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Primavera traz expectativa de redução nas chuvas sobre o RS

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O padrão de chuvas deverá mudar no decorrer da primavera, pois as frentes frias passarão mais depressa pelo Estado. - Foto: Pixabay
Por JOSSANA CEOLIN CERA

Condições meteorológicas ocorridas em agosto de 2020

Praticamente não choveu durante o mês de agosto no Rio Grande do Sul (RS). Em regiões como a Fronteira Oeste e parte da Campanha, os acumulados mal chegaram aos 50mm. Nas demais regiões da Metade Sul do Estado, os acumulados variaram entre 50 e 100mm (Figura 1A). Dessa forma, com baixos volumes acumulados, a Normal Climatológica não foi atingida e toda a região arrozeira do RS ficou com anomalia negativa de precipitação (Figura 1 B).

Precip ago 2020
Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante o mês de agosto de 2020

Figura 1) Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante o mês de agosto de 2020 em relação à média climatológica no RS. As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: CPTEC/INMET.

A temperatura mínima do ar ficou dentro do normal. Já a temperatura máxima ficou acima da Normal Climatológica durante o mês de agosto. Sendo que, as anomalias ficaram entre +3,0 e +4,0 °C na Fronteira Oeste, em parte da Campanha e na região Nordeste do Estado, incluindo a região metropolitana de Porto Alegre. As temperaturas variaram bastante durante o mês de agosto, indo de temperaturas negativas a temperaturas superiores de 30 °C, como se pode observar na Figura 2.

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Temperatura máxima e mínima diária (°C) e precipitação pluvial diária (mm) durante agosto de 2020

Figura 2) Temperatura máxima e mínima diária (°C) e precipitação pluvial diária (mm) durante agosto de 2020, em alguns municípios da metade Sul do RS. Fonte de dados: INMET.

Análise dos três meses mais frios do ano (inverno)

Assim como no mês de agosto, em junho e julho também ocorreram veranicos na Metade Sul do RS. Com isso, a anomalia trimestral da temperatura média do ar ficou positiva, com números entre +1,0 e +1,5 °C em regiões como a Fronteira Oeste, Campanha e Planície Costeira Interna (Figura 3 B). Já as anomalias de precipitação ficaram negativas em toda a região arrozeira do RS (Figura 3 A).

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Anomalia da precipitação pluvial e anomalia da temperatura média do ar durante junho, julho e agosto de 2020

Figura 3) Anomalia da precipitação pluvial durante junho, julho e agosto de 2020 (A) e anomalia da temperatura média do ar, também durante junho, julho e agosto de 2020 (B). Fonte: INMET.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

No início de setembro, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) afirmou que: “As condições de La Niña estão presentes e, provavelmente, continuarão durante o verão do Hemisfério Sul, com chance de 75%”. E por que eles afirmaram isso? Porque está havendo resfriamento no Oceano Pacífico desde o mês de junho e, durante agosto. O padrão de ventos também começou a mudar, ou seja, houve o acoplamento entre as componentes oceânicas e atmosféricas.

No entanto, vale salientar que, apenas no mês de agosto é que houve anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) dentro do limiar de La Niña, que foi de -0,6 °C na região Niño3.4. A região que vem mostrando anomalias da TSM mais intensas, é a região Niño1+2, que chegou a ser de -1,2 °C durante julho e que pode estar relacionada à falta de chuvas durante agosto no RS (Figura 4).

A resposta do resfriamento ou do aquecimento das águas na região Niño 1+2 é mais rápida que a resposta da região Niño3.4, nas chuvas do Estado. Salienta-se, também, que a resposta ao resfriamento na região mais central do Pacifico (Niño3.4) demora em torno de três meses e, se considerar que o resfriamento mais pronunciado iniciou em agosto, a “resposta”, com a redução nas chuvas, deverá ocorrer pelo mês de novembro.

Mas, como o resfriamento ainda é considerado fraco, outros fatores poderão interferir nas chuvas do RS, como a Oscilação de Madden-Julian, Oscilação Antártica e, também, o próprio Atlântico que, por hora, está com temperaturas entre normal a acima do normal. Como o produtor gaúcho já sabe, a temperatura do Oceano Atlântico Sul pode atenuar ou intensificar os impactos do La Niña e isso dependerá de como ela irá oscilar daqui para frente.

TSM ago 2020
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de agosto de 2020

Figura 4) Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de agosto de 2020. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

As águas subsuperficiais no Oceano Pacífico Equatorial têm se mantido mais frias que o normal, principalmente entre o Centro e o Leste do Pacífico. A Oeste, as anomalias positivas se intensificaram pouco no último mês (Figura 5). Este padrão deverá manter o resfriamento em superfície por mais algum tempo.

