Precipitação deve ficar abaixo da média no RS, pelo menos até dezembro
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Condições meteorológicas ocorridas em outubro de 2022 no RS
Outubro é o terceiro mês consecutivo, com precipitação abaixo da Normal Climatológica (NC), em algumas regiões da Metade Sul do RS. Os valores acumulados em outubro ficaram entre 50 e 100 mm, na maioria das regiões (Figura 1 A). Dessa forma, a anomalia de precipitação foi negativa em boa parte do Estado, com exceção de parte da Zona Sul e das Planícies Costeira Interna e Externa e do extremo Norte gaúcho (Figura 1 B).
Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, durante o mês de outubro de 2022 no RS em relação à Normal Climatológica (NC), relativa ao período 1991-2020. As escalas de cores mostram, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e valores negativos (laranja-vermelho) precipitação abaixo da NC. Fonte de dados: CPTEC/INMET.
A frequência das precipitações foi maior em outubro, se comparado a setembro, embora o volume, em alguns locais, tenha sido bem baixo (Figura 2). Outubro teve uma incursão de ar mais frio, que fez com que as temperaturas mínimas ficassem em torno dos 10 °C. E, no final do mês, as máximas passaram dos 30 °C. De maneira geral, as temperaturas máximas e mínimas oscilaram entre valores próximos à NC (Figura 2).
Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de outubro de 2022, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño - Oscilação Sul) e perspectivas
O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial continua. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 ficou em -0,9 °C em outubro, valor que está no limite da intensidade de fraca para moderada e, na região Niño 1+2, esteve em -1,8 °C, ou seja, com anomalia bem intensa(Figura 3). A anomalia, principalmente na região mais próxima à costa da América do Sul (Niño 1+2) intensificou-se de setembro para outubro. Esta região mostra grande correlação com as chuvas no RS. Quando as anomalias são negativas, a tendência é de que haja diminuição nas chuvas por aqui, tendo relação com as estiagens entre a primavera e o verão. De um modo geral, o sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com a atuação da La Niña em outubro, embora os ventos alísios tenham diminuído de intensidade, o que pode levar ao início do enfraquecimento da La Niña.
O relatório publicado pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), em 10 de novembro de 2022, prevê com 76% de probabilidade, a manutenção da La Niña no trimestre Dez/2022 e Jan-Fev/2023. Já a probabilidade do período Neutro iniciar é de 57% para o trimestre Fev-Mar-Abr/2023.
Este está sendo o terceiro evento consecutivo de La Niña e esta sequência é apenas a terceira vez que ocorre na história, nos últimos 72 anos, ou seja, não é rotineiro. Os impactos disso estão sendo observados na redução do volume de precipitações desde agosto e, também, nas temperaturas, que têm ficado abaixo da média durante alguns dias nesta primavera.
Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar no mês de outubro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico observa-se o grande bolsão de águas com anomalias negativas, entre os meses de agosto e novembro de 2022. A consistência deste resfriamento dará sustentação ao resfriamento em superfície para, ao menos, até o final deste ano (Figura 4).
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de agosto a novembro de 2022. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Previsão de precipitação no trimestre dezembro/2022 e janeiro-fevereiro/2023 no RS
Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê, com 50% de probabilidade, que as precipitações irão ficar abaixo da NC no RS. As previsões do modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA) indicam precipitações abaixo da NC nos meses de dezembro e fevereiro e, para janeiro, dentro da NC. O modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) segue na mesma linha do modelo CFSv2, prevendo precipitações abaixo da NC para dezembro e fevereiro e dentro, ou até acima da NC, para o mês de janeiro de 2023 (Figura 5).
Figura 5. Precipitação total (mm) e anomalia de precipitação (mm) prevista para dezembro/2022 e janeiro-fevereiro/2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET.
Com relação à temperatura do ar, a previsão do modelo do INMET é que deverá ficar dentro da NC no trimestre. No entanto, devido à La Niña, incursões de ar mais frio ainda podem chegar ao Estado.
Segundo os dados levantados pelos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (NATE) do IRGA, divulgados em 17 de novembro de 2022, 96,5% das lavouras de arroz já foram semeadas na Metade Sul do RS. No entanto, a falta de precipitações regulares prejudicou o estabelecimento de algumas lavouras, nas seis regionais do IRGA. Aliado a isso, a ocorrência do frio no período atrasou o desenvolvimento das plântulas. Houve relatos, inclusive, de morte de plantas por conta do frio.
Para a soja, que é a principal cultura de sequeiro cultivada em rotação com arroz irrigado, a época ideal de semeadura é no mês de novembro. Para garantir a emergência adequada das plantas, é importante que se tenha umidade suficiente no solo.
Os níveis dos reservatórios, de maneira geral, ainda não trazem preocupação, com exceção de algumas regiões da Fronteira Oeste, onde tem chovido em menores volumes. Já há preocupação com os rios e arroios, na Metade Sul do RS, pois necessitam de regularidade nas precipitações para se manterem em nível adequado. Vale ressaltar que agora inicia o período de maior demanda por água, para a irrigação das lavouras de arroz.
Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação, também se faz necessário o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.