualmente se está no período da “barreira da previsibilidade do outono”, ou seja, os modelos têm certa dificuldade, neste período, de fazer previsões mais precisas para o longo prazo. Por isso, é importante monitorar os prognósticos climáticos até junho, para se ter maior certeza de qual cenário climático atuará na safra 2023/24.
Neste período de outono, que inicia no dia 20 de março, é necessário aproveitar os períodos de tempo seco, para fazer o manejo na entressafra, visando a próxima safra. Mas, antes disso, é necessário concluir as colheitas do arroz e da soja.
Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação, principalmente a soja, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.