Temp  Subsuperficial setembro 2020
Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade

Figura 5) Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300 m). Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

O IRI (International Research Institute for Climate and Society), da Universidade de Columbia (EUA), previu, em relatório divulgado no dia 10 de setembro, que a La Niña ocorra entre os trimestres SON, OND, NDJ e DJF, com 75 a 80% de probabilidade.

A primavera inicia nesta terça-feira, dia 22 de setembro, às 10h30min, com expectativa de gradual redução nas chuvas sobre o RS, pois as frentes frias passarão mais depressa pelo Estado, sendo desviadas para o oceano. Nas previsões diárias do tempo, para a segunda quinzena de setembro, se tem observado que as chuvas irão avançar para as regiões Centro Oeste e Sudeste do Brasil. Sendo este, um indicativo de que o padrão de chuvas deverá mudar no decorrer da estação.

Porém, como a atmosfera ainda está mudando da fase Neutra para a possível fase La Niña, oscilações nos padrões de precipitação irão ocorrer. Por isso, o produtor deve ficar atento à previsão do tempo, de até 15 dias, para melhor manejar suas áreas e semeaduras do arroz, que se inicia em setembro, e da soja, em meados de outubro. Lembrando que, em outubro, sempre há risco de ocorrer enchente, principalmente na região Central.

Precipitação para o trimestre outubro, novembro e dezembro de 2020

Fazendo um breve panorama de setembro até aqui, como era previsto, as chuvas retornaram ao RS e boa parte do Estado já apresenta anomalias positivas de precipitação. Como mencionado anteriormente, independente de a La Niña se consolidar ou não, é normal haver redução nas chuvas (volume e frequência) a partir de novembro, principalmente.

O que chama atenção neste ano é que alguns modelos numéricos têm sinalizado a redução das chuvas já em outubro. O modelo CFSv2 (v2) prevê chuvas abaixo da média climatológica para os meses de outubro, novembro e dezembro. Já o Modelo Regional Climatológico implementado no Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) prevê, para outubro, precipitações entre 20 e 40% abaixo da média.

Em novembro, as anomalias deverão ser ainda maiores, com a precipitação devendo ficar 80% abaixo da média. Já para dezembro, o modelo da UFPel prevê precipitações dentro do normal. O boletim deles pode ser acessado através do link: https://wp.ufpel.edu.br/cppmet/files/2020/09/Bol_Primavera.pdf

Em outubro, no entanto, é comum a formação dos CCMs (Complexos Convectivos de Mesoescala), tempestades que se formam no Norte da Argentina e avançam para o Noroeste do RS. Com isso, dependendo da intensidade e frequência desses eventos, algumas regiões do Estado poderão registrar precipitação acima da média.

Dessa forma, a Figura 6 mostra a Normal Climatológica da precipitação nestes três meses e a condição de precipitação prevista, com base na análise de alguns desses modelos climáticos.

Previsão OND 2020
Normal climatológica da precipitação para os meses de outubro (A), novembro (B) e dezembro (C) para o RS

Figura 6) Normal climatológica da precipitação para os meses de outubro (A), novembro (B) e dezembro (C) para o RS (referente ao período 1981-2010). Os mapas (D), (E) e (F) representam se a precipitação ficará acima (verde), abaixo (laranja) ou dentro do normal (cinza), nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2020, respectivamente. Fonte de dados meteorológicos: INMET. Confecção e arte dos mapas: Jossana Ceolin Cera.

Em relação às temperaturas, como o Oceano Pacífico está em processo de resfriamento, há probabilidade de ocorrer frio tardio até outubro. Inclusive, há duas massas de ar frio previstas para chegar ao Estado até início de outubro, que farão as temperaturas mínimas ficarem em torno de 5 °C, principalmente na região da Campanha.

De modo geral, as temperaturas deverão ficar um pouco acima da média, principalmente em dezembro, com anomalias na temperatura máxima entre +1,2 e +2,0 °C na Metade Oeste do Estado.

Com relação à semeadura, o momento é de cautela, visto a possibilidade de redução das chuvas, mas ainda com riscos de precipitações volumosas até outubro. No caso do arroz, em que já se está no período recomendado de semeadura, a mesma deverá ser realizada assim que as condições de solo permitirem.

Já na soja em rotação com arroz, devido às áreas em que a cultura é colocada, ainda deve-se tomar cuidado com o mês de outubro, devido ao risco de chuva forte, que pode ocorrer em poucos dias, havendo assim, risco para alagamentos.

Dessa forma, o produtor deve ficar atento às previsões do tempo para, no máximo, 15 dias, para melhor manejar sua área, a fim de minimizar possíveis riscos à sua produção.

Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

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