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La Niña está enfraquecendo, mas ainda influencia as chuvas no RS

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1   Precip dez 2022

Condições meteorológicas ocorridas em dezembro de 2022 no Rio Grande do Sul (RS)

O mês de dezembro também foi de precipitações bem abaixo do esperado, com exceção apenas de áreas no extremo Nordeste do RS. O pior cenário foi na Zona Sul, onde os acumulados ficaram abaixo dos 25 mm (Figura 1 A). As anomalias de precipitação ficaram negativas na maioria das regiões (Figura 1 B). O impacto da deficiência hídrica é observado nas lavouras de milho e soja, em rotação, que não fazem uso da irrigação. Na cultura do arroz, em algumas regionais, já falta água para a manutenção da lâmina d’água.

Figura 1 (acima). Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, durante o mês de dezembro de 2022 no estado do Rio Grande do Sul em relação à Normal Climatológica (NC), relativa ao período 1991-2020. As escalas de cores mostram, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e valores negativos (laranja-vermelho) precipitação abaixo da NC. Fonte de dados: CPTEC/INMET. 

A frequência das precipitações foi novamente baixa em dezembro, com apenas dois ou três episódios de chuva durante todo o mês (Figura 2), dependendo da região. Na maior parte dos dias, as temperaturas, principalmente as máximas, ficaram acima dos valores da NC. Nas regiões da Fronteira Oeste, Campanha e Região Central isto ficou bem evidenciado (Figura 2).

2   prec e temp diárias DEZ 2022

Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de dezembro de 2022, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET.

 Sabe-se que, anos com influência da La Niña, tendem a ser mais secos, devido aos menores volumes de precipitação. Pesando nisso, calculou-se a evaporação da água, utilizando a Equação de Linacre (LINACRE et al. (1993). A evaporação é definida como o processo físico pelo qual um líquido, como a água, é transformado em estado gasoso, como vapor de água. Este processo é influenciado por outras variáveis meteorológicas, como a temperatura e a umidade relativa do ar, a ocorrência de ventos e a radiação solar.

Pelos mapas da Figura 3, observa-se que a evaporação observada em setembro de 2022 foi baixa, entre 90-120 mm, e praticamente dentro dos valores da NC, embora o acumulado de precipitação neste mês tenha sido abaixo da NC, com valores entre 60-90 mm. E, mesmo assim, os valores da evaporação foram maiores que os da precipitação ocorrida em setembro, ou seja, houve déficit de 30 mm.

Já quando se analisa o mês de dezembro de 2022, a evaporação já é bem maior, acima de 240 mm na Fronteira Oeste (abaixo da NC que é de 120-150 mm) e bem acima dos valores de precipitação ocorridos naquele mês, que ficaram em 30-60 mm. Ou seja, o déficit ficou em 210 mm na região (Figura 3).

A evaporação ocorrida em 2022 é bastante semelhante à observada no mesmo período de 2021, um agravante importante para a situação da forte estiagem que atinge o RS em mais uma safra agrícola. Aos se fazer uma análise provocativa, pense que: mesmo se tivesse chovido acumulados semelhantes ao da NC da região da Fronteira Oeste, que varia de 120-150 mm, haveria um déficit de 120 mm. Claro que, em uma situação em que as chuvas ocorrem, todas as variáveis meteorológicas utilizadas no cálculo da evaporação, seriam menos favoráveis aos altos valores de evaporação. Mas, mesmo assim, é algo a se levar em consideração quando se pensa em culturas de sequeiro.

FIG 3 evaporação

Figura 3. Comparativo entre a evaporação e a precipitação ocorridas em setembro, outubro, novembro e dezembro de 2022 no estado do Rio Grande do Sul, com suas respectivas Normais Climatológicas. Fonte: INMET.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño - Oscilação Sul) e perspectivas

A temperatura da água da superfície do Oceano Pacífico Equatorial continua mais fria que a média, desde meados de 2020, porém, vem apresentando sinais de enfraquecimento nas últimas semanas. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño3.4 baixou para -0,8 °C em dezembro e, para apenas -0,3 °C, na região Niño1+2 (Figura 4). A temperatura da água na região Niño1+2 possui grande correlação com a quantidade de chuvas no RS. Quando as anomalias de temperatura são negativas, a tendência é de que haja diminuição nas chuvas por aqui, tendo relação com as estiagens entre a primavera e o verão. Pode ser que agora, com as temperaturas das águas na região Niño1+2 mais próximas da normalidade, as precipitações venham a ocorrer com maior frequência no RS, comparada aos últimos meses. Outro fator importante e que as águas do Oceano Atlântico também aqueceram um pouco nos últimos meses. Estes dois fatores aliados podem favorecer as chuvas no RS nos próximos meses, mas, acredita-se que a regularidade nas precipitações ainda longe de ocorrer.

De um modo geral, em dezembro o sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com a atuação da La Niña. O relatório publicado pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), em 12 de janeiro de 2023, prevê com 73% de probabilidade, de a fase Neutra iniciar no trimestre Fev-Mar-Abr/2023. Porém, o padrão atmosférico (consistente com La Niña) se manteve, o que faz pensar que essa Neutralidade ainda pode demorar mais que o esperado para chegar. 

4   TSM dez 2022

Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar no mês de dezembro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE. 

Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico também se observa enfraquecimento do bolsão de águas com anomalias negativas de temperatura, principalmente no mês de janeiro de 2023. A velocidade deste enfraquecimento é o que ditará quanto tempo a La Niña ainda se fará presente no Oceano Pacífico (Figura 5).

5   Temp  Subsuperficial evolução 2023 dez

Figura 5. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de outubro/2022 a janeiro/2023. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

Previsão de precipitação no trimestre fevereiro, março e abril de 2023 no RS

Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê que as precipitações irão ficar dentro da NC na maior parte do RS. Já as previsões do modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA) indicam precipitações abaixo da NC nos meses de fevereiro e março e, acima da NC, em abril. Por sua vez, o modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê para os meses de fevereiro e março precipitações entre a NC e abaixo da NC no RS. Para abril, o INMET prevê que as precipitações fiquem abaixo da NC em todo o RS, principalmente no Oeste (Figura 6).

Analisando-se outros modelos, todos convergem para uma situação de precipitações com anomalias negativas para fevereiro e março, no RS. Para abril, divergem um pouco, mostrando chuvas dentro ou até acima da NC.

6   Prev Prec FMA 2023
 

Figura 6. Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para fevereiro, março e abril de 2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET. 

Levando-se em consideração a situação atual, de poucas chuvas, e os prognósticos, que seguem na mesma linha, o momento é de cautela, no que diz respeito à falta de água para a plena irrigação de lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro utilizadas em rotação, principalmente a soja.

A ocorrência de altas temperaturas em dezembro e janeiro também tem preocupado, pois agora é o momento de floração das lavouras de arroz, e também, de algumas lavouras de soja. Altas temperaturas levam à inviabilização do pólen e ao abortamento de flores, no arroz e na soja, respectivamente. A variável radiação solar é a única que vem favorecendo as lavouras no RS, pois tem se mantido com valores altos, acima da NC, nas situações em que não há limitação hídrica.

Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.

IRGA