Outono deve ter volume de chuvas entre normal e abaixo da normal climatológica no RS
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Condições meteorológicas ocorridas em fevereiro de 2022 no RS
O mês de fevereiro de 2022 teve chuvas irregulares no Rio Grande do Sul. Os maiores acumulados ocorreram no extremo norte do Estado, com 160-200 milímetros, e em áreas da fronteira com o Uruguai, com valores acumulados entre 100 e 140mm (Figura 1 A). No entanto, mesmo com volume mais alto de precipitação, fevereiro se manteve com anomalias negativas, em praticamente todo o RS (Figura 1 B). Vale salientar que, de acordo com a Normal Climatológica (NC) de 1981-2010, o mês de fevereiro tem índice pluviométrico mais elevado que março, por exemplo.
Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante fevereiro de 2022 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET
Fevereiro foi mais um mês crítico no que diz respeito à estiagem, pois as precipitações ocorreram de forma concentrada, em curtos espaços de tempo (Figura 2). Além disso, muitas áreas da Metade Sul do RS receberam pouca chuva. Com relação às temperaturas, o intenso calor de janeiro não se repetiu em fevereiro, com exceção da região da Fronteira Oeste, representada por Uruguaiana no gráfico, onde os dias com temperatura máxima acima de 35°C foram bem frequentes. As temperaturas mínimas também chamaram atenção, com duas entradas de massa de ar frio, que baixaram as temperaturas para 12-15°C, na primeira quinzena do mês nas regiões da Metade Oeste do RS.
Figura 2. Temperaturas máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC), linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a fevereiro de 2022, em seis municípios da Metade Sul do RS, que representam as seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas
Em relatório publicado no dia 10 de março de 2022, a NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center) divulgou que a La Niña tem 80% de chance de continuar durante o trimestre abr-mai-jun de 2022 e que entraria em Neutralidade durante o outono/inverno. No geral, os indicadores oceânicos e atmosféricos de fevereiro continuaram favoráveis à La Niña. Embora ela esteja em fase de declínio, ainda continuará a influenciar o clima global e o do RS, principalmente no que diz respeito à precipitação e à temperatura.
A Temperatura da Superfície do Mar na região Niño 3.4 manteve-se em -1,0°C no trimestre dez-jan-fev de 2022 e em -0,7°C em fevereiro. Na Figura 3 observa-se que a região do Niño 3.4, em fevereiro, manteve-se com anomalias predominantemente negativas, mas com as anomalias na região Niño 1+2 voltando a intensificar. Chama atenção, agora, que a temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul resfriou-se em relação à do mês de janeiro e, nas últimas semanas, anomalias negativas começaram a aparecer. Em virtude disso, novas reduções nas precipitações podem surgir no futuro próximo.
Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em fevereiro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE
Observa-se que as anomalias negativas da temperatura das águas subsuperficiais na região do Oceano Pacífico Equatorial estão em forte processo de enfraquecimento, como mostra o gráfico dos dias 12/02 e 04/03/2022 (Figura 4). As anomalias positivas da temperatura subsuperficial começaram a aflorar mais em superfície nos últimos dias, mas é difícil dizer qual o impacto disso nas precipitações no RS. Seria necessário que a região do Niño 1+2 ficasse com anomalias positivas por um ou dois meses, para que houvesse alguma mudança.
Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m), entre os meses de dezembro de 2021 e março de 2022. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA
Previsão de precipitação no trimestre março, abril e maio de 2022 no RS
O IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê em 45% de chance das precipitações ficarem abaixo da média no trimestre abr-mai-jun de 2022 no RS. Por sua vez, o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) prevê precipitação abaixo da média em todo o RS em abril e maio e na Metade Norte do RS em junho. Este modelo prevê que as precipitações fiquem acima da NC em junho, nas áreas de fronteira com o Uruguai. Já o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que as precipitações fiquem abaixo da média em abril, dentro da NC em maio, na Metade Sul do RS, e entre normal e abaixo da normal em junho (Figura 5). Durante o mês de abril, os volumes acumulados ficariam entre 160 e 200 mm no noroeste do RS e entre 80 e 100mm na Zona Sul. Em maio, o modelo indica volumes entre 130 e 160mm na maioria das regiões gaúchas e entre 100 e 130mm na faixa leste.
Com relação às temperaturas, a previsão mostra que devam ficar entre a NC e acima da NC no trimestre março, abril e maio de 2022. No entanto, devido à La Niña, massas de ar frio, de origem polar, podem chegar mais cedo ao Estado, principalmente de abril em diante. O outono começou neste domingo, dia 20/03, às 12h33min. A estação é marcada pela transição, entre o verão e o inverno. Com isso, é normal haver oscilações mais bruscas entre os períodos quentes e frios. Aumentam, também, os riscos para ocorrência de temporais mais severos, devido aos choques das massas de ar frio e quente.
Figura 5. Precipitação total prevista (mm) e anomalia de precipitação prevista para abril, maio e junho de 2022 no RS. Fonte: adaptado de INMET
No RS, a colheita do arroz já está em pleno andamento (33,6% da área colhida até o dia 18/03) e, aos poucos, os resultados da safra 2021/2022 vão aparecendo. Alguns fatores de prejuízo em decorrência da deficiência na irrigação e da ocorrência de altas temperaturas nas lavouras de arroz já estão sendo notados pelos produtores e técnicos do Irga. Nas culturas em rotação com arroz, principalmente a soja, quando não irrigadas, a estiagem verificada no mês de fevereiro de 2022 atingiu as plantas no período reprodutivo, que é o mais crítico. Nestas lavouras, a redução da produtividade de grãos deve ser mais acentuada.
Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.