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Outono deve ter chuvas acima da média

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Chuvas deverão ficar um pouco acima do normal no trimestre Mar-Abr-Mai
Chuvas deverão ficar um pouco acima do normal no trimestre Mar-Abr-Mai - Foto: Arquivo/Irga
Por JOSSANA CERA

Condições meteorológicas ocorridas durante o mês de fevereiro 

Ao contrário do que aconteceu em janeiro, o mês de fevereiro registrou chuvas abaixo da média na maioria das regiões, sobretudo na metade sul do Rio Grande do Sul (Figura 1). A precipitação ficou entre 60 e 120 milímetros (mm) abaixo da média, sendo a fronteira com o Uruguai (Figura 1B) a região com o menor volume precipitado (Figura 1C). No entanto, a distribuição das chuvas ao longo do mês foi boa, ou seja, choveu menos, mas de forma regular.

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Imagem 1 - Foto: Reprodução

Imagem 1: Mapa da Normal Climatológica (A), precipitação acumulada (B) e anomalia de precipitação (C) durante o mês de fevereiro de 2019. As escalas de cores indicam o acumulado de precipitação em mm (A,B) e anomalia de precipitação (C), também em mm, onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET.

As temperaturas, tanto as máximas quanto as mínimas, ficaram dentro do padrão normal para fevereiro. No entanto, tivemos três incursões de massas de ar frio mais intensas, que fizeram com que as temperaturas mínimas diminuíssem, ficando abaixo dos 15-17 °C.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

O aquecimento no Oceano Pacífico Equatorial ainda persiste. Até o momento são quatro trimestres consecutivos com temperaturas acima dos 0,5 °C na região do Niño3.4, região situada no centro do Pacífico, como indicado na Figura 2. No entanto, as águas da região do Niño1+2, que fica bem próximo da costa do Peru e Equador, tem oscilado bastante. Existem momentos em que ela está com temperaturas acima do normal e momentos com temperaturas dentro, ou até mesmo abaixo do normal. As mudanças no comportamento das águas nesta região específica acabam modulando a qualidade das chuvas no Rio Grande do Sul. Por isso que tem se observado que em alguns períodos está chovendo mais que em outros. E essa ‘polarização’ das chuvas irá continuar.

O Oceano Atlântico Sul também está com anomalias positivas de temperatura, o que atribui maior umidade sobre a região sul do Brasil, favorecendo as chuvas, principalmente na metade Leste do estado.

Como mencionado no último boletim, a NOAA (NationalOceanicandAtmosphericAdministration) confirmou a presença do El Niño no último dia 14 de fevereiro. Contudo, ele se estabeleceu ‘fora de época’, ou seja, o normal para o seu estabelecimento seria entre maio e junho, para que os efeitos pudessem ser ‘sentidos’ de forma mais contundente durante a primavera. Além do mais, até o momento, a expectativa é de que este El Niño tenha intensidade fraca e que seja de curta duração.

As projeções mostram que o El Niño deverá se dissipar entre o outono e o inverno de 2019, porém as águas do Pacífico deverão continuar com um viés positivo. Ou seja, a atmosfera voltará à Neutralidade, mas as águas ficarão um pouco aquecidas, mas não o suficiente para sustentar o El Niño. Com isso, se espera que o Outono e Inverno sejam um pouco mais úmidos que o normal.

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Imagem 2 - Foto: Reprodução

Imagem 2: Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de fevereiro de 2019. O retângulo na Imagem mostra a região do Niño3.4, região que os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Fonte: Adaptado de CPTEC.

Previsão para a precipitação para o trimestre Março-Abril-Maio 

A previsão de probabilidades do IRI (InternationalResearchInstitute for ClimateandSociety,da Universidade de Columbia-EUA) mostra que existe 80% de chance para o fraco El Niño permanecer durante o trimestre Mar-Abr-Mai e que as chuvas devem ficar dentro da média. Já os modelos climáticos dos centros brasileiros de meteorologia (INMET e CPTEC) mostram que as chuvas deverão ficar um pouco acima da média no trimestre Mar-Abr-Mai.

Março: O modelo de previsão de previsão do INMET/UFPel, que é mais específico para o Rio Grande do Sul, mostra que as chuvas devem ficar acima da média, entre +25 e +50 mm, no Sul, Campanha, Oeste e Noroeste (Figura 3B). Ressalta-se que até o momento (dia 14/03) as chuvas já estão acima da média em toda a metade norte do Rio Grande do Sul. Ou seja, provavelmente boa parte do estado terminará com volumes de precipitação acima do normal.

Abril: O modelo mostra que as chuvas deverão ficar acima da média na metade Norte do estado, com valores de até +85 mm, em relação ao volume normal para o mês.

Maio: O modelo mostra certa tendência para que as chuvas fiquem acima do normal na faixa Leste do estado.

Como mencionado anteriormente, mesmo que o El Niño seja fraco, a temperatura das águas do Pacífico e Atlântico estão mais aquecidas, e isso proporcionará mais umidade para a atmosfera, o que pode favorecer as chuvas e/ou proporcionar maior concentração de umidade no ar. Esses fatores podem atrapalhar a colheita!

Com relação às temperaturas, como se tem a expectativa de chuvas acima do normal, a tendência é de que o outono e início do inverno não sejam tão rigorosos. Terão dias frios, até com risco para formação de geada. No entanto, a tendência não é de sequências longas de tempo seco e frio.

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Imagem 3 - Foto: Reprodução

Imagem 3: Normal Climatológica (A,C,E), anomalia de precipitação INMET/UFPel (B,D,G) para os meses deMarço, Abril e Maiode 2019, respectivamente, para o Rio Grande do Sul. Fonte: Adaptado de CPPMet-UFPel/INMET.

Como a colheita está em andamento em todo o estado, essa expectativa de chuvas um pouco acima da média gera certa preocupação por parte dos produtores. Por isso ressalta-se que a colheita seja feita assim que possível, para minimizar o risco de perdas.

O acompanhamento da previsão de clima e, principalmente, da previsão do tempo, para melhor planejar as atividades de campo são ferramentas imprescindíveis neste momento.

Jossana Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga

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