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Novembro termina com chuvas abaixo da média no RS

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Figura 1
Figura 1
Por JOSSANA CEOLIN CERA

Condições meteorológicas ocorridas em outubro de 2021 no RS

As chuvas volumosas e frequentes de setembro avançaram somente até o início de outubro. Tanto que a Metade Sul do RS teve volume acumulado abaixo dos 100 milímetros (Figura 1 A). Os valores extremos ocorreram no Norte-Noroeste, excedendo 250 mm. Com isso, a anomalia da precipitação de outubro ficou negativa em toda a Metade Sul e apenas a Metade Norte teve precipitações acima da média (Figura 1 B).

As chuvas menos frequentes de outubro favoreceram a semeadura do arroz no Estado.

Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante outubro de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET

A frequência das precipitações até foi boa, na maioria das regiões da Metade Sul do RS. O mesmo não se pode dizer dos volumes acumulados dessas precipitações. Com relação às temperaturas, observou-se que houve gradual elevação, nas máximas e nas mínimas, a partir da segunda quinzena do mês de outubro (Figura 2).

Figura 2
Figura 2

Figura 2. Temperaturas máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC, linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a outubro de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam cinco das seis regiões arrozeiras do RS. Observação: devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna não foi representada na figura. Fonte de dados: INMET 

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

Em sua última atualização, em 11 de novembro, a NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center) divulgou que a La Niña tem 90% de chance de continuar até o verão (dez-jan-fev) e de até 50% de ir até o outono de 2022. Ou seja, a NOAA estendeu ainda mais a duração desta La Niña.

Em outubro, a La Niña se fortaleceu e as águas subterrâneas se mantiveram estáveis. Com isso, o sistema acoplado oceano-atmosfera permanece. Outro fator que pode estar favorecendo a La Niña é um outro fenômeno, de escala interdecadal, chamado Oscilação Interdecadal do Pacífico (ODP). Ele também possui duas fases e, no momento, está em sua fase negativa. Com o ENOS e a ODP em fase negativa, as forças se somam e os feitos da La Niña podem ser potencializados e/ou favorecidos.

A Temperatura da Superfície do Mar na região Niño 3.4 esteve em -0,7°C no trimestre ago-set-out e em -0,8°C em outubro, na região Niño 3.4. Na Figura 3 observa-se que a região do Niño 3.4, em outubro, esteve com anomalias predominantemente negativas, reforçando que a La Niña está ativa. A região Niño 1+2 também esteve com anomalias negativas, desfavorecendo as chuvas no RS. Estas duas regiões, com águas de anomalias negativas, desfavorecem a passagem de frentes frias mais potentes e continentais. Com isso, o volume das precipitações diminui.

As águas no Oceano Atlântico Sul apresentaram, em outubro, temperatura praticamente dentro da média, o que não foi suficiente para mudar o panorama das precipitações. 

Figura 3
Figura 3

Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em outubro de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE 

As anomalias negativas da temperatura das águas subsuperficiais na região do Oceano Pacífico Equatorial se mantiveram estáveis entre as pêntadas de outubro e novembro (Figura 4). Essa bolha de águas frias subsuperficiais continuará aflorando em superfície, dando sustentação à La Niña nos próximos meses.

Figura 4
Figura 4

 Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m), entre os meses de agosto e novembro de 2021. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA

Resumindo, o sistema acoplado é condizente com o da La Niña e, assim, deverá permanecer nos próximos meses. Com isso, as precipitações deverão continuar em baixos volumes e mais espaçadas, principalmente, nos meses de novembro e dezembro.

Relembrando que o efeito do ENOS (El Niño-Oscilação Sul) ocorre durante a primavera. Durante o verão, outros fatores interferem nas chuvas e, no caso do RS, a temperatura da água do Oceano Atlântico Sul influencia bastante.

Previsão de precipitação no trimestre dezembro de 2021 e janeiro e fevereiro de 2022 no RS

O IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê até 45% de chance das precipitações ficarem abaixo da média no trimestre dez-jan-fev, na Metade Sul do RS. O modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) prevê precipitação abaixo da Normal Climatológica (NC) em dezembro de 2021 e em janeiro e fevereiro de 2022, sendo que, em janeiro, a anomalia é mais branda.

Já o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê chuvas ainda abaixo da Normal em dezembro, com precipitação total prevista abaixo dos 100mm em boa parte da Metade Sul e acima de 100mm na Metade Norte. Para janeiro, o modelo do INMET também segue na linha de que as precipitações irão ficar dentro da Normal, com locais até superando a NC. Vale lembrar que nos cinco últimos anos, ou seja, de 2017 até 2021, todos os meses de janeiro tiveram precipitações acima da média, se não em todo o RS, ao menos em boa parte do território. Isso dá maior confiabilidade nesta previsão que está sendo colocada. O modelo prevê acumulados totais de até 160mm, na Metade Sul do Estado. Para fevereiro, o modelo volta a prever que as chuvas fiquem abaixo da média, com acumulados totais entre 100 e 160 mm (Figura 5).

Figura 5
Figura 5

Figura 5. Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para dezembro de 2021e para janeiro e fevereiro de 2022 no RS. Fonte: adaptado de INMET

Com a falta de regularidade e maiores volumes de precipitações, os níveis dos reservatórios e rios voltam a preocupar o produtor. A maioria das lavouras de arroz inicia o processo da irrigação e manutenção da lâmina d’água entre os meses de novembro e dezembro, com isso a demanda por água dos reservatórios aumenta bastante.

Recomendações: aqueles que ainda não terminaram a semeadura do arroz devem focar nesta atividade, visto que já passou o período recomendado para alcançar altas produtividades. Realizar também a semeadura da soja quando houver umidade suficiente no solo para garantir os processos de germinação e emergência de sementes, visto que em dezembro o volume de precipitações deverá se manter baixo.

Alerta-se para se fazer o uso consciente da água, evitando perdas no sistema de irrigação e fazer reuso, quando for possível. É sempre importante atualizar-se quanto à previsão do tempo, para melhor se programar nas atividades diárias.

Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

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