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Precipitação perto da média climatológica no próximo trimestre

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Chuva
O INMET prevê chuvas acima da média em setembro - Foto: Pixabay
Por JOSSANA CEOLIN CERA

Condições meteorológicas ocorridas em junho de 2021

O mês de junho de 2021 teve maior volume de precipitação (chuva), com valores que superaram os 200 milímetros em áreas do Nordeste, Norte e Centro do Rio Grande do Sul (Figura 1A). Já em boa parte da Zona Sul, o volume de precipitação ficou inferior aos 125mm. Mas, de modo geral, junho teve anomalias positivas de precipitação na maior parte do Estado, com exceção das áreas que englobam a Zona Sul e as Planícies Costeira Interna e Externa (Figura 1B). Junho teve, basicamente, dois episódios de chuva, um mais no início e outro no final do mês (Figura 2).

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Mapa da precipitação acumulada e da anomalia da precipitação durante junho de 2021 no RS

Figura 1. Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante junho de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam em milímetros o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), em que valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET.

Junho é um mês de inverno e, com isso, as baixas temperaturas são mais comuns de ocorrer. Em 2021, ainda houve período de maiores temperaturas, logo no início do mês e, após, elas declinaram gradativamente, chegando à primeira onda de frio intenso do ano, no dia 15/6 (Figura 2). Nesta data, houve ocorrência de geada em alguns municípios.

Na média geral de junho, a temperatura mínima ficou abaixo do normal na Fronteira Oeste e dentro do normal nas demais regiões do Estado. Já a máxima ficou abaixo do normal em toda a Metade Oeste do RS e dentro do normal nas demais regiões.

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Temperaturas máxima e mínima diárias, suas respectivas normais climatológicas e precipitação pluvial diária em junho de 2021

Figura 2. Temperatura máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC, linhas pontilhadas), relativas ao período 1981-2010, e precipitação pluvial diária (mm) referentes a junho de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam as seis regiões arrozeiras do RS. Observação: Devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna ficou sem representante. Fonte de dados: INMET.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

As condições Neutras do ENOS (El Niño-Oscilação Sul) continuaram predominando durante junho de 2021, segundo o relatório da NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center), divulgado no dia 8 de julho de 2021.

Com o Oceano Pacífico Equatorial em Neutralidade, outras oscilações, de menor magnitude, irão comandar o regime de chuvas, ou seja, deverá haver maior variabilidade nas precipitações, com períodos mais secos intercalados com períodos mais chuvosos. E, nessas variações, poderá ocorrer de um mês ter mais chuva que o outro. A Temperatura da Superfície do Mar, na região Niño3.4, esteve com valores dentro do normal em junho de 2021 (Figura 3). Já a região Niño1+2 teve pequena área com anomalia positiva, o que pode ter favorecido a entrada das duas frentes frias que ocasionaram chuva no RS.

As águas no Oceano Atlântico Sul continuaram com anomalias positivas da temperatura em junho, porém em uma área que não abrange toda a costa do RS.

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Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em junho de 2021

Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em junho de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

A evolução temporal da anomalia da temperatura das águas subsuperficiais (Figura 4) mostra que a bolha de água com temperaturas acima do normal perdeu bastante força nos dois últimos meses. Com isso, descarta-se a possibilidade do surgimento de um evento El Niño.

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Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade

Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m). Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.

Previsão de precipitação no trimestre agosto, setembro e outubro de 2021

A previsão de consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) diz que a fase Neutra se mantém no trimestre Jul-Ago-Set com 64% de probabilidade e, no trimestre Ago-Set-Out, com 51%. Os meteorologistas da NOAA (Centro de Previsão do Clima) emitiram o La Niña Watch, que significa um estado de alerta para a La Niña. Segundo a previsão dos modelos, um novo episódio de La Niña pode emergir entre setembro e novembro, persistindo até o verão (janeiro de 2022). Ou seja, seria uma La Niña de curta duração e fraca intensidade. Mas ainda não tem nada definido.

Com relação às precipitações, o IRI prevê que o trimestre Ago-Set-Out tem maior probabilidade de as chuvas ficarem abaixo do normal no RS. Já o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) continua prevendo que as chuvas serão abaixo da média em agosto, setembro e outubro. O INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que as precipitações fiquem dentro do normal em agosto, com os volumes totais variando de 100 a 130mm, na maior parte das regiões (Figura 5). Para setembro, o INMET prevê chuvas acima da média, entre +10 e +50 mm, na maior parte da Metade Sul do Estado. Nas demais regiões, as precipitações deverão ficar dentro do normal. Porém, pelo mapa da precipitação total prevista, os maiores valores acumulados devem ocorrer na região Central do RS, entre 160 e 200mm. Já as demais áreas da Metade Sul devem ficar com precipitação abaixo dos 160mm. Por fim, em outubro, o INMET prevê precipitações dentro da normalidade na Metade Sul, de um modo geral. Os acumulados previstos, no entanto, variam de 160 a 200mm em parte das regiões como a Fronteira Oeste, a Campanha e a Região Central. Os menores volumes acumulados devem ocorrer na Faixa Leste do RS.

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Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista, para agosto, setembro e outubro de 2021 no RS

Figura 5. Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para agosto, setembro e outubro de 2021 no RS. Fonte: adaptado de INMET.

No geral, com base em todos os prognósticos, a tendência é de que não haverá precipitações acima ou muito acima da média, para os próximos três meses. Com isso, ressalta-se a importância de economizar água para a próxima safra de grãos (primavera-verão), embora o nível dos reservatórios tenha melhorado um pouco em relação ao mês passado.

Situação atual da capacidade dos reservatórios (valores aproximados) nas seis regionais do Irga até 15/7

  • Fronteira Oeste: com 60% da capacidade.
  • Campanha: com 60% da capacidade.
  • Região Central: com 60% da capacidade.
  • Planície Costeira Interna: com 60-65% da capacidade. E reservatório da AUD com 36%.
  • Planície Costeira Externa: com 70% da capacidade.
  • Zona Sul: mesma situação do mês anterior, reservatórios com nível abaixo do ideal.

Com relação às temperaturas, o INMET prevê que agosto seja dentro do normal. Já em setembro, há previsão de anomalias positivas na temperatura e, em outubro, anomalias negativas. Como teve uma La Niña recentemente, poderá haver frio tardio em setembro. Mas antes disso, em agosto ainda poderão ocorrer entrada de massas de ar de origem polar no RS, que serão intercaladas com períodos de temperaturas mais elevadas.

Recomendação: até o início da semeadura de arroz e de soja da próxima safra (2021/2022), o produtor deve aproveitar os períodos de tempo seco para a realização das operações de preparo de solo, se ainda não o fez. Essa antecipação é importante, para não haver atraso nas semeaduras destas culturas. As operações relacionadas à melhoria da drenagem da área, que inclui também a limpeza de drenos já existentes, devem ser realizadas.

Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

